ENTENDA A CRISE
Por Paulo Zocchi e Frances Jones
Iniciada nos EUA, turbulência se espalha, causando prejuízos, recessão e desemprego.
Trilhões de dólares de dinheiro público foram usados para salvar bancos e empresas. Até o futebol sentiu: no fim de 2008, poucos jogadores brasileiros de ponta forma vendidos à Europa, pois o dinheiro lá também ficou mais curto. Na atual época,da globalização, há uma interligação entre as economias de todas as nações, os capitais se movem em grande velocidade, bancos e empresas se associam e se fundem em diferentes países e continentes, e uma crise iniciada nos Estados Unidos, a economia mais poderosa do planeta – responsável por cerca de um quarto de tudo que é produzido no mundo – afeta todos os mercados em questão de horas. Não é fácil entender tudo, mas isso ocorre porque o mercado financeiro, que movimenta centenas de trilhões de dólares por ano, é de fato muito complicado.
2001. O Banco Central dos EUA baixou os juros a partir de 2001, o primeiro ano do governo de Bush, justamente para estimular a economia, incentivando a expansão da produção e do consumo. Com a queda dos juros, que pesam bastante em financiamentos de longo prazo, começaram a ser concedidos muitos empréstimos para a compra de casas a pessoas com menos poder aquisitivo – os clientes classificados de “subprime”. Isso impulsionou a expansão no país da construção civil e do mercado imobiliário. Durante o período em que os juros ficaram baixos, esse mecanismo funcionou bem. Isso ocorreu de 2001 a 2004, com a taxa de juros norte-americana variando num patamar baixo, entre 1,75% e 1% ao ano.
2002 /2003. Os empréstimos imobiliários foram se multiplicando e atingindo grande volume financeiro. Com as prestações sendo pagas, a cada mês, essas operações se tornaram bastante lucrativas para bancos e empresas de créditos imobiliários. Com a ampliação dos crédito imobiliário, cresceu a procura –em linguagem econômica: aumentou a demanda – por casas e apartamentos, fazendo com que os imóveis se valorizassem. As aplicações na construção civil também se tornaram um ótimo negócio para investidores, atraindo capitais do mundo todo e ajudando a movimentar o mercado norte-americano.
2004. A economia norte-americana passa a registrar sinais de inflação.Umas das fontes da inflação é o endividamento vertiginoso do Estado norte-americano, graças, sobretudo, ao corte nos impostos das rendas mais altas – que havia sido feito pelo presidente Bush para impulsionar a economia - e os gastos astronômicos de 2001, principalmente com o envio de tropas ao Afeganistão (a partir de 2001) e ao Iraque (2003). Para combater a inflação, o Fed começou a elevar a taxa básica de juros a partir de outubro de 2004. Uma das conseqüências da subida dos juros, porém, é que o valor das prestações dos empréstimos imobiliários passou a subir cada vez mais para o cidadão comum.
2006/2007. Entre junho de 2006 e agosto de 2007, a taxa de juros ficou em 5,25% ao ano, até cinco vezes maior que a do período anterior. Com as prestações mais caras, uma parte crescente dos compradores não conseguiu mais pagá-las. Assim, os bancos começaram a tomar de volta judicialmente os imóveis de quem parou de pagá-las, promovendo despejos dramáticos por todo o país e recolocando casas e apartamentos à venda. O aumento súbito da oferta, somado ao encarecimento dos empréstimos, derrubou o preço dos imóveis. Como muitos empréstimos deixaram de ser pagos, e o valor dos imóveis dados como garantia despencou, os títulos com base nos empréstimos perderam valor rapidamente, causando grandes prejuízos a bancos e a empresas imobiliárias.
2008. O estopim da atual faze da crise ocorreu em 15 de novembro de 2008, com a queda do quarto maior banco de investimentos norte-americano, o Lehman Brothers – instituição tradicional, com 158 anos, que havia investido fortemente em títulos ligados aos empréstimos “subprime”. Em cerca de um ano, o valor de suas ações já havia despencado 95%. A quebra do Lehman- que não recebeu ajuda estatal – afetou diretamente outros bancos, fundos de pensão e empresas ligadas a ele nos EUA e no exterior. Mas amplamente abalou todo o mercado mundial, pois havia o medo de que outros bancos tivessem o mesmo destino. O mercado de empréstimos em dólar parou totalmente. Diante dos riscos ao mercado financeiro global – que, para funcionar, depende da credibilidade para que os compromissos sejam cumpridos- os governos da principais potências decidiram intervir de forma inédita, colocando trilhões de dólares de dinheiro público para auxiliar maciçamente as empresas em dificuldades. Ao injetarem dinheiro nas instituições, para que possam reembolsar parte de seus clientes e pagar suas dívidas mais urgentes, os governos tentam evitar uma maré de empresas quebradas.
Fonte: Revista Atualidades, 1º semestre 2009.
