terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FESTA DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR!

FESTA DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR!
* ERALDO AMORIM


Estamos em clima de festa, é tempo de confraternização, de 13º salário, de peru assado, vinhos, queijos, doces, luzes, festa, presentes, papai noel com chegada festiva, shopping center cheio, tempo em que o nosso coração fica mais sensível para com os pobres e famintos, campanhas de alimentos... Mas o que significa mesmo este tempo?

A festa do Natal tem sua origem numa festa pagã, onde em determinadas regiões dominadas pelo Império Romano se celebrava no dia 25 de Dezembro a festa do deus Sol. Após uma longa noite de escuridão, no hemisfério norte acontece o solistício de inverno (23 a 24 de dezembro), o sol reaparece para aquecer os pobres viventes da terra após o breu total. Ele, o sol, vem trazendo vida, colheita, prosperidade e muita, mas muita alegria para aquele antigo povo que se perdeu na história.
O cristianismo que no decorrer da história vai se incorporando a realidade do Império, faz desta festa pagã um meio de evangelização e assim defende que Jesus Cristo é o verdadeiro e único sol da nossa existência, aquele que os profetas anunciaram. Ele é sol que nos ilumina, sem ele estávamos vagando nas trevas do medo, do pecado e da morte. Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história, é Deus encarnado e revelado.
Mas só podemos compreender o verdadeiro significado do Natal sob a ótica da Ressurreição. Isto mesmo. Só através da meditação da Páscoa do Senhor é que vamos compreender o real propósito da festa natalina. Percorrendo o intenerário da fé pascal e fazendo a experiência da vida que vence a morte é que vamos fazer deste festa uma verdade de fé cristã. Caso contrário, a celebraremos ainda de forma pagã, comercial e figurativa.
O mesmo Jesus na nasce em um estábulo de ovelhas, rejeitado por todos da pequenina cidade de Belém, é o mesmo que passou a vida pregando o amor, o perdão, a inclusão, a justiça e a fraternidade. É o mesmo menino pobre, que agora feito homem, se cinge com a toalha (gesto do servo) para lavar os pés, é o mesmo que comeu com os pecadores, sarou os enfermos, tocou o leproso, e soube ouvir a mulher adúltera e samaritana. Aquele menino, que muitas vezes ofuscamos com as luzes do comércio e com a imagem capitalista do Papai Noel, é o mesmo que foi julgado injustamente por ter amado demais, por ter falando das coisas do céu e dos enseios mais profundos do ser humano.
No Natal não existe magia, não há lugar para sonhos e muito menos lugar para devaneios utópicos. O Natal é uma realidade, é a mais profunda verdade humana. Bom seria que ao celebrarmos esta festa tivessemos a certeza de que Jesus é o Emanuel - Deus Conosco - e que por meio de sua encarnação e ressurreição ele assumiu toda realidade cósmica e humana. É a magnifica união entre o céu e a terra, algo extremamente desejo por Deus Criador e pela criatura pobre e indefesa, que perdeu a dignidade da luz.
O caminho agora está aberto para nós, é esta Boa Notícia que os anjos cantavam naquele noite aos pastores. Na linguagem escrita do evangelista São Lucas, a noite estrelada indicava que algo de extraordinário havia acontecido: o Eterno se fez passageiro, o Ilimitado se fez limintado, o Todo se fez parte. É Deus encarnado e revelado numa pequenina face infantil. Tão grande mistério de amor e de paz!! Esta criancinha tão frágil e pequena veio nos trazer vida plena. Mas ela também nos julga, e o seu julgamento é correto, pois ela sendo Luz ilumina as nossas fraquezas, culpas e omissões; entretanto, mostra a cada um as virtudes e os defeitos contidos dentro da gente.
Que neste Natal tenhamos o firme propósito de contemplar o rosto de Deus em cada pessoa humana, principalmente naqueles mais marginalizados e excluidos. Façamos deste período um tempo propício para avaliarmos as nossas ações e hatitudes. Que Belém seja a nossa cidade preferida e que o presépio esteja dentro de nós em todos os dias do Ano Novo que se aproxima.
Que a Paz reine entre a humanidade! Assim Seja!
*Geógrafo, Teólogo e Professor.
(Campina Grande, 23 de Dezembro de 2008).

COM MARIA ESTAMOS A SERVIÇO DA VIDA E DA ESPERANÇA!


COM MARIA ESTAMOS A SERVIÇO DA VIDA E DA ESPERANÇA!
* ERALDO AMORIM
Vivenciamos no último dia 08 de dezembro, mais uma festa da padroeira da nossa diocese, da cidade de Campina Grande e da paróquia da Catedral.Foram momentos inesquecíveis de fé, de esperança e de amor a nossa padroeira. Momentos fortes de reflexão sobre a vida, a dignidade humana e sobretudo sobre a nossa realidade diocesana, pastoral e cristã.O Novenário, preparado com muito esmero e dedicação pelo administrador paroquial e vigário geral da Diocese, Pe. Márcio Henrique, foi uma fonte rica de muita oração, contemplação e de paz. Merece o nosso reconhecimento pelo conteúdo rico e bastante pertinente. Parabéns!
A Catedral ficou lotada todas as noites, os fiéis participaram com bastante entusiasmo. E após a missa, íamos todos para o pátio participar dos momentos festivos regados com músicas ao vivo para todos os gostos: forró, seresta romântica, louvor... além de muita comida, bebida e conversas de amigos.O ponto alto foi realmente o dia 08 de dezembro. A missa da alvorada, como de costume, atraiu centenas de pessoas logo bem cedo. Depois veio o estimável "Café da Manhã com Maria", momento propício para revigorar as energias, se confraternizar e acima de tudo fazer um gesto de acolhida aos romeiros (pessoas que vieram de longe) e aos que muitas vezes não têm um café da manhã. Aqui registro a participação dos jovens (EJC, Crisma) que deram a sua contribuição a este momento impar da nossa festa. Com certeza agradou muito a Mãe da Conceição.
Mas continuando o nosso louvor, o dia 08 de dezembro culminou com a Missa Solene presidida por Pe. Márcio (devido a ausência do nosso bispo diocesano Dom Jaime que estava participando do sepultamento do então Pe. Paulo Roberto, da paróquia de Sumé), e concelebrada pelos padres Marcos e Afonso. Agradecimento especial ao Colégio das Damas que usando de uma sensibilidade tremenda nos brindou com a Entrada da Palavra muito emocionante. Fiéis derramaram lágrimas ao verem uma jovem representando Maria, trazendo a Bíblia e com seu manto cobrindo toda a assembléia.À tarde, a procissão reuniu milhares de pessoas devotas que saindo pelas ruas da cidade louvavam a Deus e a Maria, sua Mãe. O nosso Bispo Diocesano desta vez presidiu a celebração, reascendendo a fé do povo. Sua homilia destacou a importância do Tempo do Advento para nós, na expectativa de acolhermos o Menino Jesus e na esperança de transformarmos a realidade sofrida em que vivemos.
O Pastor Diocesano falou sobre a nossa responsabilidade perante a evangelização, reafirmando o nosso compromisso missionário perante tantos jovens estudantes que as Universidades Campinenses atraem. Ressaltou também o desejo de colocar em prática as prioridades da evangelização diante do mundo globalizado, marcado com os sinais da violência, da fome, e da falta de solidariedade. Dom Jaime conclamou todos os meios de comunicação a lutar em favor da paz, afim de que diminua os assaltos, os assassinatos, e a morte de tantos inocentes. O Bispo terminou a sua pregação ressaltando a peregrinação da imagem pequenina da Conceição por toda a Diocese, começando pela paróquia de Massaranduba. E finalizou desejando um feliz e abençoado Natal.
Por fim, quero parabenizar o Pe.Márcio por mais esta iniciativa. Mas também dizer que a participação dos fiéis leigos da paróquia da Catedral, bem como os agentes de pastorais e movimentos foi importante e que sem eles a festa não teria o mesmo sucesso. Grande parte esteve presente ajudando a fazer esta bonita festa. Deus seja louvado, por cada vida doada a serviço da sua Igreja. Que tenhamos sempre mais o desejo ardente de servir, trabalhando para que o Reino de Deus aconteça entre nós! Amém!!!

* Geógrafo, Teólogo e Professor.
12 de Dezembro de Campina Grande –PB

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

ALDO PAGOTTO

Aldo Pagotto: Um bispo de duas personalidades.
Ás vezes tenho saudade dos dois últimos arcebispos da Paraíba: Dom José Maria Pires e Dom Marcelo Pinto Carvalheira. Pois ambos não se misturavam com a política nos seus bastidores mais mesquinhos e nojentos como faz o atual arcebispo, Aldo Pagotto.
Logo quando chegou à Paraíba começou a causar polêmica. Disse em rede estadual que não toleraria padre na política partidária, nem que fosse para lutar em favor dos mais necessitados.
Ele pensa que nos engana. Mera ingenuidade de quem acreditou, pois o que vemos é um bispo que já até apareceu em guia eleitoral, faz parte do comitê pela transposição do Rio São Francisco (que não deixa de envolver políticos e a dividir opiniões na sociedade) e agora, por último, vem se apresentando na televisão falando de corrupção na política (desvio de dinheiro público para campanha eleitoral).
Tudo poderia ser um ato cristão se a atitude do arcebispo não fosse apenas unilateral. O senhor Aldo Pagotto faz política partidária sim, e os mais inteligentes sabem de qual lado ele está.
Ele defende um governo que controla há mais de vinte anos a cidade Campina Grande como se fosse um coronel nos tempos antigos da ditadura e do voto de cabresto. Como se não bastasse, ele está de maneira sutil, discreta, mas notória, do lado de um governo que já foi cassado duas vezes por uso indevido de dinheiro em campanha eleitoral.
Dom Aldo Pagotto é uma vergonha para os católicos. Ele tem duas personalidades. Deveria cuidar das suas ovelhas famintas e desgarradas do seu rebanho. O papel do bispo é de conscientização e de denúncia, mas principalmente é dever do pastor católico ser coerente com aquilo que diz.
Ele precisa saber que a Idade Média já era. O papel de investigar e de punir os culpados (se houver) é do Ministério Público e Justiça Eleitoral. O arcebispo não tem nada que ir às vésperas da eleição fazer denúncias que já estão sendo investigadas pelos órgãos competentes, e como se fosse “garoto propaganda” de partido político dar lição de moral.
Se a sua intenção não era de dividir o rebanho católico, quero aqui dizer, que isto ele já está fazendo ao se expor e a se meter em assuntos que nem fazem parte da sua diocese. Penso que tem assuntos mais urgentes a tratar dentro da Igreja Católica.
Mas um questionamento não quer calar. O que tem ganhado o arcebispo da Paraíba para defender tanto um governo que ainda está em pé por força liminar da justiça?
Quando saiu a decisão do TRE sobre a cassação, o arcebispo em questão foi incapaz de lançar uma nota de repúdio na imprensa ou ir aos meios expor sobre o assunto. Preferiu ser omisso. E por que agora az em plena semana eleitoral? Será algum acordo acertado na calada da noite? Se for, os fiéis católicos e o povo em geral precisam saber que tipo de acordo tem firmado este senhor com o governo atual.
Não duvido que nas próximas eleições teremos um arcebispo candidato a governador. Aliás, será que é por isso que ele não tolera padre na política? Pois os padres seriam seus principais concorrentes.

“Quem vota em políticos corruptos, vota na morte”. O senhor arcebispo é a própria morte!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

ELEIÇÕES 2008

ELEIÇÕES 2008. QUEM GANHA COM ESTA DISPUTA?

* Eraldo Amorim

Mais uma vez estamos diante de uma disputa eleitoral: projetos, promessas escabrosas, insultos, simpatia, “tapinhas” nas costas, panfletos, bandeiras, comícios, exploração dos pobres, compra de voto (por mais que a justiça repreenda), troca de favores... e quem ganha com tudo isto? Dizem por ai que é essa tal de democracia. Será? Tenho lá minhas dúvidas. Será que vivemos, de fato, numa? Ou ainda estamos aprendendo a vivenciá-la?

De quatro em quatro anos presenciamos a disputa de alguns ao maior cargo municipal, o de prefeito, e de quebra, também de umas dezenas de candidatos (alguns hilariantes), aqueles que a maioria da população não sabe nem quem são. A propósito, você eleitor, lembra de pelo menos o nome da metade daqueles que legislam em seu município? Parabéns se você sabe. Mas esta não é a realidade da maioria da população. Muitos eleitores nem lembram e muito menos sabem o que eles fazem na câmara.

De maneira equivocada afirmamos que este ano é tempo de política, como se os outros anos não fossem. Cidadão consciente não é aquele que participa da escolha dos governantes apenas no período eleitoral, mas que fiscaliza, cobra as promessas feitas, exige honestidade, reivindica seus direitos, se intera sobre os assuntos, critica e participa das mudanças. O desafio é fazer o cidadão comum conscientizar-se do seu potencial político, engajar-se no comprometimento pelo bem comum. Fato longe de acontecer, mas não impossível. Só uma educação política eficaz poderá trazer.

A democracia se fortalece cada vez mais quando se sabe utilizar bem os recursos para uma boa escolha e também quando se acompanha, de maneira transparente e limpa, a atuação dos representantes do povo. Neste sentido, a justiça eleitoral, juntamente com outros órgãos (a OAB, por exemplo) tem se dedicado bastante. Mas não se modifica uma cultura política do “toma lá, dá cá” assim, de uma hora pra outra. Isto requer tempo, paciência e determinação. São louváveis as iniciativas da justiça em coibir abusos no que diz respeito à disputa eleitoral, principalmente sobre a venda e compra de votos. Um fato que nos envergonha.

Quem compra voto visando apenas um cargo público já começa errado e não tem capacidade moral de dirigir a sua própria vida, que dirá a de uma nação, de um estado ou município. O que fará com o dinheiro público depois de eleito? Quem compra voto é um péssimo candidato, pois não sabe e nem consegue convencer seus eleitores que ele tem as melhores propostas.

Mas é criminoso também quem vende seu próprio voto. O eleitor que vende a sua consciência está também cometendo um delito, uma falcatrua, roubando a si mesmo. Diante das dificuldades financeiras pelas quais passa, lança mão desse recurso. Eleitor desonesto gera políticos desonestos e legitima a corrupção. Por isso, o papel importante da justiça em fiscalizar e punir os compradores e vendedores de voto, mesmo aqueles que têm melhores condições querem se beneficiar do momento “tirando uma casquinha”.

Etimologicamente, “Democracia” é o povo no poder. Só é possível vivê-la plenamente quando o povo tem consciência deste encargo e quando, acima de tudo, sabe ocupar o seu espaço, não ficando a mercê apenas das oligarquias elitizadas e burguesas que controlam a política. Sabiamente, o povo politizado exige os seus direitos, cobra políticas públicas eficazes e tem em mente que é o verdadeiro dono do poder, que o governante é na verdade o seu funcionário pago com os tributos para trabalhar em beneficio de todos.

