quinta-feira, 15 de maio de 2008

Educação / Documento de Aparecida, como colocá-lo em prática? (V)

Documento de Aparecida, como colocá-lo em prática (V).
* Eraldo Amorim


Diante da atual conjuntura da educação brasileira é preciso que haja verdadeira revolução no setor, haja conscientização de que não há desenvolvimento econômico e social sem educação. Tudo passa por ela, tudo converge para ela. A educação formal é o sustentáculo de uma Nação. Dela se exige muito, mas pouco, ou quase nada é feito. Atribui-se a responsabilidade aos professores que na sua maioria são despreparados ou super carregados na tarefa de educar.
Falta cobrar dos governantes a presença de um estado mais atuante e eficaz nas escolas. Mas infelizmente o que vemos é a presença da Política influenciando negativamente dentro do contexto escolar, onde assuntos sobre “politicagem” são tratados, trocas de favores são postas em prática, perseguição e apadrinhamento político dentro de um ambiente que deveria formar cidadãos capazes de levar a diante o sentimento democrático e indivíduos responsáveis nos seus deveres para com a sociedade. Mediante tal situação cabe-nos a vergonha e preocupação.
Os bispos latino-americanos ressaltam a qualidade da educação como sendo um bem inalienável, do qual todos os povos, sem distinção, têm direito. É dever do Estado a preconização deste direito, tendo como foco principal “destacar a dimensão ética e religiosa”, como diz o documento. Mas o que o documento não relata é a causa desta defasagem escolar por parte dos poderes públicos: a política neoliberal, tão em voga e presente na América Latina e caribenha. A diminuição dos recursos para setores sociais inclui também a educação, além da saúde, transporte, moradia e segurança. Necessário se faz dar maior importância e legitimação às iniciativas privadas, às escolas e universidades. Parece que a intenção é mesmo desestimular e denegrir a imagem da escola pública e incentivar as privadas. Fica claro o objetivo central do Neoliberalismo.
Quem acaba sofrendo com isso? Os pobres. Não podem pagar e sofrem com uma educação de péssima qualidade. Permanecem sem o devido suporte para desenvolverem-se como pessoas, cidadãos e muito menos como profissionais qualificados. Cada vez mais a educação de qualidade se torna privilégio de poucos.
Sobre este fato queremos aqui lembrar a importância das escolas católicas para a nossa sociedade. Entretanto, apesar de toda formação integral e evangélica, as escolas católicas privadas preparam o aluno para o mercado de trabalho, na perspectiva da concorrência no mundo capitalista e selvagem. Ou seja, vêem os seus alunos-clientes como sujeitos candidatos ao vestibular, se profissionalizando em áreas de grande influência social, mantendo assim a estrutura que não permite que o pobre galgue um status maior na sociedade. Se por um lado o documento assegura que as escolas católicas “hão de gerar solidariedade e caridade para com os mais pobres”, por outro não diz como isso pode acontecer. Não queremos com isso afirmar que isoladamente as escolas católicas podem resolver o problema da educação, ou que são culpadas pela desigualdade intelectual a qual estamos enfrentando. É fácil percebermos que o sistema educacional está cada vez mais defasado e gerando violência. Entretanto, um trabalho de parceria entre o público e o privado, na luta pela conscientização por uma política pública voltada a uma educação de qualidade é bem-vindo, além do aumento da demanda de recursos destinados a educação, objetivando amenizar a violência nas escolas e reduzir a desigualdade e exclusão social.
A educação do nosso continente pode ser resumida da seguinte maneira: estudantes de escolas públicas permanecem pobres e empregados. A realidade sócio-econômica não lhes garante outro futuro. A não ser que haja muita força de vontade, compromisso e perseverança. Os estudantes de escola privada na sua maioria são mais preparados para cursarem as melhores universidades, estudam sem precisar trabalhar e podem se tornar excelentes profissionais bem remunerados, preservando dessa forma o modelo de sociedade capitalista e desigual.

* Teólogo, Professor de Geografia.

Campina Grande, 13 de maio de 2008.