sexta-feira, 20 de junho de 2008

PROIBIÇÃO DE FOGUEIRAS??

“São João sem vender lenha para fogueira!”
Por uma cultura em defesa do Meio Ambiente.

*Eraldo Amorim

Mais uma iniciativa louvável do Ministério Público é a proibição da venda de lenha destinada à queima no período junino. Mesmo levando em consideração o aspecto cultural e religioso, muito mais o primeiro do que o segundo, esta liminar da justiça reforça a preocupação e a atuação dos órgãos públicos pela preservação do Meio Ambiente, preocupação esta que deve ser de todo cidadão e cidadã. Há muito tempo que os nossos festejos juninos já não são mais os mesmos, que as nossas quadrilhas não têm os mesmos compassos, e que boa parte do forró que faz sucesso é um “produto enlatado” de péssima qualidade, fazendo apologia à pornografia, à prostituição e ao uso da bebida. O pior cego é aquele que não quer ver.
Os textos bíblicos, pelo menos os canônicos, não relatam em nenhum versículo a existência de uma fogueira para anunciar o nascimento de João Batista, muito menos durante o evento martírio de São Pedro e São Paulo, ou no instante da morte de Santo Antônio. Por isso afirmo que a Tradição de acender fogueira é muito mais um aspecto cultural, antropológico, do que teológico e bíblico. Sendo assim, a Igreja não tem dever nenhum em se pronunciar a favor de tal costume, até mesmo porque a Tradição Cristã Católica sai em primeiro lugar em defesa da vida, inclusive da fauna e da flora. Deve-se perceber que o discurso religioso sobre este assunto vem à tona com maior facilidade e repercussão. Por que outros temas, cujos fundamentos teológicos e bíblicos, que são defendidos pela Igreja não causam tanto alvoroço?
É bom lembrar que em 2007 a Campanha da Fraternidade refletiu sobre a Amazônia e sobre todos os problemas que envolvem a degradação do Meio Ambiente. Qualquer iniciativa que venha somar ao propósito de preservar a natureza deve ser acolhida com entusiasmo e alegria, mesmo que cause mudanças na concepção cultural, pois a Amazônia é aqui, é o nosso lar, o nosso bairro, nossa Terra.
Nenhuma cultura, por mais milenar que seja não é estática, mas sim, dinâmica. Dessa forma, deve-se enquadrar de acordo com a realidade. Segundo estudos da Embrapa Algodão, 65% do estado da Paraíba estão se transformando em deserto, ou seja, se tornando impróprio para o cultivo. Fatores como o aquecimento global, a criação de animais e a agricultura (não acompanhados de técnicas adequadas de manejo), além do desmatamento desenfreado, estão aumentando a desertificação, não somente em nosso estado mais em boa parte da região nordeste.
Portanto, não podemos nos dar ao luxo de, em pleno processo de aquecimento global e desastres ambientais cada vez mais globalizados e catastróficos, desmatarmos a mata nativa e queimar lenha em nome de uma tradição que pode ser mudada, dependendo do grau de consciência da população. Já bastam as panificadoras, as carvoarias e as olarias que queimam lenha o ano inteiro em seus fornos.
Outro fator que não podemos deixar de ressaltar é que a fumaça liberada pela queima de madeira (CO2) causa danos irreparáveis à saúde humana. Hospitais ficam superlotados de crianças e idosos com problemas respiratórios, isto sem falar no caos do tráfego aéreo por conta da invisibilidade por milhares de quilômetros.
A crítica recai sobre esta liminar, no que diz respeito à maneira como se propõe a mudança. Pensa-se que o melhor caminho seria através do diálogo e da conscientização. Mas na realidade, a situação ambiental é desastrosa e não podemos esperar. Esta medida é, a curto prazo, uma maneira de coibir, desde já, as causas dos desastres ecológicos, baseando-se na certeza de que a população irá a logo prazo se conscientizar do grave problema que enfrentamos.
Campanhas educativas nas escolas, nas igrejas, nas SAB´s – Sociedades de Amigos de Bairro, nos meios de comunicação (...) podem ajudar bastante nesta luta. Precisamos aprender de uma vez por todas que os recursos naturais são finitos e que estão chegando ao fim, de maneira rápida. Quando derrubamos uma árvore, inconscientemente e sem pensar num reflorestamento, estamos também matando várias espécies de pássaros, insetos e animais provenientes da flora e da fauna, daquele bioma. Nenhuma cultura deve estar acima da dignidade da Criação.
Façamos do nosso “São João” um evento em favor da vida: sem fogueira e sem balão! Sem mortes e sem destruição. Mudemos a maneira de lidarmos com a natureza e com os seres vivos que lhes pertencem. Assim, será a nossa melhor homenagem aos santos juninos!

