terça-feira, 22 de julho de 2008

PEDAÇOS HUMANOS EM LIXÃO DE CAMPINA GRANDE.

Pedaços de corpo humano no lixão: o homem aos pedaços!

Eraldo Amorim.

Mais um carro de coleta de lixo urbano chega ao lixão de Campina Grande. É dia 10 de julho de 2008 e como de costume despeja seus resíduos. Ao encontrar um saco fechado e ao abri-lo, uma catadora se depara com algo macabro e inusitado: cerca de 200 pedaços humanos cortados, provavelmente de uma mulher. O caso é denunciado e em seguida se cria especulações: seria mais um crime a desvendar? O IML encaminha o achado para perícia e com menos de uma semana já se confirma que os restos mortais são lixo hospitalar, provenientes de amputações, só não se sabe de qual Hospital saiu o tal material, e justamente para um lugar que não deveria ter ido.
Quem praticou este ato não pensou nas conseqüências que poderia causar, ou no mínimo não tem noção da gravidade ambiental, e muito mais do que isto, não apresenta a mínima noção de ética profissional. É decepcionante, em se tratando de um conhecedor da área de saúde e da sua legítima importância para a sociedade.
Este é um fato que merece repercussão nacional. É mais um atentado contra a saúde pública. Todos nós sabemos que o melhor ou o mais correto destino para o devido lixo seria incinerá-lo, de forma discreta e respeitosa. Mesmo se tratando de partes de corpo doente, necrosadas ou não continuam sendo partes humanas. Não é o todo, mas parte do todo. Sem falar que por traz de cada órgão ou membro dilacerado pela enfermidade, existiu alguém que passou por sofrimentos e teve uma história de vida.
Não é hora dos órgãos públicos (curadoria do Meio Ambiente e a Secretaria de Saúde) investigarem e punirem os culpados pelo descaso ocorrido? Pois além de serem restos humanos tratados como algo qualquer, o referido fato demonstra que, em parte, o lixo hospitalar não está sendo tratado com seriedade, como prevê a lei ambiental, e que deve encarado como resíduos que podem causar sérios danos ao meio ambiente e pôr em risco a saúde pública. Foi um ato irracional e no mínimo incompetente de quem o praticou.
Esperamos que, fatos como estes, não ocorram novamente, pois isso representaria, mais do que vem acontecendo, uma banalização da violência contra aquilo que temos de mais sagrado, o nosso corpo. Diante de tudo isso até que ponto nós estamos valorizando a ética profissional e respeitando os direitos do cidadão e cumprindo as leis ambientais vigentes? Ou ainda, será que o fato ocorrido no lixão de Campina Grande, bairro do Multirão, não nos remete a um pensamento social e filosófico a respeito da vida e do corpo?
Pensemos sobre isto.
Geógrafo, Teólogo e Especialista em Meio Ambiente (15 / 07 / 2008).

TRABALHO INFANTIL

Trabalho Infantil, uma Vergonha Nacional

Eraldo Amorim.

No Brasil, o trabalho infantil ainda continua sendo um grande desafio social, uma mazela a ser combatida. Entra governo e sai governo, e tudo termina sem que um problema que vem deste o período do Brasil Colônia, quando crianças indígenas e africanas eram submetidas a trabalhos forçados, seja encarado de forma séria e responsável.
Devido às condições sócio-econômicas da maioria do povo brasileiro, criou-se uma falsa concepção de que começar a trabalhar cedo é sinônimo de honestidade, compromisso e de um futuro melhor. Esta afirmação tem certo teor de verdade. Quem não conhece alguém que durante a infância trabalhou para ajudar em casa e que na fase adulta tornou-se uma pessoa trabalhadora e até mesmo bem sucedida? O fato é que no passado o mercado não era tão competitivo, as exigências eram outras e o contexto social e econômico era totalmente adverso. Anos atrás a educação pública era de boa qualidade e, além disso, o adolescente podia facilmente conciliar o serviço com o seu horário escolar. Atualmente, diante de um contexto globalizado, excludente e cada vez mais exigente em que vivemos, é difícil para um jovem conciliar escola e trabalho. Salários baixos, alto custo de vida e novos objetos e formas de consumo que grande parte dos jovens consumidores não consegue acompanhar, a opção ficou restrita a uma escolha que poderá acarretar conseqüências para o resto da vida. E assim, ainda em fase de crescimento físico e psicológico, o individuo é instigado a trabalhar para ajudar a manter a casa.
São muitos os motivos pelos quais o trabalho infantil vem crescendo no Brasil, e principalmente no Nordeste. Tanto na zona rural quanto na zona urbana, o problema é preocupante. Em muitos casos os pais atravessam momentos difíceis, como por exemplo, cumprindo pena em regime fechado em presídios, encontrando-se desempregados, doentes, ou até mesmo trabalhando na economia informal para sobreviver. Os filhos são forçados a deixar a escola e entrar no mundo do trabalho, diminuindo assim uma possível ascensão social e aumentando o desinteresse pelos estudos.
Na realidade, o que se percebe é a falta de políticas públicas que impeçam crianças e adolescentes a enveredar por este caminho, que na maioria das vezes são exploradas e induzidas a realizar “trabalhos” ilícitos como a prostituição e o tráfico de drogas. Mas apenas isso não basta. Toda a sociedade tem que começar a compreender que lugar de criança é na escola, mas uma escola de qualidade, que cultive no aluno o interesse, que dê aos profissionais da educação meios e condições de acompanhar, formar, desenvolver e preparar as crianças e os adolescentes para o mercado de trabalho. Dá esmola em semáforo, comprar amendoim torrado em plena madrugada a uma criança, ou ainda engraxar sapato numa praça movimentada, não resolvem nada. O Estado, assim como a família, tem que fazer a sua parte. Não adianta também construir presídios ou casas de recuperação para menores de infratores, se não há uma mínima estrutura de readaptação à sociedade.
“A melhor escola é a vida”, diz o ditado popular. Embora esta afirmação tenha um pouco de fundamento e esteja se referindo ao ensino informal, nenhuma instituição por mais avançada que seja não substitui uma boa escola de ensino formal e familiar, estas são os alicerces do caráter, os fundamentos daqueles valores que levaremos por toda a vida. Falta o resgate da dignidade humana, valorizar mais a Escola e a Família, como lugares privilegiados de formação do cidadão e da cidadã. A Escola, principalmente a pública, tem que ser transformada em lugar atraente. O Ideal seria uma instituição que oferecesse diversas formações (profissionalizantes, artes e esporte) e o fundamental: apoio à família dos mesmos. Dando-lhes total apoio e assistência social e financeira. Assim, de fato, estaríamos combatendo o trabalho infantil e não apenas instigando discursos demagógicos que não resolvem nada.

Geógrafo, Teólogo e Especialista em Meio Ambiente (15 / 07 / 2008).