Dia 05 de outubro é dia de festa, a festa da Democracia. Vivamos este momento sem ódio, sem mentiras e sem falcatruas. Que todo cidadão seja respeitado e que seja resguardado o seu direito de votar consciente e livremente. É hora de fazer valer nosso direito de expressar em quem e em que acreditamos, buscando sempre a valorização daquilo que é do bem-comum.

Que Deus nos ilumine, nos assista neste momento! E que tenha compaixão de todos nós, principalmente daqueles que sabem fazer uma política verdadeira e honesta.

* Teólogo, Geógrafo e Professor.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

SER CRISTÃO HOJE

CRISTÃO NO MUNDO DE HOJE.
* Eraldo Amorim

Ser cristão no mundo de hoje é o tema deste artigo, de fundamental importância para os cristãos; Mas também é uma reflexão que a Igreja vem fazendo no decorrer de sua história, levantando questões, enfrentando obstáculos e acima de tudo anunciando o evangelho mediante os tempos que lhes impõem incertezas, descrença em Deus e no próprio Homem.
O que significa ser cristão hoje? Vale a pena ser cristão? Quais os novos questionamentos que mundo moderno impõe ao ensinamento de Cristo e consequentemente ao da Igreja? Como nós, cristãos de hoje, nos posicionamos diante das novas tentativas de qualificar o cristianismo como uma mera filosofia ultrapassada? O que ainda nos faz confessar Cristo como Senhor e Fundamento da nossa fé? É uma opção pessoal, livre e consciente? Ou é apenas mais um fator cultural e externo que nos faz abraçar a fé Naquele que se diz “enviando do Pai”? São questões para a nossa reflexão e que deve nos inquietar diante de tantos desafios.
Uma vez Jesus chegou à região de Cesaréia de Filipe e perguntou aos discípulos o que o povo pensava sobre Jesus (Cf. Mt 16, 13 – 20). A resposta foi plural e por isso mesmo uma verdadeira confusão. O povo não sabia de fato quem era Jesus, não havia segurança e discernimento. Confundiam Jesus com João Batista, Elias, Jeremias “ou alguns dos profetas” do Antigo Testamento. Em seguida, Jesus perguntou aos próprios discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Hoje Jesus nos faz esta mesma pergunta. Quem é Jesus para nós? Para os não cristãos Jesus é apenas um homem admirável, um profeta que passou a vida fazendo o bem e que por isso pode ser igualado com figuras históricas da humanidade e de até com fundadores de outras filosofias religiosas orientais. Mas no interior da própria comunidade cristã encontramos muitos cristãos, homens e mulheres batizados, que pensam que Jesus não passa de um profeta, um ser simples e com grande sabedoria. E assim, tem-se o perigo de confundir Jesus como um mágico, alguém que desceu dos céus para resolver todos os nossos problemas, não assumindo assim o seu projeto de vida.
Hoje mais do que nunca precisamos redescobrir o real significado do “ser Cristão” num mundo pluralista e que nos apresenta novos deuses, novos encantos e nos distancia cada vez mais da essência do cristianismo que Jesus veio propagar. Filosofias religiosas diversas, globalização do pensamento religioso fundamentado no imediatismo, triunfalismo, individualista e longe do próximo, eis o terreno no qual o cristão está segurado e que muitas vezes se torna alheio aos problemas coletivos da sociedade; numa falsa espiritualidade que não olha em volta na intenção de ter um olhar crítico para uma mudança na estrutura que o cerca.
Não restam dúvidas de que o mundo pós-moderno nos trouxe grandes conquistas. O homem conseguiu evoluir no conhecimento científico e tecnológico. São inegáveis as contribuições da medicina para a qualidade de vida da humanidade. Não podemos esquecer do desenvolvimento nos setores de comunicação, de transporte e de produção de alimentos. Todos esses avanços foram conseguidos graças a inteligência do Homem, dávida de Deus. Mas o que vemos é uma profunda desigualdade na utilização desses recursos. Ao mesmo tempo que o Homem cria o antibiótico e descobre novos planetas, recusa dividir o que tem com os famintos e inventa a arma nuclear. Cresce cada vez mais a exploração do Homem sobre o Homem; e do Homem sobre a Natureza.
Adverte-nos o Documento de Aparecida (§ 61): “A globalização, tal como está configurada atualmente, não é capaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos que se encontram além do mercado e que constituem o mais importante da vida humana: a verdade, a justiça, o amor, e muito especialmente a dignidade e os direitos de todos, inclusive daqueles que vivem à margem do próprio mercado”. Cresce em nosso meio a concorrência entre as pessoas, denúncias de corrupção, a violência e o narcotráfico, os assaltos, seqüestros e os assassinatos se tornaram freqüentes, a fome ainda assola grande parte da população brasileira e mundial, avanços de doenças e epidemias, desestruturação familiar, hedonismo, além dos desastres ecológicos (aquecimento global, queimadas, poluição dos rios e oceanos, matança de animais, biopirataria).
Diante de todos esses problemas Jesus continua nos perguntando: “E para vós (discípulos meus) quem eu sou?”. A resposta de Pedro é reveladora e fiel: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. É uma resposta que revela a verdadeira identidade de Jesus e por isso Pedro se torna “pedra” de uma nova construção - a sua Igreja – comunidade dos convocados a construir uma nova sociedade, baseada no amor e na justiça. É para isso que serve a Igreja: dar testemunho vivo Daquele que nos redimiu, que passou a vida fazendo o bem, curando a todos os enfermos e libertando os mais necessitados.
Continuando a leitura de Mateus (21 ss), percebemos que esta missão da Igreja não acontece de qualquer maneira ou ao nosso modo de pensar. Pedro é repreendido por Jesus e por não entender a verdadeira missão é chamado de Satanás (inimigo) e de pedra de tropeço. A Igreja deve no mundo ser continuadora da missão de Jesus e por causa disso sofrer, doar a vida. “Quem quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga”. Jesus não prometeu vida fácil e triunfalismo, mas cruz – aquela que redime e salva.
A missão do discípulo de Jesus - ontem, hoje, amanhã e sempre - tem gosto de cruz. Mesmo diante de tantas dificuldades e obstáculos, em meio a tantas perseguições e indiferenças, o cristão de hoje deve ter a certeza de que Jesus não abandona aquele que ele mesmo escolheu. Recorremos novamente ao Documento de Aparecida (§ 134): “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade, ‘no aspecto mais paradoxal de seu mistério, a hora da cruz. O grito de Jesus: ‘Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes? ’ (Mc 15, 34) não revela a angústia de um desesperado, mas a oração do Filho que oferece a sua vida ao Pai no amor para a salvação de todos”.
Mediante a fé no Cristo morto e Ressuscitado, o cristão de hoje deve cultivar a esperança e lutar para que o mundo seja cada vez melhor, não perdendo de vista o ensinamento do Mestre e nem tentando viver a missão do seu jeito, numa atitude egoísta, mas buscando viver em comunhão com Deus, consigo mesmo, com a Igreja e com os irmãos, alicerçando a sua fé no único fundamento que é Cristo Jesus.
Sem medo de se misturar ao mundo como fermento na massa (Cf. Mt 13, 33), o cristão moderno dialoga com aqueles mais afastados, busca a ovelha perdida (Cf. Lc 15, 6), se integra aos assuntos da política, da economia, das artes e do esporte, não se cala diante das injustiças e não se permite ficar calado diante da dor de tantos irmãos que sofrem. A missão do cristão batizado é ser um novo Cristo na realidade histórica que o cerca, fazendo a vontade do Pai (Jo 5, 30 ; 6, 39 s).
Portanto, ser cristão não é simplesmente como torcer por um time de futebol, ou partido político, mas ser sal e luz do mundo (Mt 5, 13ss), abraçando a cruz e espalhando o amor e a paz que Cristo nos oferece. Sejamos cristãos, missionários do Senhor, para que o mundo seja melhor e que a humanidade reconheça que sem Deus é impossível caminhar e ser feliz.
Estejamos preparados para momentos difíceis na vida, sem jamais perder o ânimo e a segurança no Senhor. Como diz São Paulo, nada nos afastará do amor de Deus, nada poderá nos desviar dos seus caminhos e da sua misericórdia (Rm 8, 35ss). Mesmo que as dificuldades sejam muitas, que tentem sucumbir os valores cristãos, mesmo que morte esbanje o seu falso poder e semeie a discórdia, nunca devemos fraquejar ou desesperar. Tenhamos ânimo, força e coragem (Jo 16, 33), pois Cristo venceu. Ele é a nossa segurança e o nosso refúgio.
(Campina Grande, 30 de agosto de 2008).
* Teólogo, Geógrafo e Professor.

