quinta-feira, 14 de maio de 2009

ORIENTE MÉDIO

SANGUE QUENTE
Vinte anos após o fim da Guerra Fria, zonas de conflitos persistem e espalham terror e morte por três continentes. Há duas décadas, a queda do Muro de Berlim sinalizava o fim da Guerra Fria, rivalidade entre os blocos liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, que alimentava a tensão geopolítica global e dava combustível para os negócios da indústria armamentista. Mas, diferentemente do especulado, diversas partes do globo, continuam sendo cenários de guerras, e os fabricantes de armas prosseguem comemorando bons negócios.
Em 2007 cresceu o número de conflitos no mundo e os gastos militares subiram 6% em relação ao ano anterior. Desde 1998, as despesas mundiais com armamento militar aumentaram 45%. Os Estados Unidos foram responsáveis por quase metade (45%) desse total. Em 2007 o país gastou 547 milhões de dólares em armas, a maior quantia desde a II Guerra Mundial. A Índia e a China também ampliaram bastante seus gastos militares no último período. Entre 2003 e 2007, os países desenvolvidos como EUA, Reino Unido, Federação Russa, foram os maiores vendedores de armas, enquanto nações em desenvolvimento como China, Índia, Emirados Árabes Unidos, Coréia do Sul e Grécia, se tornaram os maiores compradores. As 100 maiores empresas armamentistas do planeta faturaram 315 milhões de dólares em 2006. A produção é fortemente concentrada: entre essas 100 companhias, 41 são dos Estados Unidos, e sua atividade é um dos pilares da economia do país.
O número de ataques terroristas também aumentou. Relatório do governo norte-americano mostra que em 2007 houve 14.499 atentados terroristas pelo mundo que resultaram em 22.685 mortes. Somente no Iraque foram mais de 6 mil ataques quase o dobro do registrado dois anos antes. Um dos fatores de renascimento das disputas étnicas é o fim do bloco soviético, no qual as aspirações nacionais de vários povos eram até sufocadas por um poder central forte. Nos 15 paises que surgem (Federação Russa, Cazaquistão, Ucrânia etc), diversos grupos levantaram a bandeira da independência, como ocorre na Chechênia, que luta para se libertar do Estado russo. No caso da guerra entre Federação Russa e a Geórgia, em 2008, o motivo é a declaração de independência da região da Ossétia do Sul em relação ao Estado georgiano, que recebe apoio dos russos (interessados em reforçar sua influência direta na região).
Com freqüência, conflitos étnicos estão vinculados a questões econômicas, como ocorre na África. Outros têm como pano de fundo o fortalecimento de grupos fundamentalistas. Esses movimentos que existem em diferentes religiões, buscam nos textos considerados sagrados a base para a organização da vida social e política. Exemplos são as atividades de facções fundamentalistas islâmicas em paises no centro-norte da África (Argélia, Sudão), no Oriente Médio (Líbano, Israel, Iraque) e na Ásia Central (Afeganistão). Entre os conflitos do mundo moderno, um dos mais prolongados é o que envolve israelenses e palestinos, em torno da existência do Estado de Israel, proclamado em 1948. Na última semana de 2008, o ataque israelense aos palestinos na Faixa de Gaza ganhou as manchetes de jornais no mundo todo. Em 27 de dezembro, Israel iniciou uma operação militar na área, densamente habitada por palestinos, sob a justificativa de dar um fim aos disparos de foguetes contra seu território, atribuídos ao movimento islâmico fundamentalista Hamas. Os foguetes causaram prejuízos, deixando alguns feridos. O ataque não foi surpresa porque, alguns dias antes, a trégua de seis meses com Israel havia sido rompida oficialmente pelo Hamas. O grupo alegou que os israelenses mantiveram, durante esse período, o bloqueio á Faixa de Gaza, impedindo a entrada ou saída de pessoas e mercadorias. Segundo a ONU, a situação provocou uma grave crise humanitária na Faixa de Gaza, devido à falta de alimentos, medicamentos e outros gêneros de primeira necessidade.
Os palestinos constituem o maior contingente de refugiados do mundo. Segundo a ONU, são 4,6 milhões de pessoas sem um território reconhecido como Estado. Atualmente, cerca de 1,5 milhão de palestinos espremem-se na Faixa de Gaza, uma faixa de 45 Km de comprimento e 10 Km de largura, com uma das maiores densidades populacionais do planeta e grande índice de pobreza – a maioria de seus moradores vive com menos de 2 dólares ao dia. Não há à vista uma paz duradoura na região. Além das grandes diferenças de pontos de vista entre o governo israelense, o presidente da Autoridade Nacional da Palestina (ANP), Abbas, e o Hamas, há os refugiados palestinos, que anseiam recuperar suas terras, na área em que fica Israel. Os israelenses não aceitam conversar sobre a volta dos refugiados a seu território.

Fonte: Revista Atualidades, 1º semestre 2009. Editora Abril, 2009.

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