CRISTÃO NO MUNDO DE HOJE.
* Eraldo Amorim
Ser cristão no mundo de hoje é o tema deste artigo, de fundamental importância para os cristãos; Mas também é uma reflexão que a Igreja vem fazendo no decorrer de sua história, levantando questões, enfrentando obstáculos e acima de tudo anunciando o evangelho mediante os tempos que lhes impõem incertezas, descrença em Deus e no próprio Homem.
O que significa ser cristão hoje? Vale a pena ser cristão? Quais os novos questionamentos que mundo moderno impõe ao ensinamento de Cristo e consequentemente ao da Igreja? Como nós, cristãos de hoje, nos posicionamos diante das novas tentativas de qualificar o cristianismo como uma mera filosofia ultrapassada? O que ainda nos faz confessar Cristo como Senhor e Fundamento da nossa fé? É uma opção pessoal, livre e consciente? Ou é apenas mais um fator cultural e externo que nos faz abraçar a fé Naquele que se diz “enviando do Pai”? São questões para a nossa reflexão e que deve nos inquietar diante de tantos desafios.
Uma vez Jesus chegou à região de Cesaréia de Filipe e perguntou aos discípulos o que o povo pensava sobre Jesus (Cf. Mt 16, 13 – 20). A resposta foi plural e por isso mesmo uma verdadeira confusão. O povo não sabia de fato quem era Jesus, não havia segurança e discernimento. Confundiam Jesus com João Batista, Elias, Jeremias “ou alguns dos profetas” do Antigo Testamento. Em seguida, Jesus perguntou aos próprios discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Hoje Jesus nos faz esta mesma pergunta. Quem é Jesus para nós? Para os não cristãos Jesus é apenas um homem admirável, um profeta que passou a vida fazendo o bem e que por isso pode ser igualado com figuras históricas da humanidade e de até com fundadores de outras filosofias religiosas orientais. Mas no interior da própria comunidade cristã encontramos muitos cristãos, homens e mulheres batizados, que pensam que Jesus não passa de um profeta, um ser simples e com grande sabedoria. E assim, tem-se o perigo de confundir Jesus como um mágico, alguém que desceu dos céus para resolver todos os nossos problemas, não assumindo assim o seu projeto de vida.
Hoje mais do que nunca precisamos redescobrir o real significado do “ser Cristão” num mundo pluralista e que nos apresenta novos deuses, novos encantos e nos distancia cada vez mais da essência do cristianismo que Jesus veio propagar. Filosofias religiosas diversas, globalização do pensamento religioso fundamentado no imediatismo, triunfalismo, individualista e longe do próximo, eis o terreno no qual o cristão está segurado e que muitas vezes se torna alheio aos problemas coletivos da sociedade; numa falsa espiritualidade que não olha em volta na intenção de ter um olhar crítico para uma mudança na estrutura que o cerca.
Não restam dúvidas de que o mundo pós-moderno nos trouxe grandes conquistas. O homem conseguiu evoluir no conhecimento científico e tecnológico. São inegáveis as contribuições da medicina para a qualidade de vida da humanidade. Não podemos esquecer do desenvolvimento nos setores de comunicação, de transporte e de produção de alimentos. Todos esses avanços foram conseguidos graças a inteligência do Homem, dávida de Deus. Mas o que vemos é uma profunda desigualdade na utilização desses recursos. Ao mesmo tempo que o Homem cria o antibiótico e descobre novos planetas, recusa dividir o que tem com os famintos e inventa a arma nuclear. Cresce cada vez mais a exploração do Homem sobre o Homem; e do Homem sobre a Natureza.
Adverte-nos o Documento de Aparecida (§ 61): “A globalização, tal como está configurada atualmente, não é capaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos que se encontram além do mercado e que constituem o mais importante da vida humana: a verdade, a justiça, o amor, e muito especialmente a dignidade e os direitos de todos, inclusive daqueles que vivem à margem do próprio mercado”. Cresce em nosso meio a concorrência entre as pessoas, denúncias de corrupção, a violência e o narcotráfico, os assaltos, seqüestros e os assassinatos se tornaram freqüentes, a fome ainda assola grande parte da população brasileira e mundial, avanços de doenças e epidemias, desestruturação familiar, hedonismo, além dos desastres ecológicos (aquecimento global, queimadas, poluição dos rios e oceanos, matança de animais, biopirataria).
