* Eraldo Amorim
Vez por outra ele está em algum programa de televisão, cantando, dando conselhos, contando histórias, aumentando assim cada vez que aparece o número de fãs, admiradores, ou de futuros leitores dos seus livros. Livros estes de conteúdo de auto ajuda, misturado com versículos bíblicos. Ele está na mídia, seus shows atraem milhares de pessoas. Estamos nos referindo ao Padre Fábio de Melo, ex-religioso da congregação do Sagrado Coração de Jesus e que hoje faz parte da diocese de Taubaté-SP.
Não vamos aqui precipitadamente levantar julgamento sobre este jovem padre artista, esta não é a nossa intenção, mesmo porque dele mesmo não sabemos quase nada, mas da sua atuação no meio televisivo podemos pensar algo e tirar algumas conclusões.
Todos os cristãos batizados têm a missão de ser missionário de Jesus no mundo, este é o dever que nos atinge. Mais ainda tem esta missão um padre, homem consagrado a levar a fé e a doutrina onde estiver e onde for chamado a fazê-lo, principalmente aos pobres e necessitados. Todo padre que se preze tem que celebrar missa, abraçar os votos de obediência e castidade; e no caso de um religioso fazer o voto de pobreza, continuando assim, a missão que Jesus Cristo começou. Com certeza foi assim a formação do Pe. Fábio, passada pelos seus superiores e formadores, e é assim também a sua vida de comunhão eclesiástica.
É inegável a contribuição que o Pe. Fábio tem dado à Igreja católica brasileira, em tempos de evasão, crescimento das mais diversas tendências protestantes neopentecostais e da modernidade secularizada, que cultua uma religião sem compromisso e superficial, baseada numa espiritualidade voltada para o individualismo. Ele faz sucesso por falar a linguagem do momento, por falar àqueles que estão sofrendo na solidão, desamparados, carentes em todos os sentidos e que por viverem numa sociedade cada vez mais mecanizada não se realizam enquanto pessoas, não encontram a felicidade, e que em muitos casos não possuem uma fé madura suficiente.
Fábio de Melo age muito mais como um psicólogo de plantão do que como padre. Sua imagem e suas palavras confortadoras acalentam as mentes, além de ser um ótimo negócio para a indústria religiosa áudio-visual. Seus livros vendem como água, suas canções embalam todos os corações e atingem até os de outras denominações religiosas.
Mas diante disto tudo vale nos questionar: que Jesus este padre anuncia? Suas intenções podem ser as melhores possíveis, mas suas canções são burguesas, os seus livros estão longe de atingir as camadas mais populares, tanto pelo preço quanto pela linguagem. Portanto, o Jesus anunciado por ele estaria muito distante do Jesus Nazareno anunciado pelos evangelistas. Não seria o Jesus dos Shoppings Centers, das academias e das roupas de grife? A propósito, se suas canções fossem contrárias ao consumo e não esbanjassem tanto teor emotivo, estaria ele em programas de entretenimento, desses sem conteúdos, em tardes de domingo?
Bem que os tempos são outros e os meios de comunicação e a tecnologia propagaram cada vez mais concepções diversas sobre a realidade “Jesus de Nazaré”. Cada qual o cria ao seu modo, e retira dele o que mais incomoda e atrapalha. Mas o seu Testamento é permanente, não muda nunca, é eterno. Os métodos de evangelização podem avançar, mas o conteúdo (Jesus de Nazaré e o seu projeto) não poderá ser alterado. Tudo passa: a fama, o dinheiro, os shows, as músicas e as emoções; mas Jesus permanece.
Fábio de Melo é especialista em falar e tocar na sensibilidade das pessoas, mas não é capaz de fazer com que a proposta de Jesus e o compromisso com o seu projeto evangélico mudem a estrutura social em que vivemos. Ele é humano, tanto como nós, não é Deus, mas apenas o portador de sua mensagem, sujeito a erros e enganos assim como qualquer cidadão. Isto é o que os seus milhares de fãs precisam compreender.
O que deve nos preocupar ainda mais é que se comece a pensar que o seu jeito de orar, de cantar e de exercer a espiritualidade, seja a única forma eficaz de encontrar a Deus. Que este modelo é o único na Igreja Católica e fora dela. Devemos assim ficar atentos e não falar só com o coração mas aprender a desenvolver uma espiritualidade que caminhe junto com a realidade. Um olho no céu e outro na terra. A missão para ser verdadeira não deverá fazer pacto com nenhuma gravadora, editora de livros ou com audiência de programas de televisão, mas apenas com Jesus e com o seu projeto de vida, sem distinção de cor, classe social ou conhecimento intelectual.
Campina Grande, 30 de junho de 2009.
Vez por outra ele está em algum programa de televisão, cantando, dando conselhos, contando histórias, aumentando assim cada vez que aparece o número de fãs, admiradores, ou de futuros leitores dos seus livros. Livros estes de conteúdo de auto ajuda, misturado com versículos bíblicos. Ele está na mídia, seus shows atraem milhares de pessoas. Estamos nos referindo ao Padre Fábio de Melo, ex-religioso da congregação do Sagrado Coração de Jesus e que hoje faz parte da diocese de Taubaté-SP.
Não vamos aqui precipitadamente levantar julgamento sobre este jovem padre artista, esta não é a nossa intenção, mesmo porque dele mesmo não sabemos quase nada, mas da sua atuação no meio televisivo podemos pensar algo e tirar algumas conclusões.