terça-feira, 22 de julho de 2008

PEDAÇOS HUMANOS EM LIXÃO DE CAMPINA GRANDE.

Pedaços de corpo humano no lixão: o homem aos pedaços!

Eraldo Amorim.

Mais um carro de coleta de lixo urbano chega ao lixão de Campina Grande. É dia 10 de julho de 2008 e como de costume despeja seus resíduos. Ao encontrar um saco fechado e ao abri-lo, uma catadora se depara com algo macabro e inusitado: cerca de 200 pedaços humanos cortados, provavelmente de uma mulher. O caso é denunciado e em seguida se cria especulações: seria mais um crime a desvendar? O IML encaminha o achado para perícia e com menos de uma semana já se confirma que os restos mortais são lixo hospitalar, provenientes de amputações, só não se sabe de qual Hospital saiu o tal material, e justamente para um lugar que não deveria ter ido.
Quem praticou este ato não pensou nas conseqüências que poderia causar, ou no mínimo não tem noção da gravidade ambiental, e muito mais do que isto, não apresenta a mínima noção de ética profissional. É decepcionante, em se tratando de um conhecedor da área de saúde e da sua legítima importância para a sociedade.
Este é um fato que merece repercussão nacional. É mais um atentado contra a saúde pública. Todos nós sabemos que o melhor ou o mais correto destino para o devido lixo seria incinerá-lo, de forma discreta e respeitosa. Mesmo se tratando de partes de corpo doente, necrosadas ou não continuam sendo partes humanas. Não é o todo, mas parte do todo. Sem falar que por traz de cada órgão ou membro dilacerado pela enfermidade, existiu alguém que passou por sofrimentos e teve uma história de vida.
Não é hora dos órgãos públicos (curadoria do Meio Ambiente e a Secretaria de Saúde) investigarem e punirem os culpados pelo descaso ocorrido? Pois além de serem restos humanos tratados como algo qualquer, o referido fato demonstra que, em parte, o lixo hospitalar não está sendo tratado com seriedade, como prevê a lei ambiental, e que deve encarado como resíduos que podem causar sérios danos ao meio ambiente e pôr em risco a saúde pública. Foi um ato irracional e no mínimo incompetente de quem o praticou.
Esperamos que, fatos como estes, não ocorram novamente, pois isso representaria, mais do que vem acontecendo, uma banalização da violência contra aquilo que temos de mais sagrado, o nosso corpo. Diante de tudo isso até que ponto nós estamos valorizando a ética profissional e respeitando os direitos do cidadão e cumprindo as leis ambientais vigentes? Ou ainda, será que o fato ocorrido no lixão de Campina Grande, bairro do Multirão, não nos remete a um pensamento social e filosófico a respeito da vida e do corpo?
Pensemos sobre isto.
Geógrafo, Teólogo e Especialista em Meio Ambiente (15 / 07 / 2008).

TRABALHO INFANTIL

Trabalho Infantil, uma Vergonha Nacional

Eraldo Amorim.

No Brasil, o trabalho infantil ainda continua sendo um grande desafio social, uma mazela a ser combatida. Entra governo e sai governo, e tudo termina sem que um problema que vem deste o período do Brasil Colônia, quando crianças indígenas e africanas eram submetidas a trabalhos forçados, seja encarado de forma séria e responsável.
Devido às condições sócio-econômicas da maioria do povo brasileiro, criou-se uma falsa concepção de que começar a trabalhar cedo é sinônimo de honestidade, compromisso e de um futuro melhor. Esta afirmação tem certo teor de verdade. Quem não conhece alguém que durante a infância trabalhou para ajudar em casa e que na fase adulta tornou-se uma pessoa trabalhadora e até mesmo bem sucedida? O fato é que no passado o mercado não era tão competitivo, as exigências eram outras e o contexto social e econômico era totalmente adverso. Anos atrás a educação pública era de boa qualidade e, além disso, o adolescente podia facilmente conciliar o serviço com o seu horário escolar. Atualmente, diante de um contexto globalizado, excludente e cada vez mais exigente em que vivemos, é difícil para um jovem conciliar escola e trabalho. Salários baixos, alto custo de vida e novos objetos e formas de consumo que grande parte dos jovens consumidores não consegue acompanhar, a opção ficou restrita a uma escolha que poderá acarretar conseqüências para o resto da vida. E assim, ainda em fase de crescimento físico e psicológico, o individuo é instigado a trabalhar para ajudar a manter a casa.
São muitos os motivos pelos quais o trabalho infantil vem crescendo no Brasil, e principalmente no Nordeste. Tanto na zona rural quanto na zona urbana, o problema é preocupante. Em muitos casos os pais atravessam momentos difíceis, como por exemplo, cumprindo pena em regime fechado em presídios, encontrando-se desempregados, doentes, ou até mesmo trabalhando na economia informal para sobreviver. Os filhos são forçados a deixar a escola e entrar no mundo do trabalho, diminuindo assim uma possível ascensão social e aumentando o desinteresse pelos estudos.
Na realidade, o que se percebe é a falta de políticas públicas que impeçam crianças e adolescentes a enveredar por este caminho, que na maioria das vezes são exploradas e induzidas a realizar “trabalhos” ilícitos como a prostituição e o tráfico de drogas. Mas apenas isso não basta. Toda a sociedade tem que começar a compreender que lugar de criança é na escola, mas uma escola de qualidade, que cultive no aluno o interesse, que dê aos profissionais da educação meios e condições de acompanhar, formar, desenvolver e preparar as crianças e os adolescentes para o mercado de trabalho. Dá esmola em semáforo, comprar amendoim torrado em plena madrugada a uma criança, ou ainda engraxar sapato numa praça movimentada, não resolvem nada. O Estado, assim como a família, tem que fazer a sua parte. Não adianta também construir presídios ou casas de recuperação para menores de infratores, se não há uma mínima estrutura de readaptação à sociedade.
“A melhor escola é a vida”, diz o ditado popular. Embora esta afirmação tenha um pouco de fundamento e esteja se referindo ao ensino informal, nenhuma instituição por mais avançada que seja não substitui uma boa escola de ensino formal e familiar, estas são os alicerces do caráter, os fundamentos daqueles valores que levaremos por toda a vida. Falta o resgate da dignidade humana, valorizar mais a Escola e a Família, como lugares privilegiados de formação do cidadão e da cidadã. A Escola, principalmente a pública, tem que ser transformada em lugar atraente. O Ideal seria uma instituição que oferecesse diversas formações (profissionalizantes, artes e esporte) e o fundamental: apoio à família dos mesmos. Dando-lhes total apoio e assistência social e financeira. Assim, de fato, estaríamos combatendo o trabalho infantil e não apenas instigando discursos demagógicos que não resolvem nada.