Diante de todos esses problemas Jesus continua nos perguntando: “E para vós (discípulos meus) quem eu sou?”. A resposta de Pedro é reveladora e fiel: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. É uma resposta que revela a verdadeira identidade de Jesus e por isso Pedro se torna “pedra” de uma nova construção - a sua Igreja – comunidade dos convocados a construir uma nova sociedade, baseada no amor e na justiça. É para isso que serve a Igreja: dar testemunho vivo Daquele que nos redimiu, que passou a vida fazendo o bem, curando a todos os enfermos e libertando os mais necessitados.
Continuando a leitura de Mateus (21 ss), percebemos que esta missão da Igreja não acontece de qualquer maneira ou ao nosso modo de pensar. Pedro é repreendido por Jesus e por não entender a verdadeira missão é chamado de Satanás (inimigo) e de pedra de tropeço. A Igreja deve no mundo ser continuadora da missão de Jesus e por causa disso sofrer, doar a vida. “Quem quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga”. Jesus não prometeu vida fácil e triunfalismo, mas cruz – aquela que redime e salva.
A missão do discípulo de Jesus - ontem, hoje, amanhã e sempre - tem gosto de cruz. Mesmo diante de tantas dificuldades e obstáculos, em meio a tantas perseguições e indiferenças, o cristão de hoje deve ter a certeza de que Jesus não abandona aquele que ele mesmo escolheu. Recorremos novamente ao Documento de Aparecida (§ 134): “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade, ‘no aspecto mais paradoxal de seu mistério, a hora da cruz. O grito de Jesus: ‘Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes? ’ (Mc 15, 34) não revela a angústia de um desesperado, mas a oração do Filho que oferece a sua vida ao Pai no amor para a salvação de todos”.
Mediante a fé no Cristo morto e Ressuscitado, o cristão de hoje deve cultivar a esperança e lutar para que o mundo seja cada vez melhor, não perdendo de vista o ensinamento do Mestre e nem tentando viver a missão do seu jeito, numa atitude egoísta, mas buscando viver em comunhão com Deus, consigo mesmo, com a Igreja e com os irmãos, alicerçando a sua fé no único fundamento que é Cristo Jesus.
Sem medo de se misturar ao mundo como fermento na massa (Cf. Mt 13, 33), o cristão moderno dialoga com aqueles mais afastados, busca a ovelha perdida (Cf. Lc 15, 6), se integra aos assuntos da política, da economia, das artes e do esporte, não se cala diante das injustiças e não se permite ficar calado diante da dor de tantos irmãos que sofrem. A missão do cristão batizado é ser um novo Cristo na realidade histórica que o cerca, fazendo a vontade do Pai (Jo 5, 30 ; 6, 39 s).
Portanto, ser cristão não é simplesmente como torcer por um time de futebol, ou partido político, mas ser sal e luz do mundo (Mt 5, 13ss), abraçando a cruz e espalhando o amor e a paz que Cristo nos oferece. Sejamos cristãos, missionários do Senhor, para que o mundo seja melhor e que a humanidade reconheça que sem Deus é impossível caminhar e ser feliz.
Estejamos preparados para momentos difíceis na vida, sem jamais perder o ânimo e a segurança no Senhor. Como diz São Paulo, nada nos afastará do amor de Deus, nada poderá nos desviar dos seus caminhos e da sua misericórdia (Rm 8, 35ss). Mesmo que as dificuldades sejam muitas, que tentem sucumbir os valores cristãos, mesmo que morte esbanje o seu falso poder e semeie a discórdia, nunca devemos fraquejar ou desesperar. Tenhamos ânimo, força e coragem (Jo 16, 33), pois Cristo venceu. Ele é a nossa segurança e o nosso refúgio.
(Campina Grande, 30 de agosto de 2008).