*Teólogo, geógrafo e especialista em Meio Ambiente. (16 / 06 / 2008).

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA!

“Marcha pela Maconha”. Era só o que faltava!!!

* Eraldo Amorim

Parece que não tem mais o que se inventar, nem o que ser reivindicado no que diz respeito aos direitos do cidadão brasileiro. No último mês de maio, um grupo de indivíduos sem ter o fazer e nem o que defender, alastrou uma idéia nada mais que intransigente e perversa na intenção de legalizar o uso da canabis sativa, a maconha.
O movimento pró-maconha tem a intenção de promover a marcha pela descriminalização em dez cidades brasileiras. Em Salvador foi suspensa por uma liminar da justiça. Em João Pessoa, capital que estava cotada para ser palco deste evento também foi impedida. O juiz de direito, André Ricardo de Carvalho Costa, fazendo uso dos seus poderes e do bom senso suspendeu a tal marcha descabida.
Uma das alegações para que seja estabelecida a legalização do consumo da maconha é que a ela causa menos mal a saúde do que o álcool e o cigarro. Outra justificativa consiste no fato de que os usuários dessa droga são tratados como criminosos e, dessa forma, mal vistos pela sociedade. Eticamente, qualquer droga, seja ela qual for legal ou ilegal (exceto os medicamentos devidamente utilizados sob prescrição médica), é um grande mal para a sociedade e para a saúde humana. Por outro lado, a Maconha está cada vez mais se popularizando entre as camadas mais elitizadas da sociedade. Cresce o número de artistas, profissionais liberais, médicos e até mesmo políticos, gente de boa reputação e destaque social que afirmam sem receio que usam ou que já experimentaram a canabis, esbanjando a falsa impressão de que fumar faz bem e que é sinônimo de status e liberdade. O que se esconde por trás desse ato é o desejo de fugir da realidade e dos problemas existenciais, uma maneira de matar a ansiedade e encontrar um refúgio para “descarregar” o estresse da vida cotidiana.
Sabe-se que antigas civilizações utilizavam a maconha como instrumento de cura e calmante, mas não se sabe efetivamente quais os efeitos terapêuticos desta erva, pois são mais de 400 substâncias existentes e suas pesquisas são inconclusivas.
Segundo o relatório da ONU, há 144 milhões de usuários espalhados pelo mundo. No Brasil, houve um crescimento no consumo dessa droga em torno de 2,8% a 7,6% entre os anos de 1987 a 1997, e o que é pior, entre os jovens de 10 a 19 anos. Estudos revelam que o consumo da maconha aumenta 56% de possibilidade de consumo de outro tipo de droga. Ou seja, é uma porta de entrada para drogas mais pesadas como a heroína, LSD, cocaína e o crack, que leva milhares de vidas à escravidão e à dependência química, num caminho muitas vezes sem volta. Muitos jovens que encontram satisfação no primeiro trago de um cigarro de maconha acabam, pelo uso contínuo, sob o domínio do vício. Sem querer fazer julgamento aos usuários da droga, a maconha é sempre uma estrada que não leva a lugar algum a não ser à destruição dos valores positivos do caráter do ser humano, tão escassos hoje em dia. Defender a legalização dessa droga, negligenciando outros direitos como educação, saúde, segurança e o direito a uma vida digna do cidadão, é uma atitude no mínimo irresponsável e inconseqüente.
Na família, os pais são os que devem estar atentos ao comportamento dos seus filhos, quais os lugares que freqüentam e com quem costumam andar, para que depois não venham a sofrer pela a omissão. O drama dos viciados é o drama de toda a família, todos sofrem. O vício das drogas conduz a distúrbios psicológicos desastrosos e é totalmente danoso à estrutura social da família e do meio na qual está inserida, a sociedade. Então, é hora de repensarmos sobre a legalização de drogas que matam pessoas mundo afora. A bebida, por exemplo, é a causa principal de assassinatos e de acidentes de trânsito.
Investir na educação dos jovens e os adultos para que defendam a vida é o melhor caminho, e não aumentar ainda mais o problema legalizando drogas que pervertem a conduta dos indivíduos. Os meios de comunicação (principal formadora de opinião), as instituições religiosas, as escolas (com seus educadores bem informados e formados), devem se unir na construção de uma sociedade mais salutar, sem violência, sem mentiras e sem mortes fúteis e inúteis. Que os jovens aprendam a valorizar a vida, ter esperança e a confiar na própria família.

* Teólogo, geógrafo e especialista em Meio Ambiente. (15 / 06 / 2008)