Geógrafo, Teólogo e Especialista em Meio Ambiente (15 / 07 / 2008).

sexta-feira, 20 de junho de 2008

PROIBIÇÃO DE FOGUEIRAS??

“São João sem vender lenha para fogueira!”
Por uma cultura em defesa do Meio Ambiente.

*Eraldo Amorim

Mais uma iniciativa louvável do Ministério Público é a proibição da venda de lenha destinada à queima no período junino. Mesmo levando em consideração o aspecto cultural e religioso, muito mais o primeiro do que o segundo, esta liminar da justiça reforça a preocupação e a atuação dos órgãos públicos pela preservação do Meio Ambiente, preocupação esta que deve ser de todo cidadão e cidadã. Há muito tempo que os nossos festejos juninos já não são mais os mesmos, que as nossas quadrilhas não têm os mesmos compassos, e que boa parte do forró que faz sucesso é um “produto enlatado” de péssima qualidade, fazendo apologia à pornografia, à prostituição e ao uso da bebida. O pior cego é aquele que não quer ver.
Os textos bíblicos, pelo menos os canônicos, não relatam em nenhum versículo a existência de uma fogueira para anunciar o nascimento de João Batista, muito menos durante o evento martírio de São Pedro e São Paulo, ou no instante da morte de Santo Antônio. Por isso afirmo que a Tradição de acender fogueira é muito mais um aspecto cultural, antropológico, do que teológico e bíblico. Sendo assim, a Igreja não tem dever nenhum em se pronunciar a favor de tal costume, até mesmo porque a Tradição Cristã Católica sai em primeiro lugar em defesa da vida, inclusive da fauna e da flora. Deve-se perceber que o discurso religioso sobre este assunto vem à tona com maior facilidade e repercussão. Por que outros temas, cujos fundamentos teológicos e bíblicos, que são defendidos pela Igreja não causam tanto alvoroço?
É bom lembrar que em 2007 a Campanha da Fraternidade refletiu sobre a Amazônia e sobre todos os problemas que envolvem a degradação do Meio Ambiente. Qualquer iniciativa que venha somar ao propósito de preservar a natureza deve ser acolhida com entusiasmo e alegria, mesmo que cause mudanças na concepção cultural, pois a Amazônia é aqui, é o nosso lar, o nosso bairro, nossa Terra.
Nenhuma cultura, por mais milenar que seja não é estática, mas sim, dinâmica. Dessa forma, deve-se enquadrar de acordo com a realidade. Segundo estudos da Embrapa Algodão, 65% do estado da Paraíba estão se transformando em deserto, ou seja, se tornando impróprio para o cultivo. Fatores como o aquecimento global, a criação de animais e a agricultura (não acompanhados de técnicas adequadas de manejo), além do desmatamento desenfreado, estão aumentando a desertificação, não somente em nosso estado mais em boa parte da região nordeste.
Portanto, não podemos nos dar ao luxo de, em pleno processo de aquecimento global e desastres ambientais cada vez mais globalizados e catastróficos, desmatarmos a mata nativa e queimar lenha em nome de uma tradição que pode ser mudada, dependendo do grau de consciência da população. Já bastam as panificadoras, as carvoarias e as olarias que queimam lenha o ano inteiro em seus fornos.
Outro fator que não podemos deixar de ressaltar é que a fumaça liberada pela queima de madeira (CO2) causa danos irreparáveis à saúde humana. Hospitais ficam superlotados de crianças e idosos com problemas respiratórios, isto sem falar no caos do tráfego aéreo por conta da invisibilidade por milhares de quilômetros.
A crítica recai sobre esta liminar, no que diz respeito à maneira como se propõe a mudança. Pensa-se que o melhor caminho seria através do diálogo e da conscientização. Mas na realidade, a situação ambiental é desastrosa e não podemos esperar. Esta medida é, a curto prazo, uma maneira de coibir, desde já, as causas dos desastres ecológicos, baseando-se na certeza de que a população irá a logo prazo se conscientizar do grave problema que enfrentamos.
Campanhas educativas nas escolas, nas igrejas, nas SAB´s – Sociedades de Amigos de Bairro, nos meios de comunicação (...) podem ajudar bastante nesta luta. Precisamos aprender de uma vez por todas que os recursos naturais são finitos e que estão chegando ao fim, de maneira rápida. Quando derrubamos uma árvore, inconscientemente e sem pensar num reflorestamento, estamos também matando várias espécies de pássaros, insetos e animais provenientes da flora e da fauna, daquele bioma. Nenhuma cultura deve estar acima da dignidade da Criação.
Façamos do nosso “São João” um evento em favor da vida: sem fogueira e sem balão! Sem mortes e sem destruição. Mudemos a maneira de lidarmos com a natureza e com os seres vivos que lhes pertencem. Assim, será a nossa melhor homenagem aos santos juninos!

*Teólogo, geógrafo e especialista em Meio Ambiente. (16 / 06 / 2008).

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA!

“Marcha pela Maconha”. Era só o que faltava!!!

* Eraldo Amorim

Parece que não tem mais o que se inventar, nem o que ser reivindicado no que diz respeito aos direitos do cidadão brasileiro. No último mês de maio, um grupo de indivíduos sem ter o fazer e nem o que defender, alastrou uma idéia nada mais que intransigente e perversa na intenção de legalizar o uso da canabis sativa, a maconha.
O movimento pró-maconha tem a intenção de promover a marcha pela descriminalização em dez cidades brasileiras. Em Salvador foi suspensa por uma liminar da justiça. Em João Pessoa, capital que estava cotada para ser palco deste evento também foi impedida. O juiz de direito, André Ricardo de Carvalho Costa, fazendo uso dos seus poderes e do bom senso suspendeu a tal marcha descabida.
Uma das alegações para que seja estabelecida a legalização do consumo da maconha é que a ela causa menos mal a saúde do que o álcool e o cigarro. Outra justificativa consiste no fato de que os usuários dessa droga são tratados como criminosos e, dessa forma, mal vistos pela sociedade. Eticamente, qualquer droga, seja ela qual for legal ou ilegal (exceto os medicamentos devidamente utilizados sob prescrição médica), é um grande mal para a sociedade e para a saúde humana. Por outro lado, a Maconha está cada vez mais se popularizando entre as camadas mais elitizadas da sociedade. Cresce o número de artistas, profissionais liberais, médicos e até mesmo políticos, gente de boa reputação e destaque social que afirmam sem receio que usam ou que já experimentaram a canabis, esbanjando a falsa impressão de que fumar faz bem e que é sinônimo de status e liberdade. O que se esconde por trás desse ato é o desejo de fugir da realidade e dos problemas existenciais, uma maneira de matar a ansiedade e encontrar um refúgio para “descarregar” o estresse da vida cotidiana.
Sabe-se que antigas civilizações utilizavam a maconha como instrumento de cura e calmante, mas não se sabe efetivamente quais os efeitos terapêuticos desta erva, pois são mais de 400 substâncias existentes e suas pesquisas são inconclusivas.
Segundo o relatório da ONU, há 144 milhões de usuários espalhados pelo mundo. No Brasil, houve um crescimento no consumo dessa droga em torno de 2,8% a 7,6% entre os anos de 1987 a 1997, e o que é pior, entre os jovens de 10 a 19 anos. Estudos revelam que o consumo da maconha aumenta 56% de possibilidade de consumo de outro tipo de droga. Ou seja, é uma porta de entrada para drogas mais pesadas como a heroína, LSD, cocaína e o crack, que leva milhares de vidas à escravidão e à dependência química, num caminho muitas vezes sem volta. Muitos jovens que encontram satisfação no primeiro trago de um cigarro de maconha acabam, pelo uso contínuo, sob o domínio do vício. Sem querer fazer julgamento aos usuários da droga, a maconha é sempre uma estrada que não leva a lugar algum a não ser à destruição dos valores positivos do caráter do ser humano, tão escassos hoje em dia. Defender a legalização dessa droga, negligenciando outros direitos como educação, saúde, segurança e o direito a uma vida digna do cidadão, é uma atitude no mínimo irresponsável e inconseqüente.
Na família, os pais são os que devem estar atentos ao comportamento dos seus filhos, quais os lugares que freqüentam e com quem costumam andar, para que depois não venham a sofrer pela a omissão. O drama dos viciados é o drama de toda a família, todos sofrem. O vício das drogas conduz a distúrbios psicológicos desastrosos e é totalmente danoso à estrutura social da família e do meio na qual está inserida, a sociedade. Então, é hora de repensarmos sobre a legalização de drogas que matam pessoas mundo afora. A bebida, por exemplo, é a causa principal de assassinatos e de acidentes de trânsito.
Investir na educação dos jovens e os adultos para que defendam a vida é o melhor caminho, e não aumentar ainda mais o problema legalizando drogas que pervertem a conduta dos indivíduos. Os meios de comunicação (principal formadora de opinião), as instituições religiosas, as escolas (com seus educadores bem informados e formados), devem se unir na construção de uma sociedade mais salutar, sem violência, sem mentiras e sem mortes fúteis e inúteis. Que os jovens aprendam a valorizar a vida, ter esperança e a confiar na própria família.