* Teólogo, Geógrafo e Professor.
* Eraldo Amorim
Ser cristão no mundo de hoje é o tema deste artigo, de fundamental importância para os cristãos; Mas também é uma reflexão que a Igreja vem fazendo no decorrer de sua história, levantando questões, enfrentando obstáculos e acima de tudo anunciando o evangelho mediante os tempos que lhes impõem incertezas, descrença em Deus e no próprio Homem.
O que significa ser cristão hoje? Vale a pena ser cristão? Quais os novos questionamentos que mundo moderno impõe ao ensinamento de Cristo e consequentemente ao da Igreja? Como nós, cristãos de hoje, nos posicionamos diante das novas tentativas de qualificar o cristianismo como uma mera filosofia ultrapassada? O que ainda nos faz confessar Cristo como Senhor e Fundamento da nossa fé? É uma opção pessoal, livre e consciente? Ou é apenas mais um fator cultural e externo que nos faz abraçar a fé Naquele que se diz “enviando do Pai”? São questões para a nossa reflexão e que deve nos inquietar diante de tantos desafios.
Uma vez Jesus chegou à região de Cesaréia de Filipe e perguntou aos discípulos o que o povo pensava sobre Jesus (Cf. Mt 16, 13 – 20). A resposta foi plural e por isso mesmo uma verdadeira confusão. O povo não sabia de fato quem era Jesus, não havia segurança e discernimento. Confundiam Jesus com João Batista, Elias, Jeremias “ou alguns dos profetas” do Antigo Testamento. Em seguida, Jesus perguntou aos próprios discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Hoje Jesus nos faz esta mesma pergunta. Quem é Jesus para nós? Para os não cristãos Jesus é apenas um homem admirável, um profeta que passou a vida fazendo o bem e que por isso pode ser igualado com figuras históricas da humanidade e de até com fundadores de outras filosofias religiosas orientais. Mas no interior da própria comunidade cristã encontramos muitos cristãos, homens e mulheres batizados, que pensam que Jesus não passa de um profeta, um ser simples e com grande sabedoria. E assim, tem-se o perigo de confundir Jesus como um mágico, alguém que desceu dos céus para resolver todos os nossos problemas, não assumindo assim o seu projeto de vida.
Hoje mais do que nunca precisamos redescobrir o real significado do “ser Cristão” num mundo pluralista e que nos apresenta novos deuses, novos encantos e nos distancia cada vez mais da essência do cristianismo que Jesus veio propagar. Filosofias religiosas diversas, globalização do pensamento religioso fundamentado no imediatismo, triunfalismo, individualista e longe do próximo, eis o terreno no qual o cristão está segurado e que muitas vezes se torna alheio aos problemas coletivos da sociedade; numa falsa espiritualidade que não olha em volta na intenção de ter um olhar crítico para uma mudança na estrutura que o cerca.
Não restam dúvidas de que o mundo pós-moderno nos trouxe grandes conquistas. O homem conseguiu evoluir no conhecimento científico e tecnológico. São inegáveis as contribuições da medicina para a qualidade de vida da humanidade. Não podemos esquecer do desenvolvimento nos setores de comunicação, de transporte e de produção de alimentos. Todos esses avanços foram conseguidos graças a inteligência do Homem, dávida de Deus. Mas o que vemos é uma profunda desigualdade na utilização desses recursos. Ao mesmo tempo que o Homem cria o antibiótico e descobre novos planetas, recusa dividir o que tem com os famintos e inventa a arma nuclear. Cresce cada vez mais a exploração do Homem sobre o Homem; e do Homem sobre a Natureza.
Adverte-nos o Documento de Aparecida (§ 61): “A globalização, tal como está configurada atualmente, não é capaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos que se encontram além do mercado e que constituem o mais importante da vida humana: a verdade, a justiça, o amor, e muito especialmente a dignidade e os direitos de todos, inclusive daqueles que vivem à margem do próprio mercado”. Cresce em nosso meio a concorrência entre as pessoas, denúncias de corrupção, a violência e o narcotráfico, os assaltos, seqüestros e os assassinatos se tornaram freqüentes, a fome ainda assola grande parte da população brasileira e mundial, avanços de doenças e epidemias, desestruturação familiar, hedonismo, além dos desastres ecológicos (aquecimento global, queimadas, poluição dos rios e oceanos, matança de animais, biopirataria).
Diante de todos esses problemas Jesus continua nos perguntando: “E para vós (discípulos meus) quem eu sou?”. A resposta de Pedro é reveladora e fiel: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. É uma resposta que revela a verdadeira identidade de Jesus e por isso Pedro se torna “pedra” de uma nova construção - a sua Igreja – comunidade dos convocados a construir uma nova sociedade, baseada no amor e na justiça. É para isso que serve a Igreja: dar testemunho vivo Daquele que nos redimiu, que passou a vida fazendo o bem, curando a todos os enfermos e libertando os mais necessitados.
Continuando a leitura de Mateus (21 ss), percebemos que esta missão da Igreja não acontece de qualquer maneira ou ao nosso modo de pensar. Pedro é repreendido por Jesus e por não entender a verdadeira missão é chamado de Satanás (inimigo) e de pedra de tropeço. A Igreja deve no mundo ser continuadora da missão de Jesus e por causa disso sofrer, doar a vida. “Quem quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga”. Jesus não prometeu vida fácil e triunfalismo, mas cruz – aquela que redime e salva.
A missão do discípulo de Jesus - ontem, hoje, amanhã e sempre - tem gosto de cruz. Mesmo diante de tantas dificuldades e obstáculos, em meio a tantas perseguições e indiferenças, o cristão de hoje deve ter a certeza de que Jesus não abandona aquele que ele mesmo escolheu. Recorremos novamente ao Documento de Aparecida (§ 134): “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade, ‘no aspecto mais paradoxal de seu mistério, a hora da cruz. O grito de Jesus: ‘Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes? ’ (Mc 15, 34) não revela a angústia de um desesperado, mas a oração do Filho que oferece a sua vida ao Pai no amor para a salvação de todos”.
Mediante a fé no Cristo morto e Ressuscitado, o cristão de hoje deve cultivar a esperança e lutar para que o mundo seja cada vez melhor, não perdendo de vista o ensinamento do Mestre e nem tentando viver a missão do seu jeito, numa atitude egoísta, mas buscando viver em comunhão com Deus, consigo mesmo, com a Igreja e com os irmãos, alicerçando a sua fé no único fundamento que é Cristo Jesus.
Sem medo de se misturar ao mundo como fermento na massa (Cf. Mt 13, 33), o cristão moderno dialoga com aqueles mais afastados, busca a ovelha perdida (Cf. Lc 15, 6), se integra aos assuntos da política, da economia, das artes e do esporte, não se cala diante das injustiças e não se permite ficar calado diante da dor de tantos irmãos que sofrem. A missão do cristão batizado é ser um novo Cristo na realidade histórica que o cerca, fazendo a vontade do Pai (Jo 5, 30 ; 6, 39 s).
Portanto, ser cristão não é simplesmente como torcer por um time de futebol, ou partido político, mas ser sal e luz do mundo (Mt 5, 13ss), abraçando a cruz e espalhando o amor e a paz que Cristo nos oferece. Sejamos cristãos, missionários do Senhor, para que o mundo seja melhor e que a humanidade reconheça que sem Deus é impossível caminhar e ser feliz.
Estejamos preparados para momentos difíceis na vida, sem jamais perder o ânimo e a segurança no Senhor. Como diz São Paulo, nada nos afastará do amor de Deus, nada poderá nos desviar dos seus caminhos e da sua misericórdia (Rm 8, 35ss). Mesmo que as dificuldades sejam muitas, que tentem sucumbir os valores cristãos, mesmo que morte esbanje o seu falso poder e semeie a discórdia, nunca devemos fraquejar ou desesperar. Tenhamos ânimo, força e coragem (Jo 16, 33), pois Cristo venceu. Ele é a nossa segurança e o nosso refúgio.
(Campina Grande, 30 de agosto de 2008).
* Teólogo, Geógrafo e Professor.
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