sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

No Nordeste, caatinga sofre processo de desertificação

Na caatinga, a terra parece destruída. É imagem típica de lugar onde chove pouco, mas tem muita vida. (REPORTAGEM DO BOM DIA BRASIL)
O mandacaru carregado de frutos, os gravetos que dão lugar ao verde exuberante. A cada período de chuva o conhecido cenário da seca no Nordeste revela a riqueza da vida na caatinga. "Dentre as áreas semi-áridas do mundo é a mais rica em plantas, em animais, em diversidade", comenta Rodrigo Castro, da Associação Caatinga. A caatinga ocupa 10% do território nacional. Espalha-se por quase todos os estados do Nordeste e pelo norte de Minas Gerais. Neste bioma de solo seco, pedregoso e de arbustos que perdem as folhas nos meses de seca, vivem mais de 20 milhões de brasileiros, 995 espécies animais e outras mil vegetais, 40% delas só encontradas aqui. "É uma área que é vista como muito pobre, mas, na verdade, ela tem muita riqueza", diz Rodrigo Castro. Riqueza ameaçada pelo mau uso da terra. O terreno do agricultor Francisco Nogueira Neto sofre as consequências do desmatamento e das queimadas que costumam ser feitas para preparar o solo em época de plantio: “Cada vez destruiu mais, porque queimou o pouquinho que tinha de matéria orgânica. Não serve para nada". A Fundação Cearense de Recursos Hídricos comprovou, com imagens de satélites, que 10% da área da caatinga no estado, equivalentes a mais de 15 mil quilômetros quadrados, estão em processo de desertificação. A terra não produz mais nada. Mas, há projetos para recuperá-la. "Você vai em uma parte mais florestada, você recolhe todo esse resto de folha que tem no chão e vai tentar jogar aqui em cima, porque a gente vê aqui como se o solo já não tivesse mais vida e, na hora que você traz vida de outro ambiente e joga aqui dentro, a tendência dela é criar vida também", explica a engenheira agrônoma Sônia Barreto de Oliveira. As mesmas rochas que tornam o solo da caatinga raso e sem capacidade de absorver a chuva podem ser usadas como solução para acumular água e para evitar a degradação das áreas de plantio.
Com as pedras são feitas barreiras para reter a água da chuva. Isso impede que ela escorra pelo terreno levando embora a matéria orgânica e provocando erosão. É o que o agricultor Napoleão Silva vem fazendo. Ele mesmo instala as barreiras. Aprendeu a medir a distância necessária entre elas e a cuidar bem desta terra: "Você repara que a gente estando no meio do sol sem uma camisa; a proteção nossa é a camisa. a terra, se o cabra deixar a terra nua, ela vai se acabar". Mas, com medidas simples como esta, vai continuar oferecendo o sustento e mantendo a vida do sertão. "Graças a Deus, nos anos que vem correndo bem, o sustento a gente tira. A terra é boa", conta o agricultor Benigno Sobrera Batista.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

UMA IGREJA DÚBIA


Já é a segunda vez que sai no site da Catedral de Campina Grande artigos de alto teor discriminatório e que revela a face de uma Igreja cada vez mais preconceituosa e hipócrita. O artigo do então arcebispo de João Pessoa-PB, aquele mesmo que apareceu nos programas eleitorais do então governador cassado, depois trabalhou nos bastidores para eleger seus amigos (há quem diga que a sua arquidiocese recebeu uma gorda doação), escreve uma matéria sob o título: Homofobia.
Todos nós sabemos a posição da Igreja em defesa do casamento hétero, mesmo quando não permite o casamento de padres. Todos sabemos também da sua defesa da vida, posições relevantes contra o aborto e outros crimes, luta esta mais que justa. Mas sabemos também que no decorrer da história não foi sempre assim. A Igreja que se diz santa, a única representante de Cristo na Terra, matou, perseguiu e prendeu aqueles que pensassem diferente dela. Ainda hoje as atitudes da Igreja Católica estão longe de ser a de uma instituição que se diz a única expressão do Reino de Deus, pois esta procura de todas as formas discriminar os casais homossexuais, não defendendo os seus direitos, já que também estes pagam seus impostos, constroem uma vida juntos, enfim, são pessoas que também vivem no amor e que apenas reivindicam um mínimo de respeito e de igualdade.
Porque a Igreja, neste caso o senhor arcebispo de João Pessoa não escreve um artigo explicando o seu pacto com os poderosos da política e da sociedade? Por que não vem explicar a público o grande número de padres pedófilos e também homossexuais? Por que ao invés defender apenas a instituição familiar hétero, não vem destacar os grandes benefícios que pessoas homossexuais deram e dão à sociedade? O fato é que a atitudes de pessoas como estas revelam a dubiedade da Igreja, pois conhecemos fatos que desgastam a imagem daquela que tem mais de 2000 anos de história, entre trevas e luzes.
O povo não é mais besta. As ovelhas conhecem seus pastores e sabem distingui-los dos lobos ferozes e dissimulados. Falta apenas coragem para falar e limpar os porões empapados de sujeiras e de hipocrisia.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

ESTADOS UNIDOS E CHINA : ACORDO PARA COMBATER O EFEITO ESTUFA

EUA e China anunciam medidas para combater o efeito estufa
A reação mundial ao fracasso anunciado em Copenhague provocou uma mudança de atitude - ou seria de discurso?
ROBERTO KOVALICK Tóquio
Quando os dois se encontram, o mundo presta atenção. De um lado, o líder da maior potência do mundo, do outro, o da que cresce de forma mais rápida. O encontro entre Barack Obama e o presidente chinês, Hu Jintao, durou duas horas e meia. Prometeram cooperação para resolver alguns dos problemas mais urgentes que atingem o planeta, mas a linguagem vaga e diplomática das declarações mostrou que ainda há muitos pontos para acertar. Os dois concordaram em retomar o diálogo sobre direitos humanos na China, mas Hu Jintao lembrou que eles devem conversar como iguais, sem nenhum tipo de imposição. Jintao também criticou o protecionismo econômico, uma mensagem direta aos americanos que impuseram restrições a alguns produtos chineses. Em relação à Coreia do Norte, os dois disseram que vão trabalhar juntos para conter as ambições nucleares da ditadura de Kim Jong Il. O acordo cria esperanças de que o mundo chegue a um acordo para combater as mudanças climáticas. No último fim de semana - durante reunião dos países do pacífico – China e Estados Unidos se recusaram a estabelecer limites para emissão de gases. Isso deixaria sem muito efeito prático qualquer resolução adotada no encontro mundial sobre clima, em Copenhague, na Dinamarca, no mês que vem. Agora os dois líderes parecem ter mudado um pouco de ideia. Os dois não foram muito claros sobre o que pretendem fazer, mas Obama disse que o objetivo em Copenhague não é um acordo parcial ou uma declaração política, mas um acordo que cubra todos os problemas e negociações. E tenha efeito imediato. China e Estados Unidos emitem 40% dos gases que causam o efeito estufa. Durante os encontros com os líderes chineses, o presidente Barack Obama encontrou tempo para um pouco de turismo. Visitou um dos marcos da capital chinesa, a cidade proibida.

ACORDO AMBIENTAL - MIRIAM LEITÃO

Miriam Leitão: Mundo não pode mais esperar por acordo ambiental

O presidente Obama pode ter começado a mudar o discurso em relação à reunião sobre o clima, após a grita geral. Pegou mal para ele. O mundo não pode esperar mais um ano, até porque, na reunião do ano passado, o mundo resolveu dar mais um ano aos Estados Unidos, que aliás já estavam dez anos atrasados, porque Barack Obama estava assumindo e disse que lideraria o mundo para chegar a um acordo. Agora, pede mais um ano? Ano que vem, a situação dele será pior. As eleições de meio de mandato já terão passado e Obama pode perder o controle das duas casas, como tem hoje. O presidente Lula tem razão de cobrar uma posição firme de China e Estados Unidos. Ele está com moral, porque o Brasil vai a Copenhague com uma meta oficial, mesmo que não seja obrigado a isso. Isso significa uma mudança radical na posição brasileira, que dizia não ter obrigação ou compromisso. A conta é a seguinte: o Brasil projetou o que vai aumentar de emissão de gases de efeito estufa até 2020. Falou que vai reduzir nessa trajetória. O que a Europa está fazendo é reduzir em relação aos níveis de 1990. É mais ou menos assim: duas pessoas estão engordando. Uma diz o seguinte: vou emagrecer – recuar o que eu era antes e diminuir um pouco. O outro (no caso, o Brasil) diz: vou chegar a tantos quilos em 2020. Quero reduzir o que eu engordaria. Ou seja, o Brasil está cortando no crescimento de emissão futura. Europa e Japão cortam em relação ao passado. O governo de São Paulo também está cortando em relação a 2005, assim como a proposta dos Estados Unidos. Outra coisa é que o Brasil denunciou, desde o primeiro momento dessa conversa entre os dois maiores sujões do planeta, que isso é uma espécie de G2. Os dois se reúnem para dizer que vão colocar água no chope de Copenhague. O Brasil está certo, inclusive o presidente Lula disse que ia ligar para EUA e China depois de combinar com o primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown, e com o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

sábado, 12 de setembro de 2009

PARAIBANO PERDE MAIS DE 15 ANOS DA VIDA POR CAUSA DE VIOLENCIA E SAÚDE

Por André Gomes

A violência e outros fatores sociais e de saúde diminuíram os anos de vida dos paraibanos em 15,4 anos para os homens e 10,3 anos para as mulheres quando a expectativa de vida no estado é de 70 anos, o que representa uma diferença de 5,1 anos entre os dois sexos. Apesar do dado, houve uma redução nos anos de vida perdidos, num período de nove anos, entre os anos de 1996 e 2005. No ano de 1996 o número de anos perdidos chegava a 17,8 entre os homens e 13,5 entre as mulheres. Entre os estados nordestinos, a Paraíba fica atrás apenas do estado de Alagoas com 19,6 em 1996 e 17,2 em 2005.
Segundo dados da pesquisa, a violência ainda é o maior causador da diminuição do número de anos de vida no Estado com um percentual de 3,5% do total da população. Outros fatores como doenças infectocontagiosas e parasitárias representam 1,8%, aparelho circulatório com 1,8% e mal formações congênitas com 0,2%. O excesso de mortes afetam, principalmente, as regiões e setores sociais mais desfavorecidos, mas que podem se evitadas, via ampliação de programas de atenção básica preventiva na área de saúde pública, maior oferta de saúde e universalização dos serviços de saneamento básico.

fonte: JORNAL DA PARAÍBA (03 / 09 / 2009)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

POR UMA GEOGRAFIA CULTURAL
*Eraldo Amorim
A ciência geográfica realmente tem evoluído. Esta afirmação anos atrás poderia não ser aceita, refutada ou até mesmo ser impossível. Mas é um fato não apenas para a Geografia como também para todos os ramos do conhecimento, sendo muito difundida a integração entre eles. Hoje podemos conceber a Geografia como a ciência que estuda não apenas a Terra com suas características físicas, mas acima de tudo a ação do homem no espaço, marcada pelo progresso, construção, destruição, e impulsionada por suas mais variadas expectativas, transcorrendo pelo âmbito social, político e econômico.
De fato, a Geografia Cultural, ou Geografia da Cultura, tem dado passos significativos no Brasil, precisando ainda evoluir e ser bem aceita pelos pesquisadores desta área. Estudando os costumes da época de um determinado povo, sua cultura e meio ambiente, podemos compreender a transformação do espaço, além de enriquecer a ciência geográfica, valorizando-a, sem desvirtuá-la do seu papel primordial. Aliados às outras ciências humanas como a Sociologia, Antropologia Cultural, História, Psicologia e Filosofia, os geógrafos adeptos da Geografia Cultural podem formular conceitos, ampliar o conhecimento sobre a humanidade e, consequentemente, sobre o espaço habitado e transformado pela sociedade de qualquer época e região na história.
Negar ou esconder a influência das Religiões, por exemplo, no processo de mudança e posse do espaço, é, no mínimo, subestimar este aspecto tão presente e marcante nas mais diversas sociedades, sejam elas antigas ou contemporâneas. O fato é que as Religiões nunca irão desaparecer do planeta, pois podemos comprovar que quanto mais os meios técnico-científicos evoluem, mais a visão religiosa se faz presente no inconsciente coletivo, afetando e transformando o espaço habitado. As Religiões estão em constantes mudanças, ampliando e atuando em outros territórios. Os efeitos dos seus dogmas e liturgias fazem do homem um ser capaz de atuar de forma individual ou coletiva, tendo assim, concepções do Sagrado, atuando em determinado espaço, ora profano, ora divino. Como tão bem nos afirma Zeni Rosendahl, professor Adjunto da UERJ (1997): “(...) É por meio dos símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade. É o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que possibilita ao homem entrar em contato com a realidade transcendente chamada de “deuses” nas religiões politeístas e “Deus” nas monoteístas”.
No espaço sagrado também o tempo é sagrado. Em virtude de algumas datas marcantes e comemorativas muitas cidades espalhadas pelo mundo tornam-se por um determinado tempo um lugar atrativo, promovendo o desenvolvimento do turismo religioso. Aqui no Brasil esse deslocamento de pessoas com este fim é chamado de romarias, tendo em vista a romanização vivenciada no século XIX. Em alguns lugares, ou locais específicos em sua volta, é fácil detectar certos aspectos políticos e econômicos atuando conjuntamente. Assim acontece em cidades tais como: Juazeiro do Norte-CE (Juazeiro do Padre Cícero), Canindé-CE, Aparecida-SP, Belém do Pará (Festa do Círio de Nazaré), Mossoró (Festa de Santa Luzia) e outras, onde a religião popular demonstra a sua capacidade de atuação e transformação do espaço. Meca, Jerusalém, Roma, Fátima, Lourdes, Pádua, Assis, além do Rio Ganges para os hindus, são alguns outros exemplos de Hierópolis (lugares urbanos sagrados), que só nos ajudam a compreender a Geografia Cultural como uma área cientifica importante e que deve ser cada vez mais reconhecida. “A geografia cultural é, em primeiro lugar e sempre, geográfica. Trata essencialmente da superfície terrestre, empregando métodos usados por todos os geógrafos. De fato, o geográfico que somente estuda áreas culturais, paisagens culturais ou ecologia cultural pode se denominar adequadamente de geógrafo cultural, mesmo que desdenhe temas conectados, pois o seu objeto é a superfície terrestre sob a influência da cultura” (Philip L. Wagner e Marvin W. Mikesell, 1962).
Entretanto, não somente as religiões atuam no espaço com seus templos, liturgias e devoções. São inúmeros os aspectos da vida social que transformam e se engajam no território geográfico cultural. Eventos esportivos e musicais, festas populares, feiras livres e outras manifestações culturais permanentes ou periódicas, também afetam o espaço geográfico com todas as suas complexidades, conflitos e adaptações. Estudar Geografia Cultural é levar em consideração que a Cultura é um elemento indispensável na construção do espaço, observando a sua dinamicidade e incorporação de outros elementos, tais como: políticos e econômicos.
Podemos concluir afirmando que ao estudarmos a Geografia, numa perspectiva Cultural, não estamos reduzindo-a ou igualando-a a outras ciências humanas, mas agregando valores importantes ao defendermos sua integração com outros ramos científicos. Ou seja, estudando melhor a Geografia sob o aspecto Cultural estaremos entendendo que o espaço em que habitamos é constituído por diversos fatores que se relacionam entre si.
Campina Grande, 17 de Agosto de 2009.
* Professor de Geografia.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O USO DE SACOLAS PLÁTICAS


*Eraldo Amorim

Em tempo de urbanização, do consumo de produtos industrializados e do aumento desordenado dos resíduos sólidos, dentre outros desajustes ambientais, é muito importante colocar em discussão o uso de sacolas plásticas. Em tempos em muitos longínquos, nós íamos ao supermercado, à panificadora, ao açougue, à farmácia ou em qualquer estabelecimento comercial, e a embalagem era confeccionado com papel. No caso da panificadora, a maioria das donas de casa possuía “a sacola do pão”. Nunca ouvimos noticias de que alguém teria se infectado ou morrido ao ingerir alimentos transportados ou embrulhados em papel.
O fato é que, o costume da sacola de plástico nos foi imposto pelas grandes indústrias e redes de supermercados. Fato este que também foi absolvido pelas pequenas e médias empresas. O resultado está ai, o lixo inorgânico (aquele que não se deteriora facilmente na natureza) boa parte é composto por sacolas plásticas, aquelas que demoram mais ou menos 100 anos para se decompor.
Na Paraíba, felizmente, o consumo dessas sacolas tendem a diminuir. É que foram assinadas duas leis (8.855/2009 e 8.856/2009) que obrigam aos donos de estabelecimentos comerciais a substituírem as sacolas de plásticos comuns de polietileno, polipropileno e similares por sacolas reutilizáveis ou por embalagens biodegradáveis. As empresas terão três anos para se adaptarem. Mas estas leis não seriam necessárias se a população, se todos os cidadãos de boa vontade, começassem a mudar os hábitos de consumo e que também procurassem a cultivar antigos métodos de transporte das mercadorias compradas. Constata-se que a maior dificuldade destas leis está em fazer que o consumidor exija as sacolas biodegradáveis, ou seja, que ele tome consciência da importância destas para o Meio Ambiente. Mas isto, reconheçamos, levará um bom tempo. É que as tais sacolas plásticas são mais confortáveis e pertinentes, mesmo causando grandes prejuízos para o Meio Ambiente. O impacto ambiental é incalculável.
Ao comprar um comprimido numa farmácia, o atendente vai logo puxando uma sacolinha para assim agradar ao cliente. Outra vez, em um supermercado, ao comprar um simples estojo de barbear, se utiliza uma sacola que caberia uma cesta básica. Atos desta maneira precisa mudar. São pequenas atitudes que a Natureza agradece. Mas infelizmente no Brasil tudo que se diz respeito ao Meio Ambiente, precisa-se criar leis, punir. A cultura do “vamos gastar por que amanhã tem mais” impera no mundo globalizado e sem consciência ecológica.
A lei vem tarde demais para ajudar a diminuir o desastre ecológico gerado por um consumo irresponsável de sacolas plásticas. Na realidade, em nosso país, não existe uma política voltada para a educação ambiental, que pense em mecanismos de defesa do Meio Ambiente e na reciclagem. Somos um dos países mais consumista do mundo, porém, um dos piores no recolhimento e reaproveitamento (reciclagem) do lixo. Esta malesa precisa mudar. As prefeituras e os governos estatuais precisam criar aterros sanitários, e incentivar cooperativas e indústrias que trabalham com produtos recicláveis. As indústrias e as grandes empresas não podem continuar faturando sem terem responsabilidades para com os resíduos sólidos que elas mesmas criam e incentivam.
Mudemos, portanto, a nossa forma de consumir. Tomemos consciência do grande prejuízo que não apenas as sacolas plásticas causam ao planeta, mas sim todos os nossos atos de consumo exagerado, sem pensar nas gerações futuras.
Campina Grande, 06 de Julho de 2009.
* Teólogo , Geógrafo e Professor.

terça-feira, 30 de junho de 2009

FÁBIO DE MELO

* Eraldo Amorim
Vez por outra ele está em algum programa de televisão, cantando, dando conselhos, contando histórias, aumentando assim cada vez que aparece o número de fãs, admiradores, ou de futuros leitores dos seus livros. Livros estes de conteúdo de auto ajuda, misturado com versículos bíblicos. Ele está na mídia, seus shows atraem milhares de pessoas. Estamos nos referindo ao Padre Fábio de Melo, ex-religioso da congregação do Sagrado Coração de Jesus e que hoje faz parte da diocese de Taubaté-SP.
Não vamos aqui precipitadamente levantar julgamento sobre este jovem padre artista, esta não é a nossa intenção, mesmo porque dele mesmo não sabemos quase nada, mas da sua atuação no meio televisivo podemos pensar algo e tirar algumas conclusões.
Todos os cristãos batizados têm a missão de ser missionário de Jesus no mundo, este é o dever que nos atinge. Mais ainda tem esta missão um padre, homem consagrado a levar a fé e a doutrina onde estiver e onde for chamado a fazê-lo, principalmente aos pobres e necessitados. Todo padre que se preze tem que celebrar missa, abraçar os votos de obediência e castidade; e no caso de um religioso fazer o voto de pobreza, continuando assim, a missão que Jesus Cristo começou. Com certeza foi assim a formação do Pe. Fábio, passada pelos seus superiores e formadores, e é assim também a sua vida de comunhão eclesiástica.
É inegável a contribuição que o Pe. Fábio tem dado à Igreja católica brasileira, em tempos de evasão, crescimento das mais diversas tendências protestantes neopentecostais e da modernidade secularizada, que cultua uma religião sem compromisso e superficial, baseada numa espiritualidade voltada para o individualismo. Ele faz sucesso por falar a linguagem do momento, por falar àqueles que estão sofrendo na solidão, desamparados, carentes em todos os sentidos e que por viverem numa sociedade cada vez mais mecanizada não se realizam enquanto pessoas, não encontram a felicidade, e que em muitos casos não possuem uma fé madura suficiente.
Fábio de Melo age muito mais como um psicólogo de plantão do que como padre. Sua imagem e suas palavras confortadoras acalentam as mentes, além de ser um ótimo negócio para a indústria religiosa áudio-visual. Seus livros vendem como água, suas canções embalam todos os corações e atingem até os de outras denominações religiosas.
Mas diante disto tudo vale nos questionar: que Jesus este padre anuncia? Suas intenções podem ser as melhores possíveis, mas suas canções são burguesas, os seus livros estão longe de atingir as camadas mais populares, tanto pelo preço quanto pela linguagem. Portanto, o Jesus anunciado por ele estaria muito distante do Jesus Nazareno anunciado pelos evangelistas. Não seria o Jesus dos Shoppings Centers, das academias e das roupas de grife? A propósito, se suas canções fossem contrárias ao consumo e não esbanjassem tanto teor emotivo, estaria ele em programas de entretenimento, desses sem conteúdos, em tardes de domingo?
Bem que os tempos são outros e os meios de comunicação e a tecnologia propagaram cada vez mais concepções diversas sobre a realidade “Jesus de Nazaré”. Cada qual o cria ao seu modo, e retira dele o que mais incomoda e atrapalha. Mas o seu Testamento é permanente, não muda nunca, é eterno. Os métodos de evangelização podem avançar, mas o conteúdo (Jesus de Nazaré e o seu projeto) não poderá ser alterado. Tudo passa: a fama, o dinheiro, os shows, as músicas e as emoções; mas Jesus permanece.
Fábio de Melo é especialista em falar e tocar na sensibilidade das pessoas, mas não é capaz de fazer com que a proposta de Jesus e o compromisso com o seu projeto evangélico mudem a estrutura social em que vivemos. Ele é humano, tanto como nós, não é Deus, mas apenas o portador de sua mensagem, sujeito a erros e enganos assim como qualquer cidadão. Isto é o que os seus milhares de fãs precisam compreender.
O que deve nos preocupar ainda mais é que se comece a pensar que o seu jeito de orar, de cantar e de exercer a espiritualidade, seja a única forma eficaz de encontrar a Deus. Que este modelo é o único na Igreja Católica e fora dela. Devemos assim ficar atentos e não falar só com o coração mas aprender a desenvolver uma espiritualidade que caminhe junto com a realidade. Um olho no céu e outro na terra. A missão para ser verdadeira não deverá fazer pacto com nenhuma gravadora, editora de livros ou com audiência de programas de televisão, mas apenas com Jesus e com o seu projeto de vida, sem distinção de cor, classe social ou conhecimento intelectual.

Campina Grande, 30 de junho de 2009.

É PERIGOSO SER JOVEM NO BRASIL

Por Martha San Juan França
Homens com idade entre 15 e 24 anos são as grandes vítimas de morte violenta no país. Os especialistas dizem que a principal causa é a desigualdade econômica e social. Os jovens brasileiros estão morrendo cedo demais – e de maneira violenta. Pesquisas divulgadas nos últimos meses demonstram que a proporção de morte por homicídio e acidente de trânsito, as causas externas, é altíssima entre os jovens, uma das maiores da América Latina. Os índices de violência, de modo geral, são elevados em todo o continente – quatro vezes maior do que a média anual. Pior: as maiores vítimas de morte violenta são os jovens com idade entre 15 e 24 anos. No Brasil, a porcentagem de mortes por assassinato nessa faixa etária é 170% maior do que a de qualquer outra faixa etária. A probabilidade de um jovem brasileiro ser vitima de homicídio é 30 vezes maior que a de um jovem europeu e 70 vezes maior que a de um morador da Inglaterra, da Áustria ou do Japão.
Para especialistas, são vários os fatores que contribuem para esse triste recorde. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a violência no Brasil é preocupante independentemente da idade das vítimas. Em três regiões do país – Norte, Centro-Oeste e Nordeste – a violência constitui a segunda maior causa de morte. No Sudeste e no Sul, ocupa o terceiro lugar. O maior risco é dos homens (adolescentes e adultos jovens), negros e residentes em grandes centros urbanos (...) os problemas de segurança pública têm relação com fatores e mudanças estruturais complexos que ocorreram no médio e no longo prazos na sociedade brasileira e devem ser levados em consideração na hora de estabelecer os programas destinados a combater a violência. Entre eles, falta de moradia, crescimento de favelas, precariedade dos serviços, somados à violência doméstica, frequentemente associada ao consumo de drogas e à desagregação familiar.
Um contingente significativo de jovens, geralmente pobres e moradores das periferias das grandes cidades, integra-se apenas parcialmente à sociedade. Estão longe de conseguir condições de vida adequadas e o aumento de renda, embora tenham crescido expostos às mesmas tentações da cultura de massa e imposições do consumo que outros jovens que se encontram no extremo oposto da pirâmide social. O resultado é uma combinação perversa: mais expectativas aliadas expectativas aliadas a menores condições de alcançar os objetivos constituem o pano de fundo da decepção do jovem. A válvula de escape para essa frustração é facilmente manipulada em direção à marginalidade e ao crime. Jovens que não conseguem espaço no mercado formal são aliciados pelos que comandam o tráfico. A possibilidade de ter um rendimento maior que o obtido com um trabalho formal funciona como um estimulo à entrada no mundo do crime. Frequentemente, a atividade é curta, interrompida pela morte ou pela prisão. O tráfico de drogas tem outro aspecto bastante difícil: a corrupção de parte dos policiais, que amplia a impunidade em todos os níveis.

FONTE: REVISTA ATUALIDADES, 1º Semestre de 2009.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

DOSSIE AGUA - III

DOSSIÊ ÁGUA – PARTE III
Por Thereza Venturoli

Muitos rios, acesso desigual. O Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Mas falta muito para que toda a população tenha acesso à água limpa e a tratamento de esgoto. A acelerada urbanização, que colocou em 2008 mais da metade da população mundial em centros urbanos, faz com que aumente cada vez mais o volume retirado dos rios para abastecer residências e indústrias. Além de sobrecarregar as reservas, as populações das cidades estão sujeitas a consumir água de baixa qualidade, potencial responsável por doenças como cólera e diarréia. A parcela da população total que tem acesso à água limpa caiu de 84% para pouco mais de 70%, no mesmo período. Na Nigéria, a situação é ainda pior: a taxa de urbanização passou de 34% para 48%, mas o acesso à água de qualidade caiu de 80% para 68%. Isso por que as pessoas, ao saírem da zona rural, perderam acesso à água limpa, que não encontraram na cidade.
Com grande numero de rios e abundância de chuvas, o Brasil detém cerca de 13% de toda a água superficial do planeta. Mas toda essa água não é distribuída de maneira equilibrada: falta água na região do semiárido e nas grandes capitais do Sudeste. Cerca de 70% das reservas brasileiras estão na região Norte, onde vivem menos de 10% da população. 83% da população vive em cidades. Segundo o IBGE, 92,6% dessa população urbana é atendida por rede geral de abastecimento de água. É uma taxa alta, se comparada à da zona rural, que não supera os 28%. Os 74% dos brasileiros urbanos que não têm acesso aos serviços de abastecimento são obrigados a recorrer a poços, bicas, água de caminhões pipa – fontes que escapam do controle sanitário e podem chegar às casas contaminadas pelos vazamentos de fossas sépticas ou da rede de esgoto doméstico e industrial.
Mesmo na Região Norte, bem provida de recursos hídricos, a porcentagem dos habitantes de três capitais com acesso à rede geral de abastecimento é baixa: apenas 58,5% em Macapá (AP), 56% em Rio Branco (AC) e 30,6% em Porto Velho (RO). A cidade do Rio de Janeiro joga fora, sozinha, mais de 1,5 milhão de litros a cada dia – o equivalente a quase 620 piscinas olímpicas. Além disso, os 5,6 bilhões de litros de água lançados diariamente nas tubulações da Grande São Paulo colocam os mananciais próximos de seu limite de disponibilidade. Basta um breve período de falta de chuvas para a população se ver forçada a limitar o consumo, sob a ameaça de torneiras secas e racionamento de água. Na Grande São Paulo, menos de 25% do total de 56 metros cúbicos de esgoto produzidos a cada segundo recebe tratamento. Os restantes 42 metros cúbicos são despejados diariamente nos mesmos rios que abastecem os reservatórios de abastecimento.
Em alguns centros urbanos, 50% da população ocupa áreas irregulares e não tem acesso a serviços de água, coleta e tratamento de esgoto e coleta de lixo. Estima-se que a população favelada brasileira supere os 6,5 milhões de pessoas e deva chegar a 13,5 milhões nos próximos dez anos. Assim, a questão do acesso à água limpa torna-se um fator de exclusão social.

Fonte: Revista Atualidades, 1º Semestre 2009. Editora Abril.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

DOSSIÊ ÁGUA - PARTE II

DOSSIÊ ÁGUA – PARTE II
Por THEREZA VENTUROLI

A água que se usa em casa, aquela que sai de torneiras e chuveiros, representa uma pequena parcela de tudo o que cada cidadão consome – no total apenas 10% do consumo mundial. Para o consumidor doméstico, os restantes 90% vêm na forma de água invisível, dissolvida nos mais diferentes produtos e atividades. A agricultura é, de longe, a responsável pelo maior consumo de água. Cerca de 70% do que é extraído dos rios e aqüífero se destina à produção agropecuária. A fim de garantir safras de arroz, trigo e leite, o homem já reduziu a vazão de grandes rios em até 75%. A indústria é responsável pelos 20% restantes do consumo. Apesar de toda essa água ser captada e usada nas fazendas e na fábricas, uma parcela sempre chega a cada cidadão. O total de água consumida direta ou indiretamente por um individuo ou por toda uma população no decorrer de certo período recebe o nome de pegada hídrica. A pegada hídrica leva em conta não apenas a água agregada aos produtos, mas também o volume poluído na cadeia produtiva.
Entre 1997 e 2001, o comércio internacional transferiu de um país a outro algo em torno de 1 trilhão de metros cúbicos de água virtual por ano, apenas em produtos agropecuários. Se incluirmos aí os produtos industriais, o fluxo anual de água virtual superou o 1,6 trilhão de metros cúbicos. Desse total, 61% do volume viaja invisivelmente em grãos, e outros produtos vegetais, animais e derivados representam 17%. Os produtos industriais utilizam 22% - ou seja, 88% da água virtual transferida entres nações diz respeito diretamente à alimentação da humanidade. O Brasil está entre os maiores exportadores de água virtual do mundo, em companhia dos Estados Unidos, Canadá e França. Mas, como todas as demais nações, também importamos água virtual. O comércio internacional de água virtual democratiza o acesso à água, mas ameaça exaurir as fontes dos exportadores.
É lógico imaginar que os países com maior escassez hídrica apresentam maior saldo positivo no balanço comercial da água virtual – ou seja, seria de esperar que quem dispõe de menos água importe mais produtos e, assim, consuma mais água virtual estrangeira. É o caso de Kuweit, Arábia Saudita, Jordânia, Líbano e Israel, que, não tendo fontes suficientes para irrigar as plantações precisam importar alimentos. Por fim, uma vez que a agricultura consome muito mais água do que a indústria, as nações exportadoras de alimentos degradam suas reservas hídricas mais do que as industrializadas.
Pensar em cobrar pelo uso da água soa estranho. No entanto, em tempos de economia globalizada, em que os mercados se entrelaçam e ditam as regras, a crescente escassez é um argumento para transformar o bem natural em bem acessível apenas a quem possa pagar. Na verdade, o brasileiro não paga nada pela água. O valor da conta mensal refere-se aos custos de captação, tratamento e distribuição. A água em si, não tem preço.

Fonte: Revista ATUALIDADES, 1º Semestre 2009.

domingo, 17 de maio de 2009

DOSSIÊ ÁGUA (PARTE I)

DOSSIÊ ÁGUA
FONTES CADA VEZ MAIS ESCASSAS
. O esgotamento das reservas hídricas do planeta não é causado por fatores naturais, mas pelo mau gerenciamento que fazemos das fontes e de seus usos. O planeta já enfrenta uma crise de água. O volume que circula por mares, rios e lagos, que é guardado nos depósitos subterrâneos, como gelo nas calotas polares ou em umidade da atmosfera, jamais diminui ou aumenta. No entanto, um recurso renovável não se mantém, necessariamente, inesgotável e de boa qualidade todo o tempo. Tudo depende do equilíbrio entre a renovação e o consumo. Muitos povos vivem em zonas áridas, e mesmo regiões com fartos recursos hídricos passam esporadicamente por secas que afetam os mananciais. Isso sempre foi assim, no decorrer da história. A diferença na situação atual, é que enfrentamos uma ameaça de escassez crônica de proporções globais, cuja grande causa são as atividades humanas. A crise da água é menos uma questão de escassez real e mais de mau gerenciamento do uso desse recurso. E a falta de água põe em risco não só a saúde humana como também o desenvolvimento socioeconômico e a paz de toda a sociedade. Do total de cerca de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água que revestem o globo, apenas 2,5% são de água doce. Além disso, a maior parte da água doce não está disponível ao homem – ou está congelada nas geleiras e calotas polares ou se encontra escondida em depósitos subterrâneos. A natureza não distribui a água de maneira equilibrada pelo mundo. Enquanto há regiões com recursos hídricos em abundância, outras não dispõem do mínimo diário de 20 a 50 litros por pessoa recomendado pela ONU, apenas para as necessidades básicas. É o caso do Brasil. O país é riquíssimo em recursos hídricos, mas o maior volume está na bacia amazônica, a região de menor densidade populacional. No outro extremo, capitais e regiões metropolitanas do Sudeste, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, de expressiva concentração demográfica, já está ameaçadas de escassez hídrica e são obrigadas a buscar água em bacias cada vez mais distantes. Ao contrário do volume de água do planeta, que jamais se altera – nem para mais, nem para menos – a população mundial cresce aceleradamente. Assim, para uma mesma quantidade de água existem mais e mais bocas sedentas. É fato: o desenvolvimento industrial tem grande peso na queda do nível dos rios e aqüíferos. Por isso, quando mais rica for uma população, maior será o consumo de água por cabeça. As emissões de carbono e as mudanças na paisagem, com a destruição de matas e a impermeabilização dos solos, alteram o regime das chuvas, desequilibrando o ritmo do ciclo hidrológico. Na Ásia Central cresce a tensão entre Tadjiquistão, Quirguistão e Uzbequistão em razão do uso compartilhado das reservas de água da região, que vêm se reduzindo dramaticamente: os glaciais do Tadjiquistão diminuíram sua área em um terço nos últimos 50 anos, e o Quirguistão perdeu mais de mil glaciares, no mesmo período. Na Nigéria, o saneamento básico é inexistente e o abastecimento de água da população depende dos fornecedores particulares, que vendem água doce de poços, lagos e regatos, nem sempre livres de contaminação.
FONTE: REVISTA ATUALIDADES, 1º SEMESTRE 2009. EDITORA ABRIL.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

ORIENTE MÉDIO

SANGUE QUENTE
Vinte anos após o fim da Guerra Fria, zonas de conflitos persistem e espalham terror e morte por três continentes. Há duas décadas, a queda do Muro de Berlim sinalizava o fim da Guerra Fria, rivalidade entre os blocos liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, que alimentava a tensão geopolítica global e dava combustível para os negócios da indústria armamentista. Mas, diferentemente do especulado, diversas partes do globo, continuam sendo cenários de guerras, e os fabricantes de armas prosseguem comemorando bons negócios.
Em 2007 cresceu o número de conflitos no mundo e os gastos militares subiram 6% em relação ao ano anterior. Desde 1998, as despesas mundiais com armamento militar aumentaram 45%. Os Estados Unidos foram responsáveis por quase metade (45%) desse total. Em 2007 o país gastou 547 milhões de dólares em armas, a maior quantia desde a II Guerra Mundial. A Índia e a China também ampliaram bastante seus gastos militares no último período. Entre 2003 e 2007, os países desenvolvidos como EUA, Reino Unido, Federação Russa, foram os maiores vendedores de armas, enquanto nações em desenvolvimento como China, Índia, Emirados Árabes Unidos, Coréia do Sul e Grécia, se tornaram os maiores compradores. As 100 maiores empresas armamentistas do planeta faturaram 315 milhões de dólares em 2006. A produção é fortemente concentrada: entre essas 100 companhias, 41 são dos Estados Unidos, e sua atividade é um dos pilares da economia do país.
O número de ataques terroristas também aumentou. Relatório do governo norte-americano mostra que em 2007 houve 14.499 atentados terroristas pelo mundo que resultaram em 22.685 mortes. Somente no Iraque foram mais de 6 mil ataques quase o dobro do registrado dois anos antes. Um dos fatores de renascimento das disputas étnicas é o fim do bloco soviético, no qual as aspirações nacionais de vários povos eram até sufocadas por um poder central forte. Nos 15 paises que surgem (Federação Russa, Cazaquistão, Ucrânia etc), diversos grupos levantaram a bandeira da independência, como ocorre na Chechênia, que luta para se libertar do Estado russo. No caso da guerra entre Federação Russa e a Geórgia, em 2008, o motivo é a declaração de independência da região da Ossétia do Sul em relação ao Estado georgiano, que recebe apoio dos russos (interessados em reforçar sua influência direta na região).
Com freqüência, conflitos étnicos estão vinculados a questões econômicas, como ocorre na África. Outros têm como pano de fundo o fortalecimento de grupos fundamentalistas. Esses movimentos que existem em diferentes religiões, buscam nos textos considerados sagrados a base para a organização da vida social e política. Exemplos são as atividades de facções fundamentalistas islâmicas em paises no centro-norte da África (Argélia, Sudão), no Oriente Médio (Líbano, Israel, Iraque) e na Ásia Central (Afeganistão). Entre os conflitos do mundo moderno, um dos mais prolongados é o que envolve israelenses e palestinos, em torno da existência do Estado de Israel, proclamado em 1948. Na última semana de 2008, o ataque israelense aos palestinos na Faixa de Gaza ganhou as manchetes de jornais no mundo todo. Em 27 de dezembro, Israel iniciou uma operação militar na área, densamente habitada por palestinos, sob a justificativa de dar um fim aos disparos de foguetes contra seu território, atribuídos ao movimento islâmico fundamentalista Hamas. Os foguetes causaram prejuízos, deixando alguns feridos. O ataque não foi surpresa porque, alguns dias antes, a trégua de seis meses com Israel havia sido rompida oficialmente pelo Hamas. O grupo alegou que os israelenses mantiveram, durante esse período, o bloqueio á Faixa de Gaza, impedindo a entrada ou saída de pessoas e mercadorias. Segundo a ONU, a situação provocou uma grave crise humanitária na Faixa de Gaza, devido à falta de alimentos, medicamentos e outros gêneros de primeira necessidade.
Os palestinos constituem o maior contingente de refugiados do mundo. Segundo a ONU, são 4,6 milhões de pessoas sem um território reconhecido como Estado. Atualmente, cerca de 1,5 milhão de palestinos espremem-se na Faixa de Gaza, uma faixa de 45 Km de comprimento e 10 Km de largura, com uma das maiores densidades populacionais do planeta e grande índice de pobreza – a maioria de seus moradores vive com menos de 2 dólares ao dia. Não há à vista uma paz duradoura na região. Além das grandes diferenças de pontos de vista entre o governo israelense, o presidente da Autoridade Nacional da Palestina (ANP), Abbas, e o Hamas, há os refugiados palestinos, que anseiam recuperar suas terras, na área em que fica Israel. Os israelenses não aceitam conversar sobre a volta dos refugiados a seu território.

Fonte: Revista Atualidades, 1º semestre 2009. Editora Abril, 2009.

ENTENDA A CRISE

ENTENDA A CRISE
Por Paulo Zocchi e Frances Jones
Iniciada nos EUA, turbulência se espalha, causando prejuízos, recessão e desemprego.
Trilhões de dólares de dinheiro público foram usados para salvar bancos e empresas. Até o futebol sentiu: no fim de 2008, poucos jogadores brasileiros de ponta forma vendidos à Europa, pois o dinheiro lá também ficou mais curto. Na atual época,da globalização, há uma interligação entre as economias de todas as nações, os capitais se movem em grande velocidade, bancos e empresas se associam e se fundem em diferentes países e continentes, e uma crise iniciada nos Estados Unidos, a economia mais poderosa do planeta – responsável por cerca de um quarto de tudo que é produzido no mundo – afeta todos os mercados em questão de horas. Não é fácil entender tudo, mas isso ocorre porque o mercado financeiro, que movimenta centenas de trilhões de dólares por ano, é de fato muito complicado.
2001. O Banco Central dos EUA baixou os juros a partir de 2001, o primeiro ano do governo de Bush, justamente para estimular a economia, incentivando a expansão da produção e do consumo. Com a queda dos juros, que pesam bastante em financiamentos de longo prazo, começaram a ser concedidos muitos empréstimos para a compra de casas a pessoas com menos poder aquisitivo – os clientes classificados de “subprime”. Isso impulsionou a expansão no país da construção civil e do mercado imobiliário. Durante o período em que os juros ficaram baixos, esse mecanismo funcionou bem. Isso ocorreu de 2001 a 2004, com a taxa de juros norte-americana variando num patamar baixo, entre 1,75% e 1% ao ano.
2002 /2003. Os empréstimos imobiliários foram se multiplicando e atingindo grande volume financeiro. Com as prestações sendo pagas, a cada mês, essas operações se tornaram bastante lucrativas para bancos e empresas de créditos imobiliários. Com a ampliação dos crédito imobiliário, cresceu a procura –em linguagem econômica: aumentou a demanda – por casas e apartamentos, fazendo com que os imóveis se valorizassem. As aplicações na construção civil também se tornaram um ótimo negócio para investidores, atraindo capitais do mundo todo e ajudando a movimentar o mercado norte-americano.
2004. A economia norte-americana passa a registrar sinais de inflação.Umas das fontes da inflação é o endividamento vertiginoso do Estado norte-americano, graças, sobretudo, ao corte nos impostos das rendas mais altas – que havia sido feito pelo presidente Bush para impulsionar a economia - e os gastos astronômicos de 2001, principalmente com o envio de tropas ao Afeganistão (a partir de 2001) e ao Iraque (2003). Para combater a inflação, o Fed começou a elevar a taxa básica de juros a partir de outubro de 2004. Uma das conseqüências da subida dos juros, porém, é que o valor das prestações dos empréstimos imobiliários passou a subir cada vez mais para o cidadão comum.
2006/2007. Entre junho de 2006 e agosto de 2007, a taxa de juros ficou em 5,25% ao ano, até cinco vezes maior que a do período anterior. Com as prestações mais caras, uma parte crescente dos compradores não conseguiu mais pagá-las. Assim, os bancos começaram a tomar de volta judicialmente os imóveis de quem parou de pagá-las, promovendo despejos dramáticos por todo o país e recolocando casas e apartamentos à venda. O aumento súbito da oferta, somado ao encarecimento dos empréstimos, derrubou o preço dos imóveis. Como muitos empréstimos deixaram de ser pagos, e o valor dos imóveis dados como garantia despencou, os títulos com base nos empréstimos perderam valor rapidamente, causando grandes prejuízos a bancos e a empresas imobiliárias.
2008. O estopim da atual faze da crise ocorreu em 15 de novembro de 2008, com a queda do quarto maior banco de investimentos norte-americano, o Lehman Brothers – instituição tradicional, com 158 anos, que havia investido fortemente em títulos ligados aos empréstimos “subprime”. Em cerca de um ano, o valor de suas ações já havia despencado 95%. A quebra do Lehman- que não recebeu ajuda estatal – afetou diretamente outros bancos, fundos de pensão e empresas ligadas a ele nos EUA e no exterior. Mas amplamente abalou todo o mercado mundial, pois havia o medo de que outros bancos tivessem o mesmo destino. O mercado de empréstimos em dólar parou totalmente. Diante dos riscos ao mercado financeiro global – que, para funcionar, depende da credibilidade para que os compromissos sejam cumpridos- os governos da principais potências decidiram intervir de forma inédita, colocando trilhões de dólares de dinheiro público para auxiliar maciçamente as empresas em dificuldades. Ao injetarem dinheiro nas instituições, para que possam reembolsar parte de seus clientes e pagar suas dívidas mais urgentes, os governos tentam evitar uma maré de empresas quebradas.
Fonte: Revista Atualidades, 1º semestre 2009.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

OS CAMINHOS DA ÍNDIA

OS CAMINHOS DA ÍNDIA.
Por Denise Odorissi.

Assentada em uma cultura tradicional e reverenciada por ser o berço do hinduísmo e do budismo, a Índia do século XXI surpreende ao avançar em muitos outros domínios. Avança a excelência na indústria farmacêutica, nos setores de fibras ópticas, satélites e informática- chegando a liderar a exportação mundial de softwares – e ostenta uma exuberante produção cinematográfica em sua Bollywood, num trocadilho com a rival norte-americana Hollywood. Com quase 1,2 bilhão de habitantes, a Índia abriga a segunda maior população do planeta, depois da China. Sua condição de potência nuclear, associada aos graves conflitos internos e externos- em especial com o Paquistão – é outro motivo para que o país ocupe um espaço privilegiado no tabuleiro geopolítico mundial. O território indiano ocupa a maior parte de uma vasta planície que, isolada do restante da Ásia pela cordilheira do Himalaia, forma o Subcontinente Indiano, de solo fértil e muitos recursos minerais. O rio Ganges, considerado sagrado pelos hindus, fornece ao país a água para uma forte produção agrícola.
O domínio da região pelo Império Britânico teve inicio em 1690, com a fundação de Calcutá, mas só se consolidou após 1763, ao final de uma guerra com a França. Em 1857, o território hoje pertencente ao Paquistão também foi incorporado às possessões britânicas. Durante o século XIX, várias rebeliões anticolonialistas foram sufocadas pelos ingleses. Em 1885, uma elite nativa de educação ocidental formou o Partido do Congresso, dominante até hoje. Vinte anos depois, o líder mulçumano Muhammad Ali Jinnah fundou a Liga Mulçumana do Paquistão (PML), que loso se aliou aos nacionalistas hindus na luta pela libertação da Coroa britânica. Em 1920 ocorreram os primeiros choques entre a Liga e as comunidades hindus, que compõem a maioria étnica e religiosa na Índia. Como reação ao crescimento das lutas pela independência, o império britânico estimulou os embates entre hindus e mulçumanos. Na época, o PML passou a lutar pela constituição de um Estado mulçumano separada da Índia. Por fim, em 1947, quando os britânicos foram obrigados a deixar o Subcontinente Indiano, encerrando sua dominação, eles decidiram aprovar sua divisão, por critérios religiosos, em dois Estados independentes – a Índia (com maioria de população hindu) e o Paquistão (com maioria mulçumana). Como era esperado, a partilha com base na religião resultou no deslocamento forçado e gigantesco de 10 milhões de pessoas em direções opostas da nova fronteira e amplificou os choques entre hindus e mulçumanos, causando a morte de pelo menos 1 milhão de habitantes. A contragosto, Gandhi acabou aceitando a divisão do país e, sob esse pretexto, foi assassinado por um fundamentalista hindu, em 1948.
Disputa pela Caxemira. Parte do norte da Índia e do noroeste do Paquistão, a Caxemira é disputada desde a independência pelos dois paises. Os conflitos já deixaram milhares de mortos. O território tem maioria muçulmana. O governo indiano acusa o governo vizinho de treinar e amar os guerrilheiros que agem na região. A disputa acirrou-se a partir dos anos 1950, em razão da política da Guerra Fria, quando a Índia ganhou o apoio da União Soviética e o Paquistão dos Estados Unidos. Em 1974, a Índia explodiu sua primeira bomba atômica, feito que o Paquistão só iria igualar 25 anos depois.
Pobreza. Em rápida ascensão econômica, a Índia se destaca como um dos principais países emergentes. Porém, tem péssimos índices sociais. Quase da metade das crianças não é vacinada contra o sarampo, e o analfabetismo ainda atinge 35% dos indianos. Seu IDH, divulgado em 2008, coloca a Índia no 132º lugar, entre os 179 paises pesquisados. Atualmente, a nação tem na Presidência uma mulher, Pratibla Patil, eleita em 2007, a primeira a ocupar esse cargo na história do país. Como o regime indiano é parlamentarista, o chefe de governo é o primeiro ministro Manmohan Singh – ambos do tradicional Partido do Congresso. A china sonha grande. Busca lugar de destaque no cenário internacional: ao lado de Brasil, Japão e Alemanha, integra o G-4, que pleiteia um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas, para chegar bem ao futuro, será preciso superar o abismo que separa as centenas de milhões de miseráveis dos que têm acesso à boa educação e um bom padrão de vida. A Índia não é o único país a enfrentar um desafio desse tipo.
Fonte: Revista Atualidades, 1º Semestre 2009. Editora Abril, 2009.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

SEMANA SANTA

SEMANA SANTA
“Vão e preparem tudo para comermos a Páscoa”
(Lucas 22, 8).
* Eraldo Amorim
Depois de longo período de preparação, de expectativa e de reflexão em torno da Campanha da Fraternidade, chegamos a Semana Santa com um grande desafio: resgatar o seu significado maior, e transformá-la em dias de oração, nos remetendo àquela Páscoa em que o Filho de Deus encarnado percorre o caminho da cruz até o túmulo vazio, domingo da Ressurreição.
Na Semana Santa, conhecida também como Semana Maior, contemplamos a cruz que sustenta em seus braços o próprio Deus feito homem, que devido a sua condição humana, a sua missão profética e a sua obediência ao Pai incomodou poderosos do seu tempo, falou das coisas verdadeiras, iluminou a sociedade com sua luz e derrubou tabus que excluía. Veio nos oferecer sua Paz, e por isso morreu de forma tão violenta. Nossas atitudes o mataram, nossos pecados o fizeram sofrer.
Antes de chegar à glória, teve que passar pela cruz. ”Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado”. Linguagem difícil de compreensão em tempos da Teologia da Prosperidade, onde se promete estabilidade financeira, vitória fácil e uma vida sem problemas, só de vitórias. Negar ou esconder a cruz é impedir que a manifestação plena da missão de Jesus se revele. Pois sua vida foi de cruz e de glória ao mesmo tempo. Reflitamos, portanto, os aspectos centrais da Semana Santa.
Desde o período muito cedo de sua história a Igreja celebra os últimos dias de Jesus na terra atualizando o seu sofrimento, sua paixão, seu martírio na cruz até a glória da Ressurreição. A Semana Santa começa no Domingo de Ramos onde celebramos a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém. O Mestre aclamado pelo povo como rei, caminha para o calvário sete dias depois. O povo que grita “Hosana! Salve! Bendito o que vem em nome do Senhor” é o mesmo que na sexta-feira manobrados pelos poderosos fariseus exclama “crucifica-o!”. O povo espera um Messias poderoso, forte e que com armas em punho derruba o sistema opressor. Jesus frustra a todos com sua atitude pacifica. Montando num jumentinho ele traz um novo messianismo. Vencer a estrutura pecaminosa com misericórdia e amor.
O Tríduo Santo começa na Quinta-feira, onde fazemos memória daquela ceia derradeira em que o Mestre se abaixa diante dos pés calejados e sujos dos discípulos para lavá-los, num gesto de extrema humildade e de serviço. “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 15). Para nós ali estava sendo celebrada a primeira missa, e sendo instituída a Eucaristia e o sacramento da Ordem. Jesus ainda vestido com o manto do serviço (avental), é levado a julgamento diante dos sacerdotes, do sinédrio, de Herodes e de Pôncio Pilatos.
Açoitado, corpo machucado e banhado de sangue revela a situação da humanidade. “Não tinha beleza nem atrativo para o olharmos, não tinha aparência que nos agradasse. Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos: passando por ele, tapávamos o rosto; tão desprezível era, não fazíamos caso dele” (Is 52, 2-3). Contemplar Jesus crucificado é perceber o quanto somos fracos, pecadores e limitados. Jesus foi vítima da violência gananciosa das autoridades políticas e sacerdotais do seu tempo. Ele sofreu injustamente e sua paixão se prolonga ainda hoje nos sofridos deste mundo, nos excluídos do sistema econômico que oprime, mata e destruí os mais vulneráveis. O fato é que Jesus ainda hoje continua morrendo, suas chagas ainda se abrem em cada ser humano vitima da violência, das armas de fogo, dos acidentes de trânsito, em cada pessoa que morre sem assistência médica, vítima de um sistema de saúde falido.
Mas tudo esse sofrimento e sinais de morte não prevalecem até o fim. O rumo definitivo é o Sábado Santo, onde o canto do “exulte” rompe as trevas da nossa existência e ilumina com sua luz, a nossa condição miserável para nos introduzir novamente ao paraíso antes perdido e hoje desejado. “Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor (...) Ó pecado de Adão indispensável, pois o Cristo o dissolve em seu amor”. A Vigília Pascal, é a “mãe de todas as vigílias”, celebrada sempre à noite, tem um significado todo especial.
O Ciclo Pascal se estende por cinquenta dias até a festa de Pentecostes. O Círio Pascal aceso em local de destaque nos remete à coluna de fogo que conduziu o povo pelo deserto até a libertação até a terra prometida e ao Cristo Ressuscitado e Vencedor.
Entretanto, bem sabemos que a Semana Santa vem sendo transformada em mais um evento em favor do comércio dos ovos de chocolate, do coelhinho dos presentes, dos vinhos caros e do bacalhau, sendo para muitos um simples “Feriadão”. Porém, cultivemos o espírito desta semana com o propósito de renovar em nós o significado maior da nossa existência e da nossa fé.
Com Maria, Nossa Senhora das Dores, percorramos o caminho da cruz e do martírio até chegar ao jardim da reconciliação, onde seremos interpelados: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24, 5). Deixemos que a esperança tome conta de nós e que dissipe todo medo e angústia e que transforme a nossa realidade de dor e de pecado em luz e salvação.

