segunda-feira, 11 de maio de 2009

OS CAMINHOS DA ÍNDIA

OS CAMINHOS DA ÍNDIA.
Por Denise Odorissi.

Assentada em uma cultura tradicional e reverenciada por ser o berço do hinduísmo e do budismo, a Índia do século XXI surpreende ao avançar em muitos outros domínios. Avança a excelência na indústria farmacêutica, nos setores de fibras ópticas, satélites e informática- chegando a liderar a exportação mundial de softwares – e ostenta uma exuberante produção cinematográfica em sua Bollywood, num trocadilho com a rival norte-americana Hollywood. Com quase 1,2 bilhão de habitantes, a Índia abriga a segunda maior população do planeta, depois da China. Sua condição de potência nuclear, associada aos graves conflitos internos e externos- em especial com o Paquistão – é outro motivo para que o país ocupe um espaço privilegiado no tabuleiro geopolítico mundial. O território indiano ocupa a maior parte de uma vasta planície que, isolada do restante da Ásia pela cordilheira do Himalaia, forma o Subcontinente Indiano, de solo fértil e muitos recursos minerais. O rio Ganges, considerado sagrado pelos hindus, fornece ao país a água para uma forte produção agrícola.
O domínio da região pelo Império Britânico teve inicio em 1690, com a fundação de Calcutá, mas só se consolidou após 1763, ao final de uma guerra com a França. Em 1857, o território hoje pertencente ao Paquistão também foi incorporado às possessões britânicas. Durante o século XIX, várias rebeliões anticolonialistas foram sufocadas pelos ingleses. Em 1885, uma elite nativa de educação ocidental formou o Partido do Congresso, dominante até hoje. Vinte anos depois, o líder mulçumano Muhammad Ali Jinnah fundou a Liga Mulçumana do Paquistão (PML), que loso se aliou aos nacionalistas hindus na luta pela libertação da Coroa britânica. Em 1920 ocorreram os primeiros choques entre a Liga e as comunidades hindus, que compõem a maioria étnica e religiosa na Índia. Como reação ao crescimento das lutas pela independência, o império britânico estimulou os embates entre hindus e mulçumanos. Na época, o PML passou a lutar pela constituição de um Estado mulçumano separada da Índia. Por fim, em 1947, quando os britânicos foram obrigados a deixar o Subcontinente Indiano, encerrando sua dominação, eles decidiram aprovar sua divisão, por critérios religiosos, em dois Estados independentes – a Índia (com maioria de população hindu) e o Paquistão (com maioria mulçumana). Como era esperado, a partilha com base na religião resultou no deslocamento forçado e gigantesco de 10 milhões de pessoas em direções opostas da nova fronteira e amplificou os choques entre hindus e mulçumanos, causando a morte de pelo menos 1 milhão de habitantes. A contragosto, Gandhi acabou aceitando a divisão do país e, sob esse pretexto, foi assassinado por um fundamentalista hindu, em 1948.
Disputa pela Caxemira. Parte do norte da Índia e do noroeste do Paquistão, a Caxemira é disputada desde a independência pelos dois paises. Os conflitos já deixaram milhares de mortos. O território tem maioria muçulmana. O governo indiano acusa o governo vizinho de treinar e amar os guerrilheiros que agem na região. A disputa acirrou-se a partir dos anos 1950, em razão da política da Guerra Fria, quando a Índia ganhou o apoio da União Soviética e o Paquistão dos Estados Unidos. Em 1974, a Índia explodiu sua primeira bomba atômica, feito que o Paquistão só iria igualar 25 anos depois.
Pobreza. Em rápida ascensão econômica, a Índia se destaca como um dos principais países emergentes. Porém, tem péssimos índices sociais. Quase da metade das crianças não é vacinada contra o sarampo, e o analfabetismo ainda atinge 35% dos indianos. Seu IDH, divulgado em 2008, coloca a Índia no 132º lugar, entre os 179 paises pesquisados. Atualmente, a nação tem na Presidência uma mulher, Pratibla Patil, eleita em 2007, a primeira a ocupar esse cargo na história do país. Como o regime indiano é parlamentarista, o chefe de governo é o primeiro ministro Manmohan Singh – ambos do tradicional Partido do Congresso. A china sonha grande. Busca lugar de destaque no cenário internacional: ao lado de Brasil, Japão e Alemanha, integra o G-4, que pleiteia um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas, para chegar bem ao futuro, será preciso superar o abismo que separa as centenas de milhões de miseráveis dos que têm acesso à boa educação e um bom padrão de vida. A Índia não é o único país a enfrentar um desafio desse tipo.
Fonte: Revista Atualidades, 1º Semestre 2009. Editora Abril, 2009.

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