terça-feira, 29 de abril de 2008

Documento de Aparecida - V Conferência do CELAN

DOCUMENTO DE APARECIDA: Como colocá-lo em prática?.
· Eraldo Amorim (04 / 04 / 2008)

Estudando minuciosamente o Documento de Aparecida, qualquer conhecedor da realidade da Igreja atual, perceberá que este condiz perfeitamente como se apresenta o papado de Bento XVI. As comissões que redigiram o Documento, para que depois fossem aprovados pelos Bispos, trabalharam em plena sintonia no que diz respeito ao conteúdo o qual desejaram atingir. Em alguns trechos é notória a repetição, ao ponto de se tornar cansativo a leitura, mas não deixando de apresentar novos conteúdos e assim ter seu valor.
É bom ressaltar que o Documento de Aparecida busca ser uma continuação das outras conferências episcopais do CELAM (Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo), utilizando o estimável método: Ver, Julgar e Agir. A primeira parte merece grande e valiosa atenção. É uma grande alegria ser discípulo e missionário de Jesus, diz o Documento, e faz um apanhado geral da situação atual do povo latino-americano e caribenho. A Globalização econômica, cultural e suas conseqüências; a pobreza; a concentração de renda, que juntamente com o capital financeiro e a especulação transformou o homem em simples objeto de consumo, não esquecendo também dos seus aspectos positivos e suas contribuições para melhoria de vida das pessoas; as transformações da sociedade pós-moderna; as aflições da família em especial, dos jovens; a degradação da dignidade da pessoa humana e a sua fragmentação; a pluralidade de pensamentos, inclusive religioso; a limitação da ciência e da tecnologia diante da busca existencial do homem e da mulher, são algumas das reflexões trazidas em suas primeiras páginas.
Na segunda parte em diante, fica claro a preocupação da Igreja em redefinir os seus aspectos doutrinários diante da difícil realidade. A Vocação Missionária é o ponto chave do Documento. A Igreja tem como principal missão levar Jesus – Caminho, Verdade e Vida – aos povos. Por excelência a Igreja é missionária. Hoje os discípulos de Jesus, assim como os de ontem, têm que abraçar a missão de anunciar a Boa Nova do Evangelho aos mais afastados, os sem esperança, aos que estão á beira do caminho. Para ser discípulo e missionário é preciso conhecer Jesus, fazer uma experiência com Ele, não apenas com o seu projeto, mas com a sua Pessoa mesmo. A partir desta reflexão, são traçados os caminhos pelos quais o Documento se delineia.
Como conhecer Jesus? Como fazer uma experiência com o Mestre? “[...] Jesus quer que seu discípulo se vincule a Ele como ‘amigo’ e como ‘irmão’. O ‘amigo’ ingressa em sua Vida, fazendo-a própria. O amigo escuta a Jesus, conhece ao Pai e faz fluir sua Vida (Jesus Cristo) na própria existência (cf. Jo 15, 14), marcando o relacionamento com todos (cf. Jo 15, 12). O ‘irmão’ de Jesus (cf. Jo 20, 17) participa da vida do Ressuscitado, Filho do Pai celestial, porque Jesus e seu discípulo compartilham a mesma vida que procede do Pai: o próprio Jesus por natureza (cf. Jo 5, 26; 10, 30) e o discípulo por participação (cf. Jo 10,10)” (§ 132).
A Comunidade Eclesial, o vinculo fraterno e de comunhão, pode proporcionar um encontro com a pessoa Jesus. Só quem vive uma fé comunitária, no relacionamento com o irmão de fé, é capaz de se tornar “amigo” de Jesus, e não simplesmente “servo”. Pois “o servo não sabe o que seu senhor faz” (Jo 15, 15). A comunidade dos discípulos e missionários é chamada a participar da missão evangelizadora. Os Presbíteros e os Diáconos Permanentes em comunhão com o Bispo, sinal visível do Cristo Bom Pastor na Igreja Particular, juntamente com os fiéis leigos batizados, continuam a obra de Jesus “até que Ele venha”, sob o impulso e força vivificadora do Espírito Santo.

* Teólogo, Professor de Geografia e membro da Dimensão Litúrgica da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Catedral de Campina Grande.

Nenhum comentário: