Trabalho Infantil, uma Vergonha Nacional
Eraldo Amorim.
No Brasil, o trabalho infantil ainda continua sendo um grande desafio social, uma mazela a ser combatida. Entra governo e sai governo, e tudo termina sem que um problema que vem deste o período do Brasil Colônia, quando crianças indígenas e africanas eram submetidas a trabalhos forçados, seja encarado de forma séria e responsável.
Devido às condições sócio-econômicas da maioria do povo brasileiro, criou-se uma falsa concepção de que começar a trabalhar cedo é sinônimo de honestidade, compromisso e de um futuro melhor. Esta afirmação tem certo teor de verdade. Quem não conhece alguém que durante a infância trabalhou para ajudar em casa e que na fase adulta tornou-se uma pessoa trabalhadora e até mesmo bem sucedida? O fato é que no passado o mercado não era tão competitivo, as exigências eram outras e o contexto social e econômico era totalmente adverso. Anos atrás a educação pública era de boa qualidade e, além disso, o adolescente podia facilmente conciliar o serviço com o seu horário escolar. Atualmente, diante de um contexto globalizado, excludente e cada vez mais exigente em que vivemos, é difícil para um jovem conciliar escola e trabalho. Salários baixos, alto custo de vida e novos objetos e formas de consumo que grande parte dos jovens consumidores não consegue acompanhar, a opção ficou restrita a uma escolha que poderá acarretar conseqüências para o resto da vida. E assim, ainda em fase de crescimento físico e psicológico, o individuo é instigado a trabalhar para ajudar a manter a casa.
São muitos os motivos pelos quais o trabalho infantil vem crescendo no Brasil, e principalmente no Nordeste. Tanto na zona rural quanto na zona urbana, o problema é preocupante. Em muitos casos os pais atravessam momentos difíceis, como por exemplo, cumprindo pena em regime fechado em presídios, encontrando-se desempregados, doentes, ou até mesmo trabalhando na economia informal para sobreviver. Os filhos são forçados a deixar a escola e entrar no mundo do trabalho, diminuindo assim uma possível ascensão social e aumentando o desinteresse pelos estudos.
Na realidade, o que se percebe é a falta de políticas públicas que impeçam crianças e adolescentes a enveredar por este caminho, que na maioria das vezes são exploradas e induzidas a realizar “trabalhos” ilícitos como a prostituição e o tráfico de drogas. Mas apenas isso não basta. Toda a sociedade tem que começar a compreender que lugar de criança é na escola, mas uma escola de qualidade, que cultive no aluno o interesse, que dê aos profissionais da educação meios e condições de acompanhar, formar, desenvolver e preparar as crianças e os adolescentes para o mercado de trabalho. Dá esmola em semáforo, comprar amendoim torrado em plena madrugada a uma criança, ou ainda engraxar sapato numa praça movimentada, não resolvem nada. O Estado, assim como a família, tem que fazer a sua parte. Não adianta também construir presídios ou casas de recuperação para menores de infratores, se não há uma mínima estrutura de readaptação à sociedade.
“A melhor escola é a vida”, diz o ditado popular. Embora esta afirmação tenha um pouco de fundamento e esteja se referindo ao ensino informal, nenhuma instituição por mais avançada que seja não substitui uma boa escola de ensino formal e familiar, estas são os alicerces do caráter, os fundamentos daqueles valores que levaremos por toda a vida. Falta o resgate da dignidade humana, valorizar mais a Escola e a Família, como lugares privilegiados de formação do cidadão e da cidadã. A Escola, principalmente a pública, tem que ser transformada em lugar atraente. O Ideal seria uma instituição que oferecesse diversas formações (profissionalizantes, artes e esporte) e o fundamental: apoio à família dos mesmos. Dando-lhes total apoio e assistência social e financeira. Assim, de fato, estaríamos combatendo o trabalho infantil e não apenas instigando discursos demagógicos que não resolvem nada.
Geógrafo, Teólogo e Especialista em Meio Ambiente (15 / 07 / 2008).
terça-feira, 22 de julho de 2008
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