Por Paulo Zocchi e Frances Jones
Iniciada nos EUA, turbulência se espalha, causando prejuízos, recessão e desemprego.
Trilhões de dólares de dinheiro público foram usados para salvar bancos e empresas. Até o futebol sentiu: no fim de 2008, poucos jogadores brasileiros de ponta forma vendidos à Europa, pois o dinheiro lá também ficou mais curto. Na atual época,da globalização, há uma interligação entre as economias de todas as nações, os capitais se movem em grande velocidade, bancos e empresas se associam e se fundem em diferentes países e continentes, e uma crise iniciada nos Estados Unidos, a economia mais poderosa do planeta – responsável por cerca de um quarto de tudo que é produzido no mundo – afeta todos os mercados em questão de horas. Não é fácil entender tudo, mas isso ocorre porque o mercado financeiro, que movimenta centenas de trilhões de dólares por ano, é de fato muito complicado.
2001. O Banco Central dos EUA baixou os juros a partir de 2001, o primeiro ano do governo de Bush, justamente para estimular a economia, incentivando a expansão da produção e do consumo. Com a queda dos juros, que pesam bastante em financiamentos de longo prazo, começaram a ser concedidos muitos empréstimos para a compra de casas a pessoas com menos poder aquisitivo – os clientes classificados de “subprime”. Isso impulsionou a expansão no país da construção civil e do mercado imobiliário. Durante o período em que os juros ficaram baixos, esse mecanismo funcionou bem. Isso ocorreu de 2001 a 2004, com a taxa de juros norte-americana variando num patamar baixo, entre 1,75% e 1% ao ano.
2002 /2003. Os empréstimos imobiliários foram se multiplicando e atingindo grande volume financeiro. Com as prestações sendo pagas, a cada mês, essas operações se tornaram bastante lucrativas para bancos e empresas de créditos imobiliários. Com a ampliação dos crédito imobiliário, cresceu a procura –em linguagem econômica: aumentou a demanda – por casas e apartamentos, fazendo com que os imóveis se valorizassem. As aplicações na construção civil também se tornaram um ótimo negócio para investidores, atraindo capitais do mundo todo e ajudando a movimentar o mercado norte-americano.
2004. A economia norte-americana passa a registrar sinais de inflação.Umas das fontes da inflação é o endividamento vertiginoso do Estado norte-americano, graças, sobretudo, ao corte nos impostos das rendas mais altas – que havia sido feito pelo presidente Bush para impulsionar a economia - e os gastos astronômicos de 2001, principalmente com o envio de tropas ao Afeganistão (a partir de 2001) e ao Iraque (2003). Para combater a inflação, o Fed começou a elevar a taxa básica de juros a partir de outubro de 2004. Uma das conseqüências da subida dos juros, porém, é que o valor das prestações dos empréstimos imobiliários passou a subir cada vez mais para o cidadão comum.
2006/2007. Entre junho de 2006 e agosto de 2007, a taxa de juros ficou em 5,25% ao ano, até cinco vezes maior que a do período anterior. Com as prestações mais caras, uma parte crescente dos compradores não conseguiu mais pagá-las. Assim, os bancos começaram a tomar de volta judicialmente os imóveis de quem parou de pagá-las, promovendo despejos dramáticos por todo o país e recolocando casas e apartamentos à venda. O aumento súbito da oferta, somado ao encarecimento dos empréstimos, derrubou o preço dos imóveis. Como muitos empréstimos deixaram de ser pagos, e o valor dos imóveis dados como garantia despencou, os títulos com base nos empréstimos perderam valor rapidamente, causando grandes prejuízos a bancos e a empresas imobiliárias.
2008. O estopim da atual faze da crise ocorreu em 15 de novembro de 2008, com a queda do quarto maior banco de investimentos norte-americano, o Lehman Brothers – instituição tradicional, com 158 anos, que havia investido fortemente em títulos ligados aos empréstimos “subprime”. Em cerca de um ano, o valor de suas ações já havia despencado 95%. A quebra do Lehman- que não recebeu ajuda estatal – afetou diretamente outros bancos, fundos de pensão e empresas ligadas a ele nos EUA e no exterior. Mas amplamente abalou todo o mercado mundial, pois havia o medo de que outros bancos tivessem o mesmo destino. O mercado de empréstimos em dólar parou totalmente. Diante dos riscos ao mercado financeiro global – que, para funcionar, depende da credibilidade para que os compromissos sejam cumpridos- os governos da principais potências decidiram intervir de forma inédita, colocando trilhões de dólares de dinheiro público para auxiliar maciçamente as empresas em dificuldades. Ao injetarem dinheiro nas instituições, para que possam reembolsar parte de seus clientes e pagar suas dívidas mais urgentes, os governos tentam evitar uma maré de empresas quebradas.
Fonte: Revista Atualidades, 1º semestre 2009.
2 comentários:
Chocante. Mais continuo não entendendo a crise! "/
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