* Teólogo, geógrafo e especialista em Meio Ambiente. (15 / 06 / 2008)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Educação / Documento de Aparecida, como colocá-lo em prática? (V)

Documento de Aparecida, como colocá-lo em prática (V).
* Eraldo Amorim


Diante da atual conjuntura da educação brasileira é preciso que haja verdadeira revolução no setor, haja conscientização de que não há desenvolvimento econômico e social sem educação. Tudo passa por ela, tudo converge para ela. A educação formal é o sustentáculo de uma Nação. Dela se exige muito, mas pouco, ou quase nada é feito. Atribui-se a responsabilidade aos professores que na sua maioria são despreparados ou super carregados na tarefa de educar.
Falta cobrar dos governantes a presença de um estado mais atuante e eficaz nas escolas. Mas infelizmente o que vemos é a presença da Política influenciando negativamente dentro do contexto escolar, onde assuntos sobre “politicagem” são tratados, trocas de favores são postas em prática, perseguição e apadrinhamento político dentro de um ambiente que deveria formar cidadãos capazes de levar a diante o sentimento democrático e indivíduos responsáveis nos seus deveres para com a sociedade. Mediante tal situação cabe-nos a vergonha e preocupação.
Os bispos latino-americanos ressaltam a qualidade da educação como sendo um bem inalienável, do qual todos os povos, sem distinção, têm direito. É dever do Estado a preconização deste direito, tendo como foco principal “destacar a dimensão ética e religiosa”, como diz o documento. Mas o que o documento não relata é a causa desta defasagem escolar por parte dos poderes públicos: a política neoliberal, tão em voga e presente na América Latina e caribenha. A diminuição dos recursos para setores sociais inclui também a educação, além da saúde, transporte, moradia e segurança. Necessário se faz dar maior importância e legitimação às iniciativas privadas, às escolas e universidades. Parece que a intenção é mesmo desestimular e denegrir a imagem da escola pública e incentivar as privadas. Fica claro o objetivo central do Neoliberalismo.
Quem acaba sofrendo com isso? Os pobres. Não podem pagar e sofrem com uma educação de péssima qualidade. Permanecem sem o devido suporte para desenvolverem-se como pessoas, cidadãos e muito menos como profissionais qualificados. Cada vez mais a educação de qualidade se torna privilégio de poucos.
Sobre este fato queremos aqui lembrar a importância das escolas católicas para a nossa sociedade. Entretanto, apesar de toda formação integral e evangélica, as escolas católicas privadas preparam o aluno para o mercado de trabalho, na perspectiva da concorrência no mundo capitalista e selvagem. Ou seja, vêem os seus alunos-clientes como sujeitos candidatos ao vestibular, se profissionalizando em áreas de grande influência social, mantendo assim a estrutura que não permite que o pobre galgue um status maior na sociedade. Se por um lado o documento assegura que as escolas católicas “hão de gerar solidariedade e caridade para com os mais pobres”, por outro não diz como isso pode acontecer. Não queremos com isso afirmar que isoladamente as escolas católicas podem resolver o problema da educação, ou que são culpadas pela desigualdade intelectual a qual estamos enfrentando. É fácil percebermos que o sistema educacional está cada vez mais defasado e gerando violência. Entretanto, um trabalho de parceria entre o público e o privado, na luta pela conscientização por uma política pública voltada a uma educação de qualidade é bem-vindo, além do aumento da demanda de recursos destinados a educação, objetivando amenizar a violência nas escolas e reduzir a desigualdade e exclusão social.
A educação do nosso continente pode ser resumida da seguinte maneira: estudantes de escolas públicas permanecem pobres e empregados. A realidade sócio-econômica não lhes garante outro futuro. A não ser que haja muita força de vontade, compromisso e perseverança. Os estudantes de escola privada na sua maioria são mais preparados para cursarem as melhores universidades, estudam sem precisar trabalhar e podem se tornar excelentes profissionais bem remunerados, preservando dessa forma o modelo de sociedade capitalista e desigual.

* Teólogo, Professor de Geografia.

Campina Grande, 13 de maio de 2008.

terça-feira, 29 de abril de 2008

MÃE X ABORTO

APROXIMA-SE O DIA DAS MÃES!
E O QUE É SER MÃE?

É MOMENTO PROPÍCIO PARA REPENSARMOS O VALOR DA FAMÍLIA, EM PLENO GOVERNO EM QUE O MINISTRO DA SAÚDE VEM A PÚBLICO DEFENDER A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO.
SER MÃE É UMA ATO SUPREMO, DOM DE DE DEUS, UM PRESENTE CONCEDIDO ÀQUELAS QUE SABEM AMAR E O VALOR DO AMOR.
OXALÁ ESTE DIA NÃO CHEGUE, MAS SE CHEGAR, VAMOS TODOS PERDER A GRANDEZA DA MARTENIDADE. VAMOS TER QUE ABRIR AS CADEIAS E LIBERTAR TODOS OS CRIMINOSOS, ESTUPRADORES, LADRÕES E ASSALTANTES. AFINAL, SE APOIAMOS E LEGITIMAMOS QUE UMA MÃE MATE SEU PRÓPRIO FILHO, ENTÃO MATAR UMA PESSOA QUALQUER NÃO É CRIME. ISTO É QUESTÃO DE LÓGICA!