Todos os cristãos batizados têm a missão de ser missionário de Jesus no mundo, este é o dever que nos atinge. Mais ainda tem esta missão um padre, homem consagrado a levar a fé e a doutrina onde estiver e onde for chamado a fazê-lo, principalmente aos pobres e necessitados. Todo padre que se preze tem que celebrar missa, abraçar os votos de obediência e castidade; e no caso de um religioso fazer o voto de pobreza, continuando assim, a missão que Jesus Cristo começou. Com certeza foi assim a formação do Pe. Fábio, passada pelos seus superiores e formadores, e é assim também a sua vida de comunhão eclesiástica.
É inegável a contribuição que o Pe. Fábio tem dado à Igreja católica brasileira, em tempos de evasão, crescimento das mais diversas tendências protestantes neopentecostais e da modernidade secularizada, que cultua uma religião sem compromisso e superficial, baseada numa espiritualidade voltada para o individualismo. Ele faz sucesso por falar a linguagem do momento, por falar àqueles que estão sofrendo na solidão, desamparados, carentes em todos os sentidos e que por viverem numa sociedade cada vez mais mecanizada não se realizam enquanto pessoas, não encontram a felicidade, e que em muitos casos não possuem uma fé madura suficiente.
Fábio de Melo age muito mais como um psicólogo de plantão do que como padre. Sua imagem e suas palavras confortadoras acalentam as mentes, além de ser um ótimo negócio para a indústria religiosa áudio-visual. Seus livros vendem como água, suas canções embalam todos os corações e atingem até os de outras denominações religiosas.
Mas diante disto tudo vale nos questionar: que Jesus este padre anuncia? Suas intenções podem ser as melhores possíveis, mas suas canções são burguesas, os seus livros estão longe de atingir as camadas mais populares, tanto pelo preço quanto pela linguagem. Portanto, o Jesus anunciado por ele estaria muito distante do Jesus Nazareno anunciado pelos evangelistas. Não seria o Jesus dos Shoppings Centers, das academias e das roupas de grife? A propósito, se suas canções fossem contrárias ao consumo e não esbanjassem tanto teor emotivo, estaria ele em programas de entretenimento, desses sem conteúdos, em tardes de domingo?
Bem que os tempos são outros e os meios de comunicação e a tecnologia propagaram cada vez mais concepções diversas sobre a realidade “Jesus de Nazaré”. Cada qual o cria ao seu modo, e retira dele o que mais incomoda e atrapalha. Mas o seu Testamento é permanente, não muda nunca, é eterno. Os métodos de evangelização podem avançar, mas o conteúdo (Jesus de Nazaré e o seu projeto) não poderá ser alterado. Tudo passa: a fama, o dinheiro, os shows, as músicas e as emoções; mas Jesus permanece.
Fábio de Melo é especialista em falar e tocar na sensibilidade das pessoas, mas não é capaz de fazer com que a proposta de Jesus e o compromisso com o seu projeto evangélico mudem a estrutura social em que vivemos. Ele é humano, tanto como nós, não é Deus, mas apenas o portador de sua mensagem, sujeito a erros e enganos assim como qualquer cidadão. Isto é o que os seus milhares de fãs precisam compreender.
O que deve nos preocupar ainda mais é que se comece a pensar que o seu jeito de orar, de cantar e de exercer a espiritualidade, seja a única forma eficaz de encontrar a Deus. Que este modelo é o único na Igreja Católica e fora dela. Devemos assim ficar atentos e não falar só com o coração mas aprender a desenvolver uma espiritualidade que caminhe junto com a realidade. Um olho no céu e outro na terra. A missão para ser verdadeira não deverá fazer pacto com nenhuma gravadora, editora de livros ou com audiência de programas de televisão, mas apenas com Jesus e com o seu projeto de vida, sem distinção de cor, classe social ou conhecimento intelectual.
Campina Grande, 30 de junho de 2009.
2 comentários:
Caro Eraldo,
gostei muito do seu texto, pois foi bem imparcial.
Penso como você, que o Pe. Fábio tem um estilo de evangelização diferente e necessário porém não é o único, graças a Deus!
Penso que o Pe. Fábio é tipo uma ponta de lança, ele serve para quebrar certas barreiras e preconceitos sobre a fé, principalmente com relação aos padres. Se ele perseverar e for um ótimo padre especialmente em relação aos seus votos de castidade e obediência penso que muitos vão pensar na real possibilidade de se viver santamente.
Paz e bem!
Eraldo Amorim, preliminarmente, gostaria de parabenizá-lo pelo blog, repleto de boas críticas sobre temas sociais relevantes, de forma que cumpre bem o papel de um estudioso da geografia, da sociedade, enfim...
Tenho a opinião de que o Pe. Fábio de Melo possui grande repercussão no meio católico, como todos já sabemos, o que lhe dá condições para levar os ensinamentos de Jesus a vários lugares, por quaisquer meios e isso realmente deve ser aproveitado. Entretanto, não podemos deixar de atentar para o fato de que essas mensagens não devem ser utilizadas de forma egoística, individual, mas de forma a que reflita externamente, ou seja, que sejam levadas adiante através da missão evangelizadora que cada cristão, cada batizado deve cumprir.
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