* Teólogo, Geógrafo e Professor.

Campina Grande- PB
30 de março de 2009.

segunda-feira, 16 de março de 2009

IGREJA, EXCOMUNHÃO E MISERICÓRDIA

IGREJA , EXCOMUNHÃO E MISERICÓRDIA.
* Eraldo Amorim
Decidi aceitar o desafio de escrever sobre um assunto bastante delicado como este. Impulsionado por alguns artigos que li e por e-mails que recebi após os rumores de que o arcebispo de Olinda/Recife, teria excomungado a mãe e a equipe médica por permitir, amparados pela lei, de promover o aborto de gêmeos numa menina de nove anos, e que de maneira trágica teria sido violentada sexualmente pelo próprio padrasto, e por motivos biológicos poderia não levar a gravidez ao fim, podendo até morrer. O resto todos nós já sabemos. Este fato após repercutir mundialmente, o Vaticano e a CNBB se pronunciaram a favor de D. José Cardoso Sobrinho, “queimado” pela imprensa como sendo um arcebispo conservador, defensor doutrinário do Papa Bento XVI. Mas Houve uma reviravolta no caso. O presidente da Academia Pontifícia para a Vida, o arcebispo Rino Fisichella escreveu um artigo onde criticou a excomunhão. Falou-se em perdão, inclusão e misericórdia.
A palavra “Excomunhão” quer dizer fora da comum união (ex=fora), ou seja, é declarado excomungado aquela pessoa que não esteja de acordo com os princípios doutrinários da comunidade cristã. É bom deixar bem claro que a excomunhão é uma realidade que vem desde o inicio da Igreja (Mt 18, 15- 20; 1 Cor 5). Era a punição mais rígida que se poderia receber. Na Idade Média a excomunhão, por contexto histórico, foi muito aplicada para combater heresias, cismas, apostasia e até ataques a reis, príncipes e gente do clero. Como último recurso, o excomungado era imposto à fogueira da inquisição, pois só queimando o corpo teria a chance de purificar a alma.
A instituição católica tem a excomunhão ainda como forma de corrigir um eventual erro que venha atingir a integridade da religião e a dignidade da pessoa humana. Quando se pensa em excomunhão, é para o bem da própria pessoa, que uma vez não agindo conforme a doutrina do evangelho, e não atingindo o arrependimento necessário e permanecendo no erro pode ser condenada ao suplicio eterno (1 Cor 11, 27- 30). Excomungar é deixar a pessoa livre da doutrina, agindo conforme a sua consciência e não sob a doutrina cristã. Entretanto, excomunhão não é sinônimo de condenação, mas sim uma oportunidade para o arrependimento e consequentemente uma reabilitação na comunidade.
Esta é uma maneira de correção não entendida e não aceita pela modernidade secularizada e que só exige da Igreja atitudes que reforce a liberdade humana, sem compromisso, como se fosse tudo permitido. Na realidade busca-se vantagem em tudo, até da Igreja. Muitos de nós esperamos dela os sacramentos, celebrações pomposas, almejamos a Tradição pela tradição, desejamos adquirir status sociais, mas na hora de defender ou de viver a doutrina a acusamos de retrógrada, medieval, injusta e perversa. Ou seja, muitos só são católicos em busca da promoção pessoal e social, criando uma espiritualidade individualista e egoísta.
Por outro lado, não estamos mais na Idade Média, e a Igreja com seus dirigentes são suficientemente inteligentes para ter plena consciência disso. Os tempos mudaram e a teologia também se desenvolveu. Sendo a Igreja uma instituição de dois mil anos, tem o direito de expor a sua opinião sobre qualquer fato ou assunto. Mas no caso específico da menina de Pernambuco, a excomunhão foi totalmente contestada por se tratar de questão de vida ou de morte da infante. Grande desafio para a Igreja, que saiu em defesa das duas vidas que ainda iriam nascer sem olhar para a criança que já tem nove anos, e que tem como principio “os fins não justificam os meios”. Fato bastante delicado e que requer cautela e muito discernimento.
Em meio a grande polêmica que se formou, apelou-se para a misericórdia. É tempo da misericórdia, da graça e do diálogo (Lc 6, 36 – 38; Mt 12, 31; 2 Cor 2, 5 – 8). É missão da Igreja, testemunhar o amor infinito de Deus, e não espalhar medo e excluir aqueles que erram. Mas é também missão da Igreja defender a vida não importando as circunstâncias. Eis que o impasse está formado, a questão teológica continua. Quem poderá dizer como será o desenrolar desta questão? Desafio para os teólogos, médicos, cientistas e para todos os cristãos.
Campina Grande, 16 de março de 2009.
· Geógrafo, Teólogo e Professor.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

QUARESMA, TEMPO DE MUDAR DE VIDA!

QUARESMA – EIS O TEMPO DE CONVERSÃO
* Eraldo Amorim

Desde o século II os cristãos celebram a Quaresma praticando o jejum, abstinência e períodos intensos de oração, tendo em vista a celebração da Páscoa. Na sua evolução histórica, a Quaresma, do latim “Quadragésima”, era o tempo litúrgico em que os fiéis se reconciliavam com a Igreja, ou seja, eram readmitidos na comunidade cristã e também se preparavam para receber o sacramento do Batismo. Os catecúmenos, provenientes do paganismo ou do judaísmo, faziam a sua preparação com atitudes que demonstravam adesão ao cristianismo.
Eram quarenta dias de jejum, exceto os domingos. No período quaresmal aos catecúmenos era exigido um permanente estado de renúncia e de adesão ao Cristo, professando a fé diante do Bispo e da comunidade reunida. A celebração do sacramento do Batismo ocorria na noite do Sábado Santo, quando podiam ser chamados de “fiéis”. Era, portanto, a pedagogia que passou a ser utilizada a partir do século IV, como forma de aceitação criteriosa dos novos cristãos.
De acordo com o antigo costume, o jejum consistia em apenas uma refeição diária, ao cair da tarde. Acrescentou-se, depois, a abstinência de carne e vinho, e em algumas regiões também a abstinência dos chamados lacticínios (leite, manteiga e ovos). Hoje, o exercício espiritual do jejum no tempo da Quaresma se resume apenas em dois dias, a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira da Paixão. Além do jejum, este tempo litúrgico nos propõe a esmola e a oração, como virtudes a serem exercitadas.
A Quaresma nos prepara para a grande festa da Páscoa. Faz referência aos quarenta dias em que Jesus jejuou no deserto depois do batismo no Jordão (Mt 4, 2; Lc 4, 1s). Faz alusão também aos quarenta dias em que Moisés jejuou no monte Sinai (Ex 34, 28) e o profeta Elias caminhou em direção ao monte Horeb (1 Rs 19, 8), e a caminhada do povo de Deus no deserto após a libertação no Egito.
Segundo o Catecismo da Igreja: “A tentação de Jesus manifesta a maneira que o Filho de Deus tem de ser Messias – o oposto da que lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe. É por isso que Cristo venceu o Tentador por nós: ‘Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de comparecer-se de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado’ (Hb 4, 15). A Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto” (§ 540). Sendo assim, a Quaresma nos revela que mediante a obediência de Jesus no deserto nos tornamos fortes a superar as tentações do tempo presente, desde que estejamos dispostos a reconhecer as nossas fraquezas e buscar a conversão.
Assim nos adverte o apóstolo Paulo: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2 Cor 6, 2). Pois bem, a Quaresma é mais uma oportunidade de rever as nossas atitudes, as nossas concepções de mundo e de pensamento. Deus nos dá a chance de conversão, de mudança de vida, assim como é pregado no Evangelho: metanoia (Mc 1, 15).
“Revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4, 24). Entretanto, não é fácil mudar de vida, romper com as estruturas de pecado e de morte. Este tempo litúrgico, extremamente catequético, nos leva ao calvário, ao sofrimento e a entrega de si mesmo, deixando morrer em nós toda prepotência e fazendo renascer um novo ser humano. A cruz, tão reverenciada neste período, nos ensina a não apenas enxergar o Cristo glorioso, mas a contemplar e a viver o mistério da dor como forma de se chegar ao paraíso.
É no exercício quaresmal que aprendemos a abrir o coração, a quebrar o orgulho, a vaidade e a compreender que nesta vida tudo termina em pó, e que o que permanece são as nossas boas obras de justiça, amor e perdão. Embora a conversão, enquanto mudança de vida, não ocorra cem por cento, a quaresma suscita em nós um desejo de mudança, é exercício em busca do aperfeiçoamento espiritual, conseqüentemente, uma maneira nova de viver, de agir e de tratar o próximo. Como bem nos afirma a Ir. Yone Buyst, “quaresma é tempo de retomar o caminho do Evangelho, tempo de renovação, de ‘morte ao pecado’, para que possamos ressurgir para uma vida nova com Cristo na sua Páscoa. Quaresma requer sobriedade, não é tristeza, é despojamento, ares de deserto”.
Aqui vão alguns lembretes de como devemos viver este tempo. Em clima de retiro espiritual, nas celebrações não cantamos o Glória e nem o Aleluia; a brandura dos instrumentos nos convida a reflexão silenciosa; as flores não enfeitam o presbitério, pelo menos neste período; a cor roxa é sinal de sobriedade e recolhimento; a Via Sacra nos faz repensar sobre o valor da vida e do amor de Cristo na cruz; a aspersão no Ato Penitencial renova em nós os compromissos batismais e a Campanha da Fraternidade é uma provocação pessoal e comunitária sobre as nossas contradições e injustiças que abalam os céus e provocam a crucifixão de milhares de seres humanos ainda hoje.
Vivamos a quaresma de maneira intensa, cultivando os aspectos da vida comunitária e cristã sob a perspectiva da grande Vigília (Sábado Santo), onde, naquela madrugada, o túmulo vazio sinalizou para todos nós o inicio de um novo tempo. Renovando os nossos compromissos batismais, aspergidos com água que jorra para a vida eterna, sejamos cada vez mais anunciadores e promotores de uma sociedade mais justa, onde a cultura de morte não tenha vez e nem voz.

A todos uma feliz Quaresma!

Campina Grande, 18 de fevereiro de 2009.
* Geógrafo, Teólogo e Professor.

FRATERNIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA

CF 2009 – “A Paz é fruto da Justiça” (Is 32, 17).
* Eraldo Amorim.

Desde 1964 a CNBB lança no Brasil a Campanha da Fraternidade que sempre acontece de maneira intensa durante o período quaresmal. É, verdadeiramente, um tempo litúrgico propício a uma reflexão sobre a nossa maneira de agir, a buscarmos conversão tanto no nível pessoal quanto comunitário.
A Campanha da Fraternidade é apenas um caminho que a Igreja oferece para refletirmos sobre os problemas sociais existentes em nosso país. Na realidade, a CF extrapola os limites da Igreja, ou seja, vai além de suas fronteiras e atinge os mais diversos segmentos da sociedade. A CF não pertence à Igreja em si, é uma Campanha que deve ser abraçada por todos aqueles que sonham com uma sociedade melhor, mais justa, humana e fraterna.
E este ano, a CNBB escolheu um tema muito pertinente e que nos preocupa a todos. Com o tema: “Fraternidade e Segurança Pública” e lema: “A Paz é fruto da Justiça” (Is 32, 17), a CF, de maneira profética, nos interpela, nos incomoda e nos chama a lutar por uma cultura de paz em favor da vida e da dignidade humana tão almejada em nossa sociedade. Diz o texto base da CF 2009: “O objetivo geral da Campanha da Fraternidade 2009 é suscitar o debate sobre a segurança pública e contribuir para a promoção da cultura da paz nas pessoas, na família, na comunidade e na sociedade, a fim de que todos se empenhem efetivamente na construção da justiça social que seja garantia de segurança para todos” (Texto Base).
Entretanto, são muitos os motivos para levarmos adiante esta Campanha e não cruzarmos os braços diante da violência, da falta de compromisso do Estado, da ausência (ou omissão) da maioria dos cidadãos nas discussões sobre o tema e da desvalorização da vida e da dignidade humana. Diz a Constituição Brasileira que ”A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (Art. 144)”, portanto, é função primordial do Estado Brasileiro zelar pela ordem pública, defender e proteger a vida das pessoas e manter a sociedade em plena ordem. Porém, não estamos isentos de fazermos com que a segurança e a paz reinem em nosso convívio.
Mas o que é mesmo a Paz? Com certeza não é simplesmente a ausência de guerras ou conflitos declarados, muito menos um descanso silencioso que não nos incomoda, um clima brando e suave que nos deixa anestesiados e passivos. A Paz, aquela mesma que Jesus veio nos deixar (Jo 14, 27), nos incomoda, nos impulsiona a lutar por justiça, cria em nós um desejo ardente de denunciar as arbitrariedades contra a vida, nos faz falar e não calar diante das autoridades impulsivas por corrupção, diante da fome e da miséria de muitos, da falta de moradia digna e de saúde. A Paz verdadeira só irá reinar quando todos puderem desfrutar de saúde e qualidade de vida, meios de transporte descente, acesso a emprego e seus direitos respeitados, quando os conflitos sociais deixarem de existir.
A Paz é inquieta, como canta PE. Zezinho. É utopia? Pode ser, mas é um desejo que está no coração de Deus, que o Homem a promova. Não ajudaremos em nada se ficarmos calados, extasiados, olhando, como que platéia distraída, milhares de jovens sem perspectiva entrarem no mundo da criminalidade e morrerem assassinados antes de completarem 20 anos de idade; famílias destruídas por culpa do narcotráfico; presídios superlotados (verdadeiros depósitos humanos), palcos de constantes rebeliões e sem a mínima condição de sobrevivência.
Hoje é impossível não sentirmos medo ao sairmos à noite. Mesmo naqueles momentos em família não podemos deixar a porta da casa aberta, ou pararmos em semáforos durante o dia. Os assaltos, os seqüestros, os estupros, o crime organizado, a violência doméstica, os abusos de poder por parte de alguns policiais, o mau preparo dos agentes da policia, bem como o surgimento de milícias e de grupos de extermínio que atentam contra os Direitos Humanos, nos colocam em clima de total insegurança.
Culpa de quem afinal? Bem sabemos que o Estado tem grande parcela de culpa, pois não cumpre com o seu papel de principal agente responsável pela segurança, deixando a sociedade a mercê daqueles que fizeram do crime seu meio de sobrevivência. Não basta apenas aos policiais dar boa remuneração, construir presídios, diminuir a maioridade penal, investir em aparatos de segurança que diminuam a criminalidade, ou ter leis penais rígidas; é preciso antes de tudo por fim a esta sensação de impunidade que assola o nosso país, a começar por aqueles que detêm o poder e o dinheiro.
É necessário admitir que as instituições policiais (civil, militar, federal) não estão unidas no combate aos mais diversos tipos de crime. Infelizmente o que temos visto é a concepção de uma policia repressiva, autoritária e violenta, e que ao mesmo tempo em que combate a criminalidade, permite que alguns policiais se infiltrem no mundo da marginalidade, facilitando o tráfico de drogas e de armas e recebendo propinas.

“É preciso agir com competência e discernimento à luz de critérios evangélicos. Além disso, todos devem estar atentos a tudo o que forma consciências violentas” (Texto Base). Faz-se urgente a construção de um projeto de prevenção ao crime, ou melhor, que tenhamos um trabalho comunitário efetivo em áreas onde o crime mais se faz presente. Que a policia não nos cause medo, mas que penetre nas comunidades levando segurança em forma de conscientização. Que as autoridades levem a sério aquilo que dizem os especialistas em Segurança Pública.
A educação é uma forte aliada no combate ao crime. Mas assim como os policiais, não se pode simplesmente aumentar os salários dos professores (reivindicação justa), sem um projeto de ação que envolva a família, os meios de comunicação, a arte e a cultura; é preciso envolver a própria sociedade, favorecer uma melhor distribuição de renda, cultivar valores hoje esquecidos, e, acima de tudo, escutar a voz da solidariedade, não favorecendo a vingança e o ódio. Só assim a Paz verdadeiramente reinará.
Os cristãos devem expressar esse desejo de Paz a partir das suas próprias ações dentro da comunidade. De nada adianta pregar o amor sem vivê-lo de fato dentro da Igreja. Baixemos as armas do egoísmo, da vaidade, da competição e do consumismo. Façamos desta Campanha um momento, não apenas de reflexão, mas de propostas para todos, juntos, ajudarmos os governos, Ong´s, instituições religiosas, enfim, toda a sociedade a buscar alternativas que, pelo menos, amenizem o índice de violência, e que tenhamos a coragem de enfrentar as suas causas e não apenas os seus efeitos.
Que o Senhor derrame sobre todos nós, a sua copiosa bênção redentora, e que tenhamos a graça de termos o dom profético de anunciar a Paz, falando sempre a verdade, sem medo, mostrando que é possível viver com dignidade, assim como fez o profeta Isaias. “No deserto habitará o direito, e a justiça habitará o jardim. O fruto da justiça será a paz. De fato, o trabalho da justiça resultará em tranqüilidade e segurança permanentes” (Is 32, 16 – 17).

Campina Grande, 17 de Fevereiro de 2009.

* Geógrafo, Teólogo e Professor.