ISABELLA, VÍTIMA DA MALDADE HUMANA

Isabella Nardoni, vítima da incensatez humana.
· Eraldo Amorim (17 / 04 / 2008)

Não vamos querer aqui arrumar um culpado pelo bárbaro crime da menina Isabella Nardone, até porque não é este o nosso propósito, a final de contas é para isto que existe o Tribunal de Justiça, os advogados, os delegados, promotores e juizes, além de uma imprensa louca por vender seus anúncios e manchetes abusivas em torno de um caso que verdadeiramente chocou o país.
A propósito, por que este caso tem causado tanta comoção, se o que mais vemos no cotidiano são crimes e mais crimes envolvendo crianças, jovens e pessoas indefesas, sem as devidas soluções? Ainda não estamos acostumados a ver sangue na TV? Criminosos a não ir para cadeia? Corruptos brincando e zombando com o dinheiro alheio, dizendo indiretamente que “o crime compensa”? O que pensar de uma sociedade que não se indigna mais com crianças morrendo, não somente sendo jogadas de um sexto andar de um prédio de classe média, mas morrendo de fome, assassinadas por balas perdidas em nossas favelas? Crianças sem escola e que são submetidas à prostituição e ao trabalho exaustivo e escravo, condenadas a viver sem perspectiva de futuro. Essas situações se tornaram rotineiras e não lhes damos a devida atenção.
O que está por trás desse alvoroço todo em cima deste caso Isabella? Será por que envolveu uma família aparentemente “normal”? O que está por trás todos nós sabemos, mas não queremos enxergar. É a loucura da modernidade, que cultua cada vez mais a incensatez da impunidade, que perdeu o valor da vida humana, ao ponto de confundir novela com realidade.
Realidade. É disso que temos medo: da realidade. Fazemos de conta que ela não existe, que tudo não passa de um filme de ficção, ou de uma novela que tem sempre um final feliz. Enfrentar a realidade, nua e crua, é disso que precisamos. Não adianta esconder o lixo, que nós mesmos criamos, embaixo do tapete. É preciso olhar o mundo em nossa volta e perceber que os valores humanos chegaram ao extremo da desvalorização. Valor humano não é questão de religião nem dogma, é racionalidade e lógica. Falta temor a Deus, sobre maldade.
O caso da menina Isabella é apenas reflexo da insensatez humana. Afirmam alguns especialistas: todos nós sofremos o descaso da falta de respeito e amor; e a família de Isabella é o retrato de milhares de famílias espalhadas pelo Brasil que enfrentam os conflitos da separação. Por isso se tornam inaceitáveis atos daquele tipo. Mas por incrível que possa parecer, com grandes exceções, a família moderna se tornou lugar de conflitos e inimizades. São as pessoas de casa que ameaçam, machucam, torturam e matam. Os filhos não ouvem os pais, os pais não respeitam mais os filhos e muito menos têm autoridade sobre eles. Os idosos são humilhados, maltratados e “despejados” em asilos como fardos pesados. Bem que Jesus nos advertiu, dizendo: “A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos se resfriará. Mas quem perseverar até o fim, será salvo” (Mt 24, 12).
Que o Senhor tenha misericórdia de nós. Tenha misericórdia da nossa falta de temor. Tenha misericórdia dos pais e mães de famílias que têm a difícil missão de educar seus filhos para o amor, para viver a fraternidade e a solidariedade, valores tão esquecidos e desprezados nos dias de hoje.
“Quem perseverar até o fim, será salvo”. É esta a nossa esperança e a esperança de tantos homens e mulheres que lutam ainda em favor da vida, da justiça e do amor. Que o anjo do Senhor, chamado Isabella, descanse em paz. Paz que tanto buscamos viver, sem saber que ela está dentro de nós.

· Teólogo, Professor de Geografia e membro da Dimensão Litúrgica da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Catedral de Campina Grande.

DOC. APARECIDA III

Documento de Aparecida. Como colocá-lo em prática? (III).
· Eraldo Amorim (18 / 4 / 2008)
Logo na primeira parte o documento expõe sobre a educação religiosa e como primeiramente a família, depois a Igreja e o Estado, deve se preocupar com a formação integral da pessoa humana, incluindo valores que a religião cristã sempre defendeu. Em tempos de globalização e de informação rápida, é mais que urgente valorizar um ambiente familiar que transmita confiabilidade e que escute mais os anseios das crianças, dos adolescentes e dos jovens. Foi isso mesmo que nos afirmou o santo padre sobre a família: “[...] patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos e caribenhos. Ele tem sido e é escola da fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e se acolhe generosa e responsavelmente... A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação de seus filhos” (§ 114).
Aos pais o documento adverte: “[...] O grande tesouro da educação dos filhos na fé consiste na experiência de uma vida familiar que recebe a fé, a conserva, a celebra, a transmite e dá testemunho dela. Os pais devem tomar nova consciência de sua alegre e irrenunciável responsabilidade na formação integral dos filhos” (§ 118). Quem trabalha com educação, os educadores em geral, sabe que a família não é mais o único espaço de formação do caráter da pessoa, os meios de informação associada a diversos outros fatores, a própria estrutura familiar moderna incluindo os sócio-econômicos, interferem na educação dos filhos e na concepção do ser família.
A mulher vem ocupando cada vez mais, de maneira legitima e bem sucedida, a sua posição no mercado de trabalho. Certamente este novo caráter feminino tem mudado a face do núcleo familiar na sociedade hodierna. Entretanto, não podemos esquivar os pais do dever de educar com responsabilidade aqueles filhos que Deus lhes confiou. Infelizmente, em muitos casos os pais empurram para outros esta tarefa extremamente difícil. A TV, os jogos de vídeos-game, a internet, a própria escola que na maioria das vezes é mal aparelhada e estruturada, se tornam subterfúgio de uma educação capenga e incompleta.
É papel também da Igreja testemunhar Jesus como Mestre e Senhor dos valores éticos, em meio a realidades altamente necessitadas. Os leigos se fazendo presentes em diversos segmentos da sociedade, podem contribuir para uma catequese renovada, uma evangelização eficaz visando a formação integral, mergulhados na realidade urbana por meio de uma pastoral capaz de abranger escolas públicas e privadas, universidades e centros de formação profissionalizantes.
Preocupa a Igreja uma formação voltada apenas a suprir as necessidades do mercado e da realização profissional, sem abranger a perspectiva da fraternidade e da solidariedade, na construção de uma sociedade mais humana que saiba partilhar valores. “[...] Na verdade, as novas formas educacionais de nosso continente, impulsionadas para se adaptar às novas exigências que se vão criando com a mudança global, aparecem centradas prioritariamente na aquisição de conhecimentos e habilidades e denotam claro reducionismo antropológico [...]. Por outro lado, com freqüência, elas propiciam a inclusão de fatores contrários à vida, à família e a uma sadia sexualidade. Dessa forma, não manifestam os melhores valores dos jovens nem seu espírito religioso; menos ainda lhes ensinam os caminhos para superar a violência e se aproximar da felicidade, nem os ajudam a levar uma vida sóbria e adquirir as atitudes, virtudes e costumes que tornariam estável o lar que venham a estabelecer,e que os converteriam em construtores solidários da paz e do futuro da sociedade” [§ 328 ]. Enfim, a educação se tornou algo mercadológico, se desvirtuando do seu real papel social. Sendo legitimada como mecanismo de uma estrutura injusta. Este fato preocupa todos nós educadores.

