segunda-feira, 24 de agosto de 2009

POR UMA GEOGRAFIA CULTURAL
*Eraldo Amorim
A ciência geográfica realmente tem evoluído. Esta afirmação anos atrás poderia não ser aceita, refutada ou até mesmo ser impossível. Mas é um fato não apenas para a Geografia como também para todos os ramos do conhecimento, sendo muito difundida a integração entre eles. Hoje podemos conceber a Geografia como a ciência que estuda não apenas a Terra com suas características físicas, mas acima de tudo a ação do homem no espaço, marcada pelo progresso, construção, destruição, e impulsionada por suas mais variadas expectativas, transcorrendo pelo âmbito social, político e econômico.
De fato, a Geografia Cultural, ou Geografia da Cultura, tem dado passos significativos no Brasil, precisando ainda evoluir e ser bem aceita pelos pesquisadores desta área. Estudando os costumes da época de um determinado povo, sua cultura e meio ambiente, podemos compreender a transformação do espaço, além de enriquecer a ciência geográfica, valorizando-a, sem desvirtuá-la do seu papel primordial. Aliados às outras ciências humanas como a Sociologia, Antropologia Cultural, História, Psicologia e Filosofia, os geógrafos adeptos da Geografia Cultural podem formular conceitos, ampliar o conhecimento sobre a humanidade e, consequentemente, sobre o espaço habitado e transformado pela sociedade de qualquer época e região na história.
Negar ou esconder a influência das Religiões, por exemplo, no processo de mudança e posse do espaço, é, no mínimo, subestimar este aspecto tão presente e marcante nas mais diversas sociedades, sejam elas antigas ou contemporâneas. O fato é que as Religiões nunca irão desaparecer do planeta, pois podemos comprovar que quanto mais os meios técnico-científicos evoluem, mais a visão religiosa se faz presente no inconsciente coletivo, afetando e transformando o espaço habitado. As Religiões estão em constantes mudanças, ampliando e atuando em outros territórios. Os efeitos dos seus dogmas e liturgias fazem do homem um ser capaz de atuar de forma individual ou coletiva, tendo assim, concepções do Sagrado, atuando em determinado espaço, ora profano, ora divino. Como tão bem nos afirma Zeni Rosendahl, professor Adjunto da UERJ (1997): “(...) É por meio dos símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade. É o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que possibilita ao homem entrar em contato com a realidade transcendente chamada de “deuses” nas religiões politeístas e “Deus” nas monoteístas”.
No espaço sagrado também o tempo é sagrado. Em virtude de algumas datas marcantes e comemorativas muitas cidades espalhadas pelo mundo tornam-se por um determinado tempo um lugar atrativo, promovendo o desenvolvimento do turismo religioso. Aqui no Brasil esse deslocamento de pessoas com este fim é chamado de romarias, tendo em vista a romanização vivenciada no século XIX. Em alguns lugares, ou locais específicos em sua volta, é fácil detectar certos aspectos políticos e econômicos atuando conjuntamente. Assim acontece em cidades tais como: Juazeiro do Norte-CE (Juazeiro do Padre Cícero), Canindé-CE, Aparecida-SP, Belém do Pará (Festa do Círio de Nazaré), Mossoró (Festa de Santa Luzia) e outras, onde a religião popular demonstra a sua capacidade de atuação e transformação do espaço. Meca, Jerusalém, Roma, Fátima, Lourdes, Pádua, Assis, além do Rio Ganges para os hindus, são alguns outros exemplos de Hierópolis (lugares urbanos sagrados), que só nos ajudam a compreender a Geografia Cultural como uma área cientifica importante e que deve ser cada vez mais reconhecida. “A geografia cultural é, em primeiro lugar e sempre, geográfica. Trata essencialmente da superfície terrestre, empregando métodos usados por todos os geógrafos. De fato, o geográfico que somente estuda áreas culturais, paisagens culturais ou ecologia cultural pode se denominar adequadamente de geógrafo cultural, mesmo que desdenhe temas conectados, pois o seu objeto é a superfície terrestre sob a influência da cultura” (Philip L. Wagner e Marvin W. Mikesell, 1962).
Entretanto, não somente as religiões atuam no espaço com seus templos, liturgias e devoções. São inúmeros os aspectos da vida social que transformam e se engajam no território geográfico cultural. Eventos esportivos e musicais, festas populares, feiras livres e outras manifestações culturais permanentes ou periódicas, também afetam o espaço geográfico com todas as suas complexidades, conflitos e adaptações. Estudar Geografia Cultural é levar em consideração que a Cultura é um elemento indispensável na construção do espaço, observando a sua dinamicidade e incorporação de outros elementos, tais como: políticos e econômicos.
Podemos concluir afirmando que ao estudarmos a Geografia, numa perspectiva Cultural, não estamos reduzindo-a ou igualando-a a outras ciências humanas, mas agregando valores importantes ao defendermos sua integração com outros ramos científicos. Ou seja, estudando melhor a Geografia sob o aspecto Cultural estaremos entendendo que o espaço em que habitamos é constituído por diversos fatores que se relacionam entre si.
Campina Grande, 17 de Agosto de 2009.
* Professor de Geografia.