Documento de Aparecida II

DOCUMENTO DE APARECIDA: Como colocá-lo em prática? (II).
* Eraldo Amorim (11 / 04 / 2008)

Trilhando o nosso caminho de reflexão sobre o Documento de Aparecida, iremos perceber de fato quais os seus maiores objetivos. Não é nossa intenção de fazermos aqui um resumo sobre este, mas expor pontos chaves para podermos observar, ou melhor, termos noção, sobre os diversos assuntos que preocupam a Igreja na América Latina e Caribe.
No contexto da nova evangelização, tendo como principal aspecto a missão de todo batizado a partir do encontro com pessoal de Jesus, está presente a nova forma de entender e viver a dimensão geográfica e comunitária da paróquia, “(...) os fiéis devem experimentar a paróquia como família na fé e na caridade, onde mutuamente se acompanhem e se ajudem no seguimento de Cristo” (§ 305). Com a vida conturbada do meio cidade perdemos esta dimensão familiar e comunitária, lugar propício para o encontro com o Cristo Ressuscitado. Para isto é preciso observar e compreender a importância da Pastoral Urbana. “(...) Diante da nova realidade da cidade, novas experiências se realizam na Igreja, tais como a renovação das paróquias, setorização, novos ministérios, novas associações, grupos, comunidades e movimentos. Mas se percebem atitudes de medo em relação à pastoral urbana; tendências de se fechar em métodos antigos e a tomar atitudes de defesa da nova cultura, com sentimentos de impotência diante das grandes dificuldades das cidades” (§ 513).
Mas no Brasil, mesmo antes da V Conferência, a Igreja já vem há muito tempo refletindo sobre esta questão. O Documento de Aparecida apenas vem reforçar ou confirmar o Projeto “Queremos Ver Jesus: Caminho, Verdade e Vida”, da CNBB. Entretanto, o Documento ressalta a importância das paróquias serem revitalizadas a partir de uma “rede de comunidades”. “Destacamos que é preciso reanimar os processos de formação de pequenas comunidades no Continente, pois nelas temos uma fonte segura de vocações ao sacerdócio, à vida religiosa e à vida leiga com especial dedicação ao apostolado. Através das pequenas comunidades, também se poderia conseguir chegar aos afastados, aos indiferentes e aos que alimentam descontentamento ou ressentimento em relação à Igreja” (§ 310).
Mas algo deve nos questionar como de fato nos faz: onde estão as Comunidades Eclesiais de Base, as CEB´s, tão bem refletidas no Documento? “São elas um ambiente propício para escutar a Palavra de Deus, para viver a fraternidade, para animar na oração, para aprofundar processos de formação na fé e para fortalecer o exigente compromisso de ser apóstolos na sociedade de hoje. São lugares de experiência cristã e evangelização que, em meio à situação cultural que nos afeta, secularizada e hostil à Igreja, se fazem muito mais necessários” (§ 308).
Muitas coisas mudaram nos últimos anos, isto é notório. Aquelas CEB´s cheias de vigor e entusiasmo deram lugar a uma espiritualidade muito mais desencarnada de nossa realidade social e política. São raros aqueles grandes encontros interclesiais e efervescentes celebrações nascidas da experiência do povo. Não restam dúvidas de que um dos grandes desafios da Igreja atual é justamente rever sua maneira de realizar a missão no contexto urbano, globalizado e plural. Não podemos esquecer que a semente do cristianismo germinou em ambientes semelhantes, e que nem por isso os apóstolos recuaram na missão de evangelizar. O Documento não quer dar respostas prontas de como iremos fazer, mas nos oferece pistas de reflexão. O difícil está em abrir mão das antigas estruturas. Já passou da hora de descentralizar o poder da paróquia, e abrirmos para novas e desafiantes realidades

Documento de Aparecida - V Conferência do CELAN

DOCUMENTO DE APARECIDA: Como colocá-lo em prática?.
· Eraldo Amorim (04 / 04 / 2008)

Estudando minuciosamente o Documento de Aparecida, qualquer conhecedor da realidade da Igreja atual, perceberá que este condiz perfeitamente como se apresenta o papado de Bento XVI. As comissões que redigiram o Documento, para que depois fossem aprovados pelos Bispos, trabalharam em plena sintonia no que diz respeito ao conteúdo o qual desejaram atingir. Em alguns trechos é notória a repetição, ao ponto de se tornar cansativo a leitura, mas não deixando de apresentar novos conteúdos e assim ter seu valor.
É bom ressaltar que o Documento de Aparecida busca ser uma continuação das outras conferências episcopais do CELAM (Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo), utilizando o estimável método: Ver, Julgar e Agir. A primeira parte merece grande e valiosa atenção. É uma grande alegria ser discípulo e missionário de Jesus, diz o Documento, e faz um apanhado geral da situação atual do povo latino-americano e caribenho. A Globalização econômica, cultural e suas conseqüências; a pobreza; a concentração de renda, que juntamente com o capital financeiro e a especulação transformou o homem em simples objeto de consumo, não esquecendo também dos seus aspectos positivos e suas contribuições para melhoria de vida das pessoas; as transformações da sociedade pós-moderna; as aflições da família em especial, dos jovens; a degradação da dignidade da pessoa humana e a sua fragmentação; a pluralidade de pensamentos, inclusive religioso; a limitação da ciência e da tecnologia diante da busca existencial do homem e da mulher, são algumas das reflexões trazidas em suas primeiras páginas.
Na segunda parte em diante, fica claro a preocupação da Igreja em redefinir os seus aspectos doutrinários diante da difícil realidade. A Vocação Missionária é o ponto chave do Documento. A Igreja tem como principal missão levar Jesus – Caminho, Verdade e Vida – aos povos. Por excelência a Igreja é missionária. Hoje os discípulos de Jesus, assim como os de ontem, têm que abraçar a missão de anunciar a Boa Nova do Evangelho aos mais afastados, os sem esperança, aos que estão á beira do caminho. Para ser discípulo e missionário é preciso conhecer Jesus, fazer uma experiência com Ele, não apenas com o seu projeto, mas com a sua Pessoa mesmo. A partir desta reflexão, são traçados os caminhos pelos quais o Documento se delineia.
Como conhecer Jesus? Como fazer uma experiência com o Mestre? “[...] Jesus quer que seu discípulo se vincule a Ele como ‘amigo’ e como ‘irmão’. O ‘amigo’ ingressa em sua Vida, fazendo-a própria. O amigo escuta a Jesus, conhece ao Pai e faz fluir sua Vida (Jesus Cristo) na própria existência (cf. Jo 15, 14), marcando o relacionamento com todos (cf. Jo 15, 12). O ‘irmão’ de Jesus (cf. Jo 20, 17) participa da vida do Ressuscitado, Filho do Pai celestial, porque Jesus e seu discípulo compartilham a mesma vida que procede do Pai: o próprio Jesus por natureza (cf. Jo 5, 26; 10, 30) e o discípulo por participação (cf. Jo 10,10)” (§ 132).
A Comunidade Eclesial, o vinculo fraterno e de comunhão, pode proporcionar um encontro com a pessoa Jesus. Só quem vive uma fé comunitária, no relacionamento com o irmão de fé, é capaz de se tornar “amigo” de Jesus, e não simplesmente “servo”. Pois “o servo não sabe o que seu senhor faz” (Jo 15, 15). A comunidade dos discípulos e missionários é chamada a participar da missão evangelizadora. Os Presbíteros e os Diáconos Permanentes em comunhão com o Bispo, sinal visível do Cristo Bom Pastor na Igreja Particular, juntamente com os fiéis leigos batizados, continuam a obra de Jesus “até que Ele venha”, sob o impulso e força vivificadora do Espírito Santo.

* Teólogo, Professor de Geografia e membro da Dimensão Litúrgica da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Catedral de